Cotidiano

Delegado alerta sobre golpes na compra e venda de veículos

Nos últimos meses, diversos registros foram feitos nos Distritos Policiais e encaminhados para a Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos de Veículos Automotores Terrestres

É de chamar a atenção a quantidade de golpes que foram observados nesses últimos meses, em Boa Vista, referentes à compra e venda de veículos. Diversos registros foram feitos nos Distritos Policiais e encaminhados para a Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos de Veículos Automotores Terrestres (DRRFVAT). Preocupado com incidência de crimes desta natureza, o delegado Paulo André Migliorin, titular da especializada, contou como se dá o crime e cobrou atenção de quem compra e vende automóveis por meio de anúncios na Internet.

Na manhã de ontem, 4, Migliorin deu detalhes da execução do crime para a imprensa. Segundo ele, o golpe funciona da seguinte maneira: o proprietário de um veículo, que vale aproximadamente R$ 45 mil, publica um anúncio de venda na Internet, o estelionatário entra em contato, geralmente pessoas de outros Estados, e pede mais fotos do veículo, via WhatsApp. O vendedor manda as fotos e o criminoso diz que gostou do carro, que está conservado e tem interesse, mas pede para o anúncio ser retirado do site de venda, alegando que vai vendê-lo para outra pessoa.

Crente de estar fazendo um bom negócio, já que o indivíduo diz que vai pagar em espécie todo o valor do carro, o proprietário do veículo exclui o anúncio. O elemento, então, cria um novo anúncio com as fotos que recebeu, bem mais detalhadas, como se estivesse vendendo o carro, com valores bem abaixo do mercado, muitas vezes até R$ 10 mil mais barato do que o valor real do automóvel.

Alguém, na intenção de comprar carros, entra no site, encontra o anúncio e imediatamente faz contato com o criminoso considerando que o preço é tentador. O estelionatário, então, afirma que o carro está em Boa Vista, mas ele não está, no entanto tem uma dívida para acertar com o verdadeiro dono do veículo e que está vendendo o carro como forma de quitar a dívida.

O comprador demonstra interesse e decide ver o carro. O estelionatário passa o número do proprietário, mas combina para não conversarem sobre valores. O criminoso liga para o dono do carro para dizer que um amigo (o comprador) vai olhar o automóvel e também pede que não falem sobre preços, porque precisaria acertar uma dívida com o comprador.

Bandido faz com que vítimas acreditem ser um bom negócio

Nesse intervalo, o estelionatário fica fazendo uma ponte entre o dono do carro e o comprador, sempre atento e impedindo que ambos conversem. Sem desconfiar, o comprador fecha o negócio, mas sob uma nova condição: deve efetuar o pagamento em depósito, na conta do estelionatário, somente após o dono do carro assinar o contrato de compra e venda. Sendo esta uma forma de manter a vítima consciente de que estaria fazendo um bom negócio.

Enquanto isso, o bandido fala para o vendedor que ele deve assinar o documento de compra e venda e entregá-lo ao comprador, somente após o dinheiro ser depositado. Assim, tanto o comprador quanto o vendedor terão garantias fictícias.

Conforme o delegado, é preciso que o dono carro e o comprador conversem, porque o dinheiro é depositado em uma conta de alguém que mora em outro Estado, uma terceira pessoa. Depois que a transação bancária é feita, mesmo pedindo a quebra dos dados bancários, o dinheiro já foi sacado pelo bandido. Na tentativa de comprovar que está honrando o negócio que fez com o proprietário do automóvel, o estelionatário faz um falso depósito na conta do dono do carro, com envelope vazio, com cheque em branco, fotografa o recibo do caixa eletrônico, envia para o dono do carro e desaparece.

“Tem uma frase que eu digo há anos: ‘Não confio nem em meus dentes. Eles nasceram comigo e ainda me mordem’. Desconfiem da pessoa que está fazendo a triangulação. Não tem nada que negociar com ela. Não tem que depositar na conta dela. Conversem e acertem tudo pessoalmente. Para que um intermediário? Por que depositar dinheiro numa conta que não é do vendedor? Por que estou recebendo dinheiro de uma pessoa que não é para quem estou entregando o carro? Todos esses questionamentos têm que ser feitos”, ressaltou Migliorin.

‘Desconfiem de tudo’, diz delegado

Em muitos casos, a polícia afirma que conseguiu reconhecer o bandido, inclusive mandados de prisão foram expedidos, mas apesar de o inquérito e o devido andamento, com a punição do criminoso, não será possível recuperar o dinheiro.

“O fato é que alguém mais inteligente conseguiu enganar duas pessoas ao mesmo tempo, de modo que ambos caíram na ‘história da carochinha’, por um bom negócio, diante da expectativa de algo rápido e que termina em golpe. É preciso se alertar porque depois a polícia fica com duas vítimas e o delegado não tem poder de ligar para um banco e bloquear dinheiro, porque para isso tem que fazer tombamento de inquérito, oitiva e prova para depois representar em juízo. Aí, o dinheiro evaporou e o patrimônio fica tendo que ser dividido entre duas vítimas. O que falta é atenção. Vamos desconfiar de tudo”, concluiu a autoridade policial. (J.B)