Cotidiano

Decisão contra governo Maduro pode afetar economia local

Anúncio de não reconhecer novo mandato de Nicolás Maduro geraria perdas para Roraima, que mantem negociações econômicas com o país

A decisão do Grupo de Lima, do qual o Brasil faz parte junto com outros 11 países latino-americanos, em não reconhecer o governo venezuelano do presidente Nicolás Maduro, que assume novo mandato em 10 de janeiro, por considerar as eleições ilegítimas, pode trazer consequências diretas na economia roraimense, conforme avaliou especialista em entrevista para a Folha de Boa Vista.

Segundo apontou o economista Haroldo Amoras, o país vizinho é um dos principais exportadores de Roraima, com quase 45% de representatividade comercial. No ano passado, as exportações do Brasil para a Venezuela chegaram ao valor de US$ 576.941.876 e as importações com origem venezuelana somaram US$ 170.876.659, resultando no saldo de US$ 406.065.217, de acordo com dados da Comex Stat.

“Nas importações, quase US$ 43 milhões são apenas de Roraima com a parte de energia e outros produtos. O rompimento com as relações diplomáticas pode afetar esse contrato energético. O que movem não são boas e nem más intensões, e sim interesses econômicos e políticos. Para nós, tem a ver com a regularidade do fornecimento de energia”.

Amoras relatou que a crise migratória também entra em pauta com a decisão do Grupo de Lima e pode interferir diretamente na política roraimense, já que os imigrantes representam em torno de 10% da população geral e tende a continuar em crescimento por conta da crise econômica no país de origem. Com a falta das relações no país venezuelano, o Brasil passaria a deixar de reconhecer imigrantes registrados oficialmente que atravessam a fronteira.

IDEOLÓGICO – O economista justificou que mesmo com a presença de energia gerada por meio de termoelétricas em Roraima, o custo é mais alto e também insustentável, já que na falta de alguma termoelétrica, todo Estado ficaria às escuras. Ele enfatizou que a tomada da decisão pelos países latino-americanos foi feita de forma equivocada, pois estuda as relações entre os países há anos.

 “Acho que as tradições do Brasil com a Venezuela sempre foram tranquilas. A Venezuela rompeu conosco em 1964 também por razão ideológica, em função do governo militar. Como eram um governo civil e o modelo de democracia representativa à época, por pressão dos Estados Unidos da América, eles romperam. Hoje também é uma questão puramente ideológica”, relatou.

Um dos meios de tentar amenizar os danos que podem surgir com os embates na falta de reconhecimento do mandado populista de Maduro dentro da economia de Roraima, é por meio de conversas do governador de Roraima, Antonio Denarium, junto ao presidente da República, Jair Bolsonaro, ambos do Partido Social Liberal (PSL). “Porém, o que vale é o que a presidência decidir”, completou o economista.

Roraima exportou mais de R$ 8 milhões para Venezuela em 2018

Além da energia ligada diretamente com a Venezuela, impactos seriam sentidos nas exportações (Foto: Priscilla Torres/Folha BV)

O site Comex Stat, um sistema de consultas e extração de dados sobre o comércio brasileiro, apontou que Roraima, em 2018, exportou um total de US$ 8.426.791 para a Venezuela. O número é inferior ao ano retrasado, que equivaleu ao montante de US$ 15.940.990.

 “Isso é o interesse mais imediato de Roraima porque os outros custos são da rede de transmissão que nem são registradas de Roraima, já que entra em contato com a União. Para o Brasil, de modo geral, a Petrobras será afetada economicamente. O Sul tem a exportação de comida e vai sentir um baque grande. Aqui temos uma questão de energia. Isso faz parte do jogo geopolítico para forçar um jogo de aliança com os Estados Unidos”, afirmou Haroldo Amoras.

Maduro diz que decisão está ligada com golpe de estado

Após as declarações do Grupo de Lima, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, garantiu que as afirmações incentivavam um golpe de estado com o apoio dos Estados Unidos da América. O acordo foi feito na sede do Peru, que completa os países pertencentes ao Grupo, sendo Brasil, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Panamá, México e Paraguai. O representante mexicano, durante a reunião, se recusou a assinar a declaração oficial.

GRUPO DE LIMA – Criado em 2017 pelo governo peruano, tem como objetivo de promover medidas para redemocratizar a Venezuela. (A.P.L)