Cotidiano

Roda de conversa discute automedicação na pandemia nesta quinta-feira

Esse comportamento poderá trazer problemas para a saúde pública no futuro

O Brasil é o país que possui o maior índice de automedicação no mundo, conforme o Conselho Federal de Farmácia (CFF), ultrapassando 70% da população. E se isso já é considerado cultural entre os brasileiros, muito antes da pandemia da Covid-19, a situação só piorou. Para discutir esse aumento do uso incorreto de medicamentos pela população, o Centro Universitário Estácio da Amazônia realiza, nesta quinta-feira (28), uma roda de conversa com alunos dos cursos de Biomedicina e Farmácia.

Segundo a coordenadora do curso de Farmácia, professora Iara Luna de Souza, esse comportamento poderá trazer problemas para a saúde pública no futuro. Ela menciona o uso exacerbado de antibióticos observado na pandemia, principalmente, da azitromicina, o que deve causar resistência bacteriana. 

“O uso desse medicamento foi feito de forma incorreta e daqui a uns anos, a gente vai ter bactérias muito mais resistentes aos tratamentos que a gente tem na atualidade. Isso vai ser se tornando um problema para a população, porque quando a gente tiver doenças causadas pelas bactérias, a gente não vai ter como controlar mais, porque já estarão resistentes justamente pelo uso indevido que foi feito nessa época de pandemia, principalmente”, explica.

Outro alerta da coordenadora é com relação às vitaminas. Segundo Iana, não é correto esse “falso pensamento de que vitamina, em excesso, é sempre bom”. “Nós temos um nível médio de uso de vitamina pelo nosso organismo. Da mesma forma que faz mal ter pouca vitamina, o excesso também pode causar problemas para os indivíduos. Então, essas alterações vitamínicas, estão aí, trazendo alguns riscos também para os pacientes”, alerta.

Outro ponto ressaltado por ela diz respeito às complicações causadas por interações de medicamentos. “Às vezes, você utiliza um outro medicamento para alguma doença crônica e, do nada, começa a utilizar um remédio que não foi prescrito por profissionais, e esse medicamento pode interferir no medicamento que você já utilizava”, explica, lembrando que é possível ter essa interação medicamentosa também com alimentos e com as plantas medicinais.

Por fim, existe ainda o risco renal e o risco de toxicidade. “Existe uma quantificação de dados de intoxicação no Brasil, que é feita pelo Ministério de Saúde, e mostra que o que mais intoxica o brasileiro é o uso de medicamentos. Não é, por exemplo, um contato com produtos químicos. Não é ingestão, por exemplo, de bebida. É o uso incorreto de medicamento”, destaca.

DEBATE

A proposta dos cursos da Estácio é conscientizar os futuros profissionais da área de Saúde a discutir essa questão ainda na faculdade e também com a população ao seu redor. “A nossa população tem uma falha muito grande de compreender essa questão. As pessoas utilizam de forma errada os medicamentos, porque não entendem o risco que estão correndo, porque não sabem que não poderia ser feito dessa forma”, observa.

A professora reconhece que esse trabalho não trará resultado a curto prazo, mas com a participação dos futuros profissionais da área é possível alcançar uma mudança de cultura do brasileiro sobre a automedicação. 

“Não é fácil mudar uma cultura da população brasileira. Mas se conseguir cultivar isso nos nossos alunos para que eles possam fazer pequenas mudanças na população ao seu redor; a gente vai conseguir espalhar esse conhecimento e levar mais informações sobre a necessidade de ter profissionais prescrevendo de forma correta, e não utilizar medicamentos se não for necessário. Assim a gente faz um pacto de longa escala; é um trabalho de formiguinha para espalhar todo esse conhecimento”, conclui.