Cotidiano

Roraima completa 31 anos trazendo esperança para muitos imigrantes

Haitianos e venezuelanos, que são o maior grupo migrante, conseguiram se estabelecer no estado e trabalham ajudando a desenvolver a economia

RODRIGO SANTANA

Editoria de cidades

Um dos pontos mais interessantes a ser destacado na trajetória desses 31 anos do estado de Roraima é o acolhimento feito aos imigrantes de várias nacionalidades. A vinda de pessoas de outros países para Roraima se intensificou em 2010, com a chegada dos haitianos, vítimas de uma catástrofe natural que destruiu o país. 

O Haitiano Joseph Baneus, que vive há dois anos em Roraima, diz que foi aqui onde ele encontrou tranquilidade para viver depois de ter enfrentado muitas dificuldades no país de origem. Ele trabalha com a venda de picolés nas ruas de Boa Vista e se sente grato por viver em Roraima.

“Enfrentei muitos desafios desde que meu país foi pego de surpresa por um terremoto. Vivi um momento de muito sofrimento junto com a família por conta da fome. Antes de vir para Roraima, fiquei um tempo na Venezuela, mas nada comparado com a realidade daqui, por ser um lugar seguro”, disse.

Mesmo com uma vida simples, cheia de dificuldades pela frente, Baneus segue sua rotina confiante com o futuro. Ele confessou que sonha em um dia voltar para o Haiti, lugar que guarda com carinho no coração.

“O nosso país ainda está em reconstrução e por esse motivo tive que sair de lá. Mas apesar de estar longe, sempre me lembro dos bons momentos que passei lá. Eu acredito que um dia ainda irei voltar. Mas também terei saudades daqui, porque foi o lugar que me acolheu”, comentou. 

Os imigrantes de nacionalidade venezuelana também vêm enfrentando dificuldades desde 2015, quando passaram a sair do país de naturalidade e migrar para outros lugares. Muitos vieram parar em Roraima, em busca de qualidade de vida.

É o caso de Rosemary Rodriguez, que trabalha como caixa de uma panificadora no Bairro dos Estados. Ele chegou no início deste ano, após receber o convite de um primo que já vivia no estado.

“Confesso que não foi fácil tomar essa decisão, mas diante de tantas dificuldades no meu país precisei refazer minha vida. Hoje eu tenho um bom trabalho e fui bem acolhida pelo meu patrão. Eu agradeço muito a Deus por estar aqui nesse estado”, confessou.

Ela disse que tem muitos projetos para o futuro, mas preferiu não entrar em detalhes sobre o assunto. Comentou apenas que pretende ficar por aqui mesmo, por ser um local promissor.

“Esse estado é um local de oportunidades. Com o apoio do meu primo, consegui me estabelecer aqui e hoje vivo bem melhor do que na Venezuela. Estou me organizando aos poucos para realizar meus sonhos”, disse. 

Chegada de imigrantes contribuiu com melhora da economia local

Porta-voz da Acnur no Brasil, Fernando Godinho afirma que 28% dos imigrantes estão formalmente empregados (Foto: Arquivo pessoal)

Apesar dos inúmeros problemas ocasionados pela imigração em Roraima, a chegada de pessoas de outras nacionalidades ao estado também tem contribuído de maneira positiva para o desenvolvimento devido ao aumento da mão de obra e do mercado consumidor. 

Conforme dados do Conselho Nacional de Imigração (CNIg), praticamente um em cada três imigrantes que chega a Roraima (32%) tem curso superior completo ou pós-graduação, enquanto três em cada quatro (78%) chegam com nível médio completo.

O porta voz das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) no Brasil, Luiz Fernando Godinho, explica que mesmo alguns possuindo nível superior, ocupam cargos que não condizem com o grau de instrução. 

“Nesse fluxo de refugiados imigrantes, temos uma população diversificada em termos de capacidades de formação. Uma parte traz uma boa bagagem profissional”, lembrou.

Godinho informou ainda que entre os que trabalham, 51% recebem menos de um salário mínimo e 28% estão formalmente empregados. Muitos enviam ajuda financeira aos familiares que estão na Venezuela.

“O imigrante acaba exercendo um papel importante na economia. Porque além de ocupar uma vaga de trabalho, também se torna um potencial consumidor. Existem aqueles que acabam abrindo o próprio negócio”, disse. (R.S)