Cotidiano

Roraima registra aumento de 154 partos prematuros em 2019

Audiência na Câmara Municipal discutiu a os custos da prematuridade e o papel da rede de saúde municipal na prevenção e no cuidado à prematuridade

AYAN ARIEL

Editoria de Cidades

Entre os meses de janeiro e outubro deste ano, foram registrados no Hospital Materno Infantil (HMI) mais de 1.381 partos prematuros, o que representa 14,22% dos nascimentos na maternidade em 2019. Em 2018, no mesmo período, esse total era de 1.227, significando 14,23% do total de partos daquele ano. Cada dia de internação de um bebê prematuro custa em média R$ 934, segundo levantamento da Santa Casa de Misericórdia de Mato Grosso. Com isso, em Roraima teriam sido gastos mais de R$ 1,2 milhão por dia com os bebês prematuros. 

Para discutir esses altos índices registrados em Roraima, foi realizada nessa quinta-feira (21) uma audiência pública para tratar sobre a prevenção e o cuidado integral do bebê prematuro na rede de saúde. A solenidade foi convocada pela vereadora Miriam Reis (PHS), a pedido da ONG Prematuridade.com. Ela falou para nossa equipe sobre a importância de se discutir o assunto no âmbito municipal.

“Esse é assunto que muitas pessoas não sabem ou não conhecem e talvez seja até mesmo por isso que existe esse alto índice de crianças prematuras no município e no Estado. Conversando com as meninas da ONG, decidimos trazer essa temática para a Câmara Municipal, buscando chamar atenção da população, porque aqui é a casa do povo”, destacou a vereadora.

Miriam explicou que, a partir do que foi discutido nesse debate, abre-se a possibilidade de surgir novas ideias de projetos dentro do plenário municipal, além da criação do dia municipal da prevenção a prematuridade. Ela também acredita ser necessário que haja uma gestão compartilhada entre os governos estadual e municipal em relação à temática.

“A partir do momento que o bebê prematuro sai da maternidade, ele precisa de um acompanhamento feito pela saúde municipal, por meio de fonoaudiólogo, fisioterapeuta, além de outros profissionais. Então é realmente necessário que o município agilize esses atendimentos para que as mãezinhas tenham onde buscar uma continuidade. É claro que esse acompanhamento já existe no Hospital da Criança Santo Antônio (HCSA), mas ele precisa ser ampliado para o resto da rede municipal”, analisou Miriam.

ONG Prematuridade.com solicitou o encontro na Câmara dos Vereadores para discutir o tema (Foto: Diane Sampaio/Folha BV)

Instituição que solicitou a audiência, a ONG Prematuridade.com, funciona há cinco anos no Brasil, buscando dar luz à causa. Representante do órgão em Roraima há três anos, Andresa Leocádio mencionou que a prematuridade é a maior causa de mortalidade infantil no mundo.

“O custo de um bebê prematuro para os cofres públicos é muito alto, então não é um simples ato simbólico. Em 2017, esse valor passava dos R$ 900 e a gente precisa muito trabalhar essa questão da prematuridade no âmbito municipal, porque o pré-natal precisa de uma assistência melhor. A gente tem que chamar a atenção da população, dos profissionais da saúde de Boa Vista, para a importância desse procedimento. O acompanhamento precisa ser feito pelo poder municipal, onde deve haver reforço, e estadual”, salientou a representante.

Esse foi o primeiro contato da temática no âmbito, porém anteriormente foi levada a proposta de criação da data estadual de prevenção a prematuridade para a Assembleia Legislativa de Roraima (ALERR), que já foi aprovado e será instituído no calendário estadual. Além disso, alguns deputados estão fazendo trabalho em relação à prematuridade e a ONG está trabalhando no interior de Roraima para reverberar a discussão.

“Como nós somos mães e utilizamos o serviço público estadual e municipal, conhecemos a realidade in loco, aquela que vai além dos papéis. Então precisamos chamar a atenção e conversar sobre. E por mais que ainda seja um movimento pequeno, queremos trazer novas audiências para trazermos os resultados”, propôs Andresa.

Quem enfrentou em duas ocasiões as consequências da prematuridade foi a funcionária pública Janynnie Matos de Freitas, de 34 anos. Na gestação que durou 36 semanas, a bebê recém-nascida da mulher foi diagnosticada com cardiopatia e veio a óbito após ficar 26 dias na Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal (Utin) da Maternidade, recebendo medicamentos para o coração.

Já a segunda gestação, que durou ainda menos – cerca de 33 semanas – foi interrompida por conta de uma diabete gestacional. A recém-nascida não precisou ir para a Utin. Porém precisou fazer acompanhamento e reinternação no HMI e no Hospital da Criança.

“A gente não escolhe ser mãe de prematuro, mas quando somos mães deles, passamos por diversas provações e vemos o quanto somos fortes, mas vemos também o quanto a saúde ainda é falha, sendo que se pode evitar a prematuridade por vários motivos. Infelizmente, no meu caso, ocorreu uma fatalidade. Por isso brigamos por aquelas que estão nascendo e não estão tendo o mesmo cuidado que minha filha teve. Queremos que nenhum recém-nascido morra em uma fila de espera”, finalizou Janynnie.

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