Cotidiano

Caminhoneiros garantem que Boa Vista não ficará desabastecida

Manifestantes estão liberando a passagem de carretas com combustível e produtos essenciais, como perecíveis e medicamentos

Nem o anúncio da redução do preço do combustível nem a autorização para que as Forças Armadas liberassem as rodovias bloqueadas fizeram com que os manifestantes que se concentram no km 483 da BR-174, sentido sul, a 23 quilômetros de Boa Vista, desistissem do protesto.

Desde a semana passada, houve uma redução no número de caminhões presentes na paralisação. Atualmente, o bloqueio da BR-174 conta com aproximadamente 250. Essa diminuição se deve ao tráfego de caminhões que estão indo para Boa Vista e a presença de outros em municípios como Iracema, Caracaraí, Rorainópolis e Mucajaí.

Os caminhoneiros afirmaram que Boa Vista não enfrentará problemas relacionados ao desabastecimento de materiais tidos como essenciais, uma vez que a liberação destes será feita a partir da necessidade e de demandas por parte do Exército e da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Conforme a PRF, quatro caminhões com combustíveis estão sendo liberados diariamente acada seis horas, além de outros materiais de necessidade urgente, como medicamentos e perecíveis. Em casos emergenciais, como o abastecimento do Aeroporto, por exemplo, um caminhão extra é mandado.

“Nós estamos cedendo materiais para o abastecimento de setores essenciais, como Segurança Pública, Corpo de Bombeiros, Polícia, a Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (Caerr), entre outros. Perecíveis, transportadores de energia, química para tratamento de água, e tudo aquilo que é de necessidade imediata está passando”, afirmou o caminhoneiro Zerivaldo Cavalcante.

Dezenas de caminhões com gasolina estão concentradas na entrada de um sítio próximo da paralisação. Esse conjunto foi formado para que a liberação de cada caminhão seja mais eficiente, conforme as demandas por combustível forem feitas.

O caminhoneiro Benones Lima relatou que a liberação de caminhões com gasolina está sendo feita de acordo com o tipo de necessidade em cada região da cidade.“Como todo mundo se conhece aqui, sabemos bem qual o destino de cada caminhão que passa aqui. Daqui a pouco irá passar um que vai abastecer gasolina e diesel em postos no Aparecida e Mecejana. Estamos deixando este passar, pois nos foi informado que esses bairros estão precisando. Ontem, o caminhão que passou foi para o Cidade Satélite. E estamos fazendo assim. Na medida da necessidade, vamos liberando”, explicou.

Miracy Benevides, que é caminhoneiro há 38 anos, relatou que nem o Exército nem a PRF visam desarticular a paralisação da BR-174, mas sim manter a ordem e repassar quais os produtos necessários para a Capital.“Certas emissoras estão manipulando o povo afirmando que o Exército vai tirar todos os caminhoneiros das rodovias. Isso é uma mentira. O que o Exército está fazendo é tentando manter a ordem. E nós estamos fazendo isso. Tudo está harmonioso aqui. Eu, minha esposa e minha filha ficamos aqui tranquilamente”, afirmou.

CONVIVÊNCIA – No local, é possível observar uma grande bandeira do Brasil hasteada em um dos caminhões. Segundo os manifestantes, uma hora cívica foi criada, às 18 horas, quando todos cantam o hino nacional.“Não podemos desmoralizar ou prejudicar o Brasil. Precisamos ser patriotas por aquela bela bandeira. Por isso, criamos a hora cívica aqui entre nós. Queremos que este país seja melhor e estamos fazendo toda essa paralisação aqui porque não desistimos da pátria”, reforçou Miracy.

Para Maik William, que é caminhoneiro há 12 anos, a paralisação está ocorrendo neste momento, pois ainda dá tempo de parar por vontade própria e não por falta de condições. “Daqui a dois anos, nós vamos acabar parando em nossas casas. Vai ficar impossível ser caminhoneiro e todo mundo vai parar de trabalhar. Conheço muitas pessoas que deixaram de ser caminhoneiro para procurar outro emprego, e daqui a pouco todo mundo vai ser obrigado a parar de vez”, ressaltou. (P.B)

PRF reúne com liderança para avaliar efeitos da negociação

O superintendente da Polícia Rodoviária Federal em Roraima, Igo Brasil, disse que manteve uma reunião com as lideranças do movimento local, após o anúncio feito pelo Governo Federal das propostas à classe.

Na oportunidade, os manifestantes informaram que ainda existem alguns pleitos que não foram atendidos pelo Governo Federal e aguardam um diálogo com o Governo estadual, pois o pleito também é focado com o entendimento junto ao poder executivo para a redução do ICMS e outros assuntos a serem tratados, para a liberação das cargas ao longo da BR-174.

“Não identificamos nenhuma resistência por parte dos manifestantes quanto à liberação de cargas perecíveis e durante nossa visita foram liberadas algumas carretas com combustível e gás de cozinha. Foram liberados também os tanques das usinas termelétricas e mais uma carreta para o abastecimento de aeronaves, que foram escoltadas por agentes da PRF na manhã de ontem, 28. Hoje, serão liberadas mais três carretas com gasolina e diesel para serem comercializadas”, disse.

De acordo com o superintendente da PRF, o acordo foi para a liberação periódica de carretas com combustíveis para não faltar na capital, bem como as cargas perecíveis, medicamentos e ração também não estão sendo retidas. (R.G)

Suframa contabiliza redução de 60% das cargas

O impacto da mobilização dos caminhoneiros no Estado de Roraima trouxe como reflexo a diminuição na entrada de produtos de empresas cadastradas junto à Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) contabilizando um total de 60% na entrada de notas fiscais com cargas para serem fiscalizadas.

Segundo o coordenador regional da Área de Livre Comércio de Boa Vista (ALCBV), Jandirocy Teixeira, no início da semana, geralmente dão entrada em média mais de mil notas fiscais para serem cadastradas no sistema para posterior verificação. No entanto, nesta segunda, apenas 133 notas foram inseridas no sistema.

“Estamos fiscalizando apenas materiais perecíveis, conforme o acordo com os caminhoneiros para a passagem de alimentos congelados, medicamentos hospitalares e cargas para suprir a demanda da população. Sem dúvida, é um impacto considerável já que no mesmo período de 2017 chegamos a contabilizar no sistema 24.114 notas fiscais de produtos com incentivos fiscais. Até o momento temos cadastradas apenas 14 mil notas”, informou.

Jandirocy detalhou que os produtos com maior demanda de inserção no sistema da Suframa são: gêneros alimentícios, materiais de construção, eletroeletrônicos e segmentos de autopeças, mas por força da greve foram registrados apenas alguns itens de gêneros alimentícios perecíveis.

“Nossa expectativa é que tenhamos o quanto antes um entendimento para a liberação das outras cargas de gêneros alimentícios para suprir o estoque dos supermercados. Quanto aos outros itens como eletroeletrônicos e materiais de construção,não possuem uma demanda tão crescente e sempre existe estoque destes itens. Caso a mobilização ainda persista, produtos destinados ao dia dos namorados podem faltar no comércio”, comentou. (R.G)