Cotidiano

Roraima perdeu metade de sua superfície de água em 25 anos

Área perdida equivale a mais 317 mil campos de futebol ou o dobro da área do Município de São Luiz

Roraima foi o Estado amazônico que mais perdeu superfície de água em 25 anos. A informação consta no último levantamento anual divulgado pelo MapBiomas nesta segunda-feira (5), data em que é celebrado o Dia da Amazônia.

Entre 1996 e 2021, o Estado sofreu uma redução de 53% de sua água, pela perda de 317.301 hectares, o que equivale a mais de 317 mil campos de futebol ou o dobro da área do Município de São Luiz, o menor de Roraima.


Gráfico mostra queda da área de superfície aquática de Roraima (Foto: Reprodução)

Atualmente, Roraima possui 297.293 hectares de superfície aquática. Há 25 anos, o Estado possuía 607.133 hectares, correspondentes a mais de 600 mil campos de futebol ou pouco mais da área total da capital Boa Vista.

A superfície aquática roraimense, junto com a amapaense, representa apenas 2,8% na Amazônia. Os estados com as maiores superfícies são Amazonas (44,3%) e Pará (39,9%), onde ficam grandes bacias hidrográficas, como dos rios Amazonas e Tapajós.

Outros números na Amazônia

De 1985 a 2021, a Amazônia perdeu 12% da sua área de floresta. Isso significa uma perda líquida de floresta de 44 milhões de hectares, equivalente a dez vezes a área de todo o Estado do Rio de Janeiro. Até o ano passado, a área de floresta ocupava 78,7% do bioma.

O MapBiomas também avaliou o que aconteceu com as áreas desmatadas: entre 1985 e 2021, 44,5 milhões de hectares de vegetação nativa – que incluem formações florestal, savânica e campestre, áreas úmidas e mangue – foram convertidos para agropecuária. Em 2021, essa atividade ocupava 15% do bioma, constituindo-se como seu principal vetor de desmatamento. Nos últimos 37 anos, as pastagens triplicaram, passando a ocupar 13% do bioma. De todos os nove estados da Amazônia, o mais afetado foi o Pará: 35,2% das florestas do estado foram convertidas em áreas de agricultura ou pastagem.

“O atual modelo de desenvolvimento econômico, baseado na conversão descontrolada de áreas de vegetação natural, coloca o Brasil frente a graves problemas no atual cenário de mudanças do clima”, explica Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas. “Não se trata apenas de implementar ações de comando e controle: o Brasil precisa de políticas públicas e modelos de negócio que compatibilizem a conservação dos biomas com o desenvolvimento do país ao mesmo tempo em que cooperam com o enfrentamento da crise climática”, completou.

Outro ponto de atenção é o avanço do garimpo. Em 2021, a atividade respondeu por três em cada quatro hectares (74%) mapeados como mineração na Amazônia. Dos pouco mais de 217 mil hectares de área minerada no bioma, 64% foram mapeados no Pará. Em Roraima, por sua vez, foram mapeados apenas 0,72%.

O Pará é também o que registrou maior expansão urbana nos últimos 37 anos. Em toda a Amazônia, as áreas urbanas continuam se expandindo e já ocupavam 339 mil hectares no ano passado.

O MapBiomas também avaliou as mudanças nas coberturas naturais não-florestais da Amazônia. Em 2021, 3,7% do bioma (15,7 milhões de hectares) eram de formações não-florestais, e outros 2,7% de corpos d’água (11,4 milhões de hectares). O levantamento mostra ainda que apenas 1% da cobertura vegetal natural da Amazônia em 2021 era de formação savânica ou mangue.

“Esses ecossistemas são relevantes do ponto de vista biológico, social e econômico e estão sob forte pressão antrópica, que se soma aos crescentes riscos impostos pela crise climática. Estão também fora do radar do monitoramento. O MapBiomas permitiu entender a extensão e as mudanças nestas áreas”, reforça Carlos Souza Junior, cientista que coordena o mapeamento do bioma Amazônia.

Amazonas, Pará e Mato Grosso, os três maiores estados do bioma, são os que detêm maior área florestal. Juntos, eles respondem por 81% das florestas da Amazônia. As formações savânicas, por sua vez, ocupavam dois milhões de hectares em 2021, ficando concentradas principalmente nos estados de Mato Grosso, Pará e Rondônia, que juntos detêm 87% do total. Entre 1985 e 2021, aproximadamente um milhões de hectares de savana foram convertidos para uso agropecuário.

Pouco mais da metade (54,3%) das áreas florestais remanescentes estão em áreas legalmente protegidas, como terras indígenas e unidades de conservação (exceto área de proteção ambiental) – percentual semelhante ao das formações campestres que estão dentro de áreas protegidas (58,7%).

Quando se considera toda a vegetação nativa do bioma, florestal ou não, nota-se que 4% (12,8 milhões de hectares) eram de vegetação secundária em 2020, ou seja, já foram desmatadas pelo menos uma vez.

“Os recentes recordes de desmatamento e de queimadas comprovam que a Amazônia não está protegida. É importante ressaltar que não se trata apenas de desmatamento: parte da floresta remanescente está degradada. Esse processo coloca a floresta mais perto do ponto de inflexão a partir do qual ela entra em colapso”, alerta Luis Oliveira Junior, que integra a equipe Amazônia do MapBiomas.