Cotidiano

Economista diz que reajuste não é proporcional à inflação

Especialista garante que aumento é abusivo e esclarece que explicações da empresa sobre reajuste não condiz com a realidade

Há quatro anos os roraimenses sofrem com reajustes acima da inflação nas contas de energia. Desde 2015, reajustes expressivos estão sendo recalculados em cima das tarifas energéticas aplicadas pela Eletrobras Distribuição Roraima. Apesar de muito repúdio e manifestação por parte dos consumidores, os reajustes continuam, e para alguns especialistas da área de economia, não há explicação que justifique tanto aumento.

O primeiro grande impacto veio em 2015, com reajuste de 40,33% nas contas para os consumidores de baixa tensão, que são utilizadas em residências. Dois anos depois, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou outro reajuste, dessa vez, de 35,30%, e no começo de novembro deste ano, mais 38,50%. De acordo com o economista Dorcílio Erik, sem estar ligado ao Sistema Interligado Nacional (SIN), Roraima não tem como estar compartilhando os ganhos ou perdas desse serviço.

O economista entende que os aumentos estão relacionados com o uso das termelétricas no estado, por conta dos problemas apresentados pela energia oriunda da Venezuela, mas que isso não é admitido pela distribuidora. Para ele, chama atenção também que a renda mensal populacional é proporcional à inflação do ano anterior, que teve a ordem de 4,5%, ou seja, não há motivos para ter um reajuste de 38% nas contas de energia.

“Para dados exatos, observamos que quem paga R$ 100 hoje, vai pagar $ 138 na próxima fatura. Nada justifica um reajuste dessa grandeza, principalmente levando em consideração a situação [econômica] do estado”, criticou.

Erik apontou que os impactos desse reajuste para os assalariados podem acarretar na diminuição do consumo básico do orçamento doméstico, já que a energia elétrica está entre o principal gasto da renda familiar.

AÇÕES – O especialista informou ainda que as ações individuais movidas por representantes políticos precisam ser melhores avaliadas. “Pode se ter uma liminar que suspenda o reajuste, mas nenhuma ação vai ser com efeito de mérito. Corre o risco da liminar ser derrubada, e aí o consumidor ter que pagar valores retroativos ao período de reajuste, conforme já aconteceu no ano passado”, destacou.

PRIVATIZAÇÃO – Para Dorcílio Erik, é questionável também a empresa aprovar um reajuste dessa proporção logo após a venda da estatal para o setor privado. “A empresa que comprou a Boa Vista energia tem até dezembro para decidir se mantém a compra ou se vai desistir. Então antes de chegar esse prazo, a própria empresa, ainda pública, reajusta a tarifa de energia”, enfatizou.

Erik entende que a Eletrobras Distribuição Roraima é uma empresa deficitária, com muitos problemas e dívidas, o que pode ocasionar, durante a transferência, perceber o grande rombo e aplicar mais um novo reajuste. “Não há como acompanhar isso”, encerrou.

Eletrobras diz que termelétricas estão ligadas

A equipe de reportagem procurou a Eletrobras Distribuição Roraima para saber quais as justificativas sobre o aumento na conta de energia, mas a empresa se limitou a repassar informações já prestadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Questionada se as termelétricas ainda estavam sendo utilizadas em Roraima, a empresa confirmou, destacando que ainda estão ocorrendo problemas no Linhão de Guri, mas não esclareceu se esses foram os motivos para um aumento em algumas contas de energia do mês de outubro.