Cotidiano

Professora diz estar depressiva por assédio moral em escolas municipais

Lucelia Matias dos Santos acredita ser perseguida por discordar de gestoras em algumas situações e também acusou a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de não prosseguir com suas denúncias

Afastada da sala de aula há mais de um mês após ser diagnosticada com depressão, a professora Lucelia Matias dos Santos disse que o problema foi causado pelos supostos episódios de assédio moral que sofreu nas duas últimas escolas municipais onde trabalhou. A profissional de 44 anos, que acredita ser perseguida por discordar de gestoras em algumas situações, também acusou a Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Smec) de não prosseguir com suas denúncias. Procurada, a pasta não comentou o assunto até a publicação da reportagem.

“Sempre fui profissional, mas de uns tempos pra cá venho aguentando muita coisa de alguns gestores e a Smec é conivente com tudo o que acontece. Quando a gente vai denunciar, a ouvidoria ouve, mas ela arquiva”, criticou a profissional, formada em Pedagogia e Letras Espanhol, com pós-graduação em Libras.

Lucélia contou que, na época em que trabalhou na escola Darcy Ribeiro, a gestão da unidade a excluiu da lista dos beneficiários do Prêmio Referência em Gestão Escolar Delacir de Melo Lima. Sobre a passagem pela escola Maria Gertrudes Mota de Lima, a profissional lembrou que a diretoria “fez um monte de relatórios em menos de um mês” lhe imputando diversas acusações, incluindo xenofobia contra um aluno venezuelano. “É mentira, eles não provam”, disse, chamando ainda a gestora “prepotente”.

Por causa da suposta xenofobia, na quarta-feira (20), a professora foi notificada de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD), o terceiro desde que começou a trabalhar na rede municipal de ensino. Ela contou que passou a noite em claro após a notificação.

Lucélia contou ainda que uma das discussões travadas na escola Maria Gertrudes foi em torno do limite de fotocópias, de 30 folhas por mês. “Ela disse que não podia liberar xerox. Eu tinha 60 alunos quando eu estava em sala de aula, 30 pela manhã e 30 pela tarde. Tem muitos alunos que não são alfabetizados, mesmo no quinto ano, e você tem a incumbência para realizar um trabalho de modo que aquele aluno seja letrado. E a gente ia buscar recurso na coordenação e sempre recebíamos ‘não’”, lembrou. “Daí começou a perseguição, dedo na cara, batendo na mesa”.

Por conta da “perseguição” que alega sofrer, Lucélia revelou que já pensou até em pedir exoneração da Smec, abrindo mão do contrato de Magistério de 2006 e outro de pedagoga de 2013. Mas mudou de ideia porque não teria como sustentar a única filha, de seis anos de idade. “Faço de tudo pra criá-la sozinha. Ultimamente, ela tem me visto desse jeito e ela também está com ansiedade, ela só dorme quando eu vou dormir. Ela chora do meu lado. Isso não é bom pra ela”, lamentou.

A Folha teve acesso ao laudo médico sobre o quadro clínico da professora. O documento mostra que ela tem transtorno depressivo, ansioso e estresse de difícil controle. Os sintomas da paciente, submetida a tratamento no Caps 3 (Centro de Atenção Psicossocial), são: insônia, impaciência, falta de ar, taquicardia, dificuldade em memória e tristeza com choro fácil. Para amenizar os sintomas, Lucélia recebeu indicação para tratamento contínuo a base de antidepressivos, além de atividade física para combater a doença.


Laudo da professora Lucélia Matias dos Santos (Foto: Divulgação)