Cotidiano

Roraima planta mais algodão e a expectativa é de safra recorde

Os produtores roraimenses devem aumentar em 150% a área plantada com algodão na safra 2019/20. Caso a previsão da Cooperativa Grão Norte se confirme, o Estado deve semear 5 mil hectares e bater um novo recorde na produção.

A perspectiva de aumento é por conta da adesão de outros cinco novos produtores roraimenses e uma previsão de 20 a 25 mil toneladas de algodão na colheita. Outra boa novidade é que a procura internacional pelo algodão brasileiro aumentou o interesse dos produtores locais nesta nova cultura. 

Em Roraima, embora ainda pequena, a produção do ‘ouro branco’, como já começa a ser chamado o algodão brasileiro, se destaca entre os melhores do Brasil. 

Este ano, durante o período das chuvas, não houve plantio da cultura e a safra está sendo preparada para iniciar no próximo mês, quando encerra a colheita da soja e inicia o plantio em uma área de aproximadamente 2 mil hectares, aproveitando o solo já corrigido e a irrigação já existente. 

Segundo o presidente da Cooperativa Grão Norte, Afrânio Weber, apesar de ser uma cultura que tem boa produtividade, o aumento de área plantada está sendo lento por conta dos altos custos de adubação e o conhecimento para o plantio. 

“Ainda estamos em planejamento, mas devemos ultrapassar os quatro ou cinco mil hectares de área plantada no próximo ano. Para 2020, já seremos pelos menos mais cinco produtores que vão iniciar a plantação antes das chuvas e, aos poucos, vão percebendo que é vantajoso plantar algodão, mesmo com os altos custos. Há um investimento na irrigação para o plantio da soja e depois fazemos apenas uma correção no solo”, disse.

O presidente da Cooperativa explicou ainda que, em 2018, somente duas fazendas dos municípios de Alto Alegre e Bonfim plantaram 1100 hectares de algodão, produzindo 4.400 toneladas. “Sendo que deste montante 40% vira pluma de algodão, que chega a 1.700 toneladas, e rendeu uma média de R$ 17 milhões aos produtores de Roraima”, disse.  

Além da pluma de algodão, o caroço também é aproveitado e vendido para produção de ração animal, óleo biodiesel e indústria de cosméticos. Das 4.400 toneladas de algodão produzidas, 2.700 são de caroço, que rendeu aproximadamente R$ 1,3 milhão.   

“Uma parte do caroço foi direcionada para a produção de ração para o gado, aqui mesmo no Estado, mas em pequena quantidade, já que ainda é pouco utilizado. A maior parte foi vendida para o Ceará, que transforma em ração e outras utilidades”, disse.

Produtores precisam superar dificuldades para melhorar produção

O produtor Afrânio Weber, presidente da Cooperativa Grão Norte e principal plantador da nova cultura em Roraima, disse em entrevista para a Folha que a maior dificuldade de quem planta algodão é a correção do solo, que precisa de nutrientes e tem que ser fortalecido com fósforo, magnésio, potássio, cálcio, enxofre e nitrogênio. “Tudo isso custa caro, mas fica com o nível apropriado. E como fator positivo, o solo de Roraima não apresenta elementos tóxicos como alumínio e ferro, que prejudicam na produção”, afirmou. 

Ele destaca ainda as condições climáticas do estado, que também são favoráveis para o plantio. “Aqui temos duas horas a mais de sol por dia em relação ao restante do país”, afirma. “Isso faz com que a produção do algodão se desenvolva melhor”, disse. “É mais uma alternativa bem rentável para os produtores de Roraima. A soja o milho, feijão, arroz e a pecuária e agora o algodão é mais alternativa, e com reconhecimento do produto já em nível nacional e internacional”. Afrânio Weber citou três dificuldades que ainda precisam ser superadas para melhorar a produção no Estado: a parte financeira para iniciar a lavoura, a logística para aquisição de produtos para correção do solo e o conhecimento técnico. 

“Ainda não temos um agente financiador e isso pesa no bolso, embora o Banco da Amazônia esteja se propondo a financiar”.

Outro ponto destacado pelo produtor é quanto ao aperfeiçoamento técnico para a produção, já que não há acompanhamento técnico no Estado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que não dispõe de pessoal capacitado na cultura, fato confirmado pela assessoria da Embrapa.   

“Não estamos produzindo mais pela falta de conhecimento técnico, já que estamos no início, mas para isso estamos contratando técnicos da Bahia para nos assessorar e dar apoio técnico de ponta para melhorar nossa produção”, disse. (R.R)

Algodão tem venda garantida no mercado


– Roraima tem mercado garantido do algodão para o Ceará e São Paulo, mas já chegou a exportar a pluma para o Egito (Foto: Divulgação)

Produzir algodão em Roraima tem altos custos, porém os produtores têm mercado garantido para o Ceará e São Paulo, que são os principais compradores do algodão do Estado. Mas Roraima já chegou a exportar a pluma para o Egito, com rendimento médio de 38%. Já o caroço foi processado para ração no próprio estado.

“Quando colocamos o produto no mercado eles já correm na frente e compram pela ótima qualidade. Quando vamos plantar a lavoura as empresas já garantem o preço. Por exemplo, vamos plantar em agosto e vender em janeiro e já temos contrato assinado para ser entregue nesta data”, disse o produtor Afrânio Weber.   

Ele afirmou que o algodão produzido em Roraima é um dos melhores do Brasil, embora o estado ainda não esteja na escala de classificação. 

“Nosso algodão é similar ao plantado na Bahia e outros pontos do Nordeste, que é de excelente qualidade, e para estar numa classificação ainda temos que nos fortalecer, criar uma associação de produtores e filiar a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa)”, disse. (R.R)