Cotidiano

Servidores negam direcionamento para judicialização de cirurgias

Segundo cirurgiões buco-maxilo, era de responsabilidade da Sesau dar condições de trabalho para a realização de cirurgias

As cirurgiãs-dentistas Juliene Monauer Amorim e Silvana Ruiz foram ouvidas como testemunhas, durante oitiva da CPI da Saúde realizada na quarta-feira (29), quando denunciaram suposta conduta irregular de profissionais nas cirurgias buco-maxilo-oficiais realizadas pelo Hospital Geral de Roraima (HGR).

De acordo com Silvana, que foi coordenadora do Serviço de Cirurgia Bucomaxilofacial por 40 dias em 2018, um grupo de cirurgiões dentistas estaria se favorecendo na realização de procedimentos. Ela explicou que pela suposta falta de materiais, muitas cirurgias não eram são realizadas no SUS e os pacientes acionam a Justiça.

Conforme a profissional, os preços cobrados seriam três vezes maiores que os valores praticados em outras clínicas. Silvana frisou que há mais clínicas especializadas em Boa Vista, e por isso não entende por que apenas três delas são escolhidas.

A atual coordenadora do Serviço de Cirurgia Bucomaxilofacial, Juliene Monauer Amorim, também falou sobre a situação. Ela entregou aos deputados um relatório de 125 páginas com informações apuradas por ela, desde que assumiu o cargo em setembro de 2019. Ela frisou que assim que começou a trabalhar, se sentiu ameaçada e perseguida pelo coordenador anterior e que chegou a ser avisada que havia corrupção no setor. 

A reportagem foi procurada pelos cirurgiões buco-maxilo-faciais Daniel Carvalho e Rodrigo Acioly, e o cirurgião-dentista Dennis Dinelly, com especialização em buco-maxilo. Eles, que atuavam no Serviço de Cirurgia Bucomaxilofacial do Hospital Geral de Roraima (HGR) de 2014 a 2019, relataram que sofreram perseguição logo após a nomeação da atual coordenadora do serviço.

Afirmaram que foram remanejados sobre alegação de irregularidades e que estariam respondendo a processos. “Negamos essas acusações. Fomos substituídos por outros profissionais não concursados, ou seja, cooperativados e também retirados dos plantões da Coopebras, pela cooperada que exerce função de “coordenador sem ônus”, isto é, voluntário conforme publicação no Diário Oficial do Estado do dia 11 de setembro do ano passado”, disse o cirurgião Rodrigo Acioly.

Os três profissionais apresentaram à CPI da Saúde vários documentos comprovando a exaustiva solicitação de materiais para a realização das cirurgias, bem como as negativas dadas pela própria Secretaria de Saúde à época, para o atendimento adequado a esses pacientes que precisavam do atendimento.

“Os documentos negam as denúncias e depoimentos dados pela sra. Juliene e sra. Silvana de que teríamos recusado o atendimento cirúrgico a determinados pacientes que ingressavam no serviço público, alegando a inexistência de material disponível para que tais procedimentos fossem redirecionados e realizados na rede particular, sob pagamento de valores exorbitantes”, complementou Dennis Dinelly.

“Até solicitação de TFD (tratamento fora de domicílio) foi encaminhado por mim quando fui coordenador. Porém o estado nunca beneficiou esses pacientes em tais procedimentos. O que há é uma tentativa de justificar o remanejamento dos profissionais concursados, pela atual coordenadora, com o intuito de se beneficiar financeiramente, através de inúmeros plantões pagos pela Cooperativa, e a tentativa de ligar os profissionais à pacientes que entraram na Justiça contra o Governo do Estado supostamente ‘por orientação dos mesmos’”, disse Rodrigo Acioly.

“Ao tentar relacionar os nomes dos cirurgiões aos pacientes que procuraram a justiça fica evidente a tentativa de transferência da culpabilidade da negligência de alguns gestores da pasta daqueles anos para o servidor, que nada tem a ver com a gestão da pasta, mas sim com quem está lá para desenvolver da melhor forma possível suas atribuições, entretanto, sem as condições mínimas necessárias para a realização de tais atividades que se tornam inviáveis”, frisou Daniel Carvalho”.

“Conforme as graves denúncias apontadas pelas depoentes na CPI, como a realização de uma cirurgia estética, orçamentos com preços fora do mercado e perseguições dentro do serviço, já estamos munidos de documentos que desconstroem tudo que foi relatado pelas denunciantes. Estamos à disposição para sanar quaisquer dúvidas e mostrar a veracidade dos fatos”, afirmaram os cirurgiões buco-maxilo.