Cotidiano

Sesau volta a oferecer cirurgias cardíacas em Roraima 

Nos últimos três anos, foram feitos 151 TFDs para angioplastia coronária e o governo espera reduzir despesas em mais de 70%

MARCOS MARTINS

Editoria de Cidades

O governo de Roraima pretende reduzir custos de cirurgias de angioplastia no estado. Essa cirurgia busca desobstruir uma artéria utilizando um stent farmacológico. Em entrevista coletiva no auditório do Hospital Geral de Roraima (HGR), o governador Antonio Denarium assinou um contrato com a empresa Lifecor para realizar as cirurgias através do Sistema Único de Saúde (SUS). O evento aconteceu na sexta-feira (30).

Segundo a secretária de Saúde, Cecília Lorenzon, o intuito da ação aconteceu porque foram identificados cinco pacientes que juntos custariam ao estado R$ 700 mil. “O custo só da UTI aérea é de R$ 140 mil. Com a cirurgia e a ajuda de custo do paciente e do acompanhante, o gasto por cirurgia não saía por menos de R$ 170 mil. Com essa mudança, nós teremos um custo entre R$ 20 e no máximo R$ 25 mil. A gente estima uma redução, só na UTI, de 73%. Procuramos e encontramos onde que poderíamos realizar o mesmo procedimento com o menor valor e que atendesse da melhor forma”, afirma.

Ainda conforme a secretária de Saúde, no período de 2016 a 2019 foram feitos um total de 151 TFDs (tratamento fora do domicílio) para angioplastia coronária. Isso seria uma média de 50 procedimentos por ano e os pacientes ficam em média 60 dias aguardando para serem transportados a outro local que atenda essa demanda. “Tivemos uma despesa desses últimos procedimentos de R$ 3 milhões que não ficaram em Roraima e foram para outras localidades. Uma forma de não valorizar nossa mão de obra, não aplicar o recurso no nosso estado”, revela a secretária.

O contrato firmado, do governo com a empresa Lifecor, será por requisição, no valor entre R$ 20 a R$ 25 mil, dependendo da complexidade do caso. O período do contrato tem duração de 4 anos. Foi anunciado também que ainda possuem mais quatro pacientes que vão fazer este procedimento de angioplastia que seriam deslocados por UTI aérea, além de outras 39 pessoas.

O médico Marcelo Nakashima destaca que a utilização do stent farmacológico diminui os riscos do paciente precisar fazer uma nova cirurgia ou até mesmo ter um infarto. “Em 2010 fizemos a primeira angioplastia e desde 2016 se começou a trabalhar com TFDs. Este tipo de stent tem um fármaco que diminui a possibilidade de voltar a obstruir um mesmo vaso. A taxa é em torno de 20% e em alguns casos chega até 40% em pacientes diabéticos. Já nos pacientes que receberam stent farmacológico isso diminui para menos de 3%. Essa taxa é muito inferior e evita que o paciente precise fazer um cateterismo, uma nova cirurgia, angioplastia”, afirma.

A primeira angioplastia este ano ocorreu na última quinta-feira (29) e foi realizada em um idoso que estava há três meses internado no hospital. “Ele está muito bem, não teve dor, segue estável e se tiver tudo bem com outras partes como a renal e outras alterações que ele já tinha, deve receber alta até segunda-feira. Foi um procedimento delicado, a artéria dele tinha uma ponte de safena com obstrução de 99%, ou seja, tratamos uma cirurgia de anos atrás. Além disso, era um paciente com três angioplastias e que fez mais de seis cateterismos”, avalia o médico Marcelo Nakashima.

Paciente reclama que não consegue TFD para transplante

Apesar de tentar solucionar a questão das angioplastias, alguns pacientes ainda reclamam que não estão conseguindo o TFD para transplante de rim. Um desses pacientes é Wisnner Lima de Oliveira, que destaca que precisa sair do estado ao menos para conseguir seu transplante. “Eu sou paciente crônico renal e já estou com um ano e quatro meses que faço hemodiálise. Eles me deram o laudo e me jogam para o Coronel Mota, chega lá ninguém fala nada e manda a gente voltar, e fica por isso mesmo. Eu fico na dúvida de como proceder para fazer esse TFD”, desabafa.

Segundo Wisnner, ele já tem uma doadora e a partir de agora precisa da ajuda de custo para a realização do procedimento. “Estou querendo o TFD para fazer a cirurgia de transplante de rim. Eles nunca nem deixaram e ficam só enrolando. Eu que estava correndo atrás e ficam jogando um para o outro. Faço hemodiálise três vezes por semana. A gente paga caro para isso e na hora que a gente precisa não tem o auxílio que merecemos. Fico magoado e estou saturado desta situação. Tudo é gasto e se locomover daqui de Boa Vista e sair do estado para esse transplante também seria um gasto que não cabe no meu bolso”, revela ainda. 

SESAU – A Secretaria de Saúde, por meio de nota, informou que é necessário o paciente levar o laudo médico e todos os documentos (documentos pessoais e exames médicos realizados) são necessários para dar entrada no TFD e aguardar o agendamento do hospital, onde faz o procedimento necessário.

Governador diz que imigração sobrecarrega sistema de saúde 

Durante a entrevista coletiva no auditório do HGR, o governador Antonio Denarium afirmou que a imigração venezuelana tem sobrecarregado os hospitais em Roraima. Segundo o governador, aproximadamente 40% dos leitos dos hospitais estão ocupados por venezuelanos.

O governador destacou como está a situação com a imigração na maternidade do estado. “Eu fui lá outro dia, na ala dos girassóis, onde ficam as gestantes de alto risco, e de 61 gestantes que estavam internadas naquela ala 40 eram venezuelanas. Em determinado dia estive na UTI e dos 46 bebês que tinham, 40 eram filhos de mãe venezuelana”, afirma. 

Para Denarium, a situação na área da saúde é desafio que deve ser encarado. “É uma situação que temos que encarar. É um desafio nosso e não sabemos quando essa crise imigratória vai terminar. Por isso temos que nos estruturar para atender todos que estão aqui. A saúde eu não posso negar e o atendimento é universal”, destaca ainda.