Dúvidas com rezoneamento e demora em filas marcam votação

Eleitores relataram espera de mais de duas horas; mudança nos locais de votação foi motivo de atraso de votantes

CYNEIDA CORREIA

MINERVALDO LOPES

PEDRO BARBOSA

Editoria de Cidade


Ao longo do primeiro turno das Eleições 2018, realizado ontem, 7, duas foram as principais reclamações de  votantes de Boa Vista, principalmente na zona oeste, região com a maior concentração de eleitores no estado de Roraima. A primeira diz respeito à confusão que muitos tiveram em relação à transferência de eleitores de nove bairros da 5ª para a 1ª zona eleitoral. A segunda diz respeito ao tamanho das filas, que resultaram em acúmulo de milhares de pessoas em pontos de votação no horário de fechamento dos portões, às 17h, atrasando a apuração de votos pelo Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR).

Desde as 9h, a reclamação de muitos pelo tamanho de filas enfrentadas foi constante. Alguns eleitores relataram que tiveram de esperar mais de duas horas para votarem. “Eu tô aqui em pé já faz uma hora e meia. Não sei o que acontece. Acredito que seja o pessoal que não traz um papelzinho para ter de cabeça o número dos candidatos. Até porque são seis, então uma cola sempre é boa”, afirmou a servidora pública Maria Vieira.

Em ronda realizada pela equipe de reportagem da Folha ao longo do dia, foi observado que houve uma decaída no número de votantes no começo da tarde. Entretanto, a partir das 16h, uma grande massa de pessoas começou a se concentrar em alguns dos principais pontos de votação da zona oeste.

Na Escola Estadual América Sarmento, mais de 2 mil estavam dentro do local na hora em que os portões fecharam. Devido à grande concentração de pessoas e a ida de vários políticos ao local para cumprimentar eleitores, reforços da Polícia Militar foram acionados para impedir que houvesse tumultos.

De acordo com um dos advogados de coligação no colégio, Bruno Alves, a movimentação intensa de pessoas ao final da tarde pode ser justificada pelo tempo que o eleitor rezoneado levou para se deslocar de um ponto que ele acreditava ter sua seção para o correto. “A questão do rezoneamento é muito frustrante para o eleitor. Só pela manhã devo ter orientado mais de 200 pessoas que estavam confusas, sem saber onde votam com o rezoneamento. O povo daqui realmente deixou para o último segundo para se informar sobre a transferência de seções, o que infelizmente atrapalha todo o andamento da apuração de votos”, comentou.

Na Escola Estadual Tancredo Neves, o fiscal Jonivon Ribeiro contou que se deparou com a maior parte das pessoas atendidas por ele sendo justamente aquelas que queriam saber em qual escola estava situada sua seção de votação. “A maioria das pessoas que estava vindo para cá era para pedir informação se votavam aqui ou em outro lugar. A maior parte dos eleitores esteve bastante confusa ao longo do dia. Tivemos até mesmo alguns que disseram que não iriam mais votar, pois valia mais a pena pagar a multa do que o transporte”, disse.

ELEITORES DEIXAM PARA VOTAR NA ÚLTIMA HORA

Restando poucos minutos para o fechamento das seções de votação, a movimentação de eleitores em alguns colégios eleitorais foi intensa. Eleitores procurando ajuda de fiscais e equipes do Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR) foi uma das cenas comuns perto das 17 horas de ontem.

Na Escola Municipal Professora Glemiria Gonzaga Andrade, no bairro Cidade Satélite, muitos brasileiros honraram com a cultura de deixar os compromissos importantes para a última hora. “Tive um atraso por conta de uma situação em casa, mas deu pra chegar a tempo. O jeito agora é encarar a fila, mas já estou dentro do portão e é isso que importa”, comentou o mecânico Augusto Ferraz, 35 anos.

Portões foram fechados às 17 horas (Foto: Wenderson Cabral/Folha BV)

Depois das 17 horas, muitos eleitores ficaram do lado de fora da Escola Estadual América Sarmento Ribeiro, deram meia volta e foram embora. Poucos foram os que imploraram para entrar. Os comerciantes Igor e Junior Tito, que são irmãos, contaram que perderam a hora por motivos diferentes.

“O meu irmão, Junior, perdeu a hora, pois estava trabalhando em comércio até as 16h e pouco. Ele nem teve chance de tirar um tempo para vir aqui antes disso. Por isso, chegou aqui uns cinco minutos depois de os portões fecharem. No meu caso, eu cheguei aqui quase em cima da hora, fui ver no meu bolso, tinha esquecido meu título de eleitor. Foi uma mancada que dei e assumo”, afirmou Igor. 

‘TRADIÇÃO’ DE JOGAR SANTINHOS NAS RUAS É MANTIDA

De norte a sul, de leste a oeste de Boa Vista, a imagem era a mesma: santinhos espalhados pelas ruas e em frente aos colégios eleitorais, apesar de a Justiça Eleitoral apertar o cerco para combater o “derrame” de santinhos pelas vias. A quantidade de panfletos que sujam as escolas e demais seções eleitorais é menor que nos anos anteriores, mas ainda incomoda os eleitores.

Santinhos foram espalhados por toda a cidade (Foto: Wenderson Cabral/Folha BV)

Ainda na madrugada do domingo, a reportagem da Folha flagrou o momento em que pessoas em um veículo jogavam os santinhos pela janela nas imediações de uma escola que é local de votação do Pintolândia. O santinho tinha a imagem de uma candidata à deputada estadual, que concorria ao pleito pela primeira vez, e de um candidato ao senado que disputava reeleição.

BOCA DE URNA – Muitos eleitores passaram a noite de sábado e parte da madrugada de ontem, 7, sentados em frente a suas casas, esperando candidatos dispostos a trocar dinheiro por votos. A prática criminosa já se tornou uma espécie de “tradição” e é registrada pela reportagem desde 2010, quando o estado se tornou campeão na compra de votos em todo País.

Nem o aumento da criminalidade e os casos de ataques de crime organizado inibiram que os vizinhos das ruas afastadas se reunissem e levassem cadeiras para as esquinas e frente de residências das ruas mais movimentadas. Durante o dia, a prática continuou, principalmente em esquinas do lado de fora das instituições, onde pequenos aglomerados se formavam, ‘trocavam’ ideias e santinhos eram entregues.