Cotidiano

Fazenda deu origem à cidade de Boa Vista

No dia 9 de julho de 1890, o povoado que surgiu da fazenda foi elevado à categoria de vila, passando a se chamar Boa Vista do Rio Branco

O Município de Boa Vista, capital do Estado de Roraima, teve origem na sede da Fazenda Boa Vista do Rio Branco, em 1858. Durante anos, o único povoado em toda a região do Alto Rio Branco foi a Freguesia de Nossa Senhora do Carmo. No dia 9 de julho de 1890, o povoado foi elevado à categoria de vila, passando a se chamar Boa Vista do Rio Branco. Em 1926 passa a ser município, adotando o nome da antiga fazenda Boa Vista.

Em 1943, com a criação do Território Federal do Rio Branco, a cidade foi escolhida para ser a capital e cresceu em razão da prática do garimpo, que proibida anos depois afetou a economia e o desenvolvimento da cidade. O Território Federal do Rio Branco, que passou a ser chamado de Território Federal de Roraima, foi elevado à categoria de Estado pela Constituição de 1988.

A capital sobressai pelo traçado urbano em forma de leque, planejado entre 1944 e 1946 pelo engenheiro civil Darcy Aleixo Derenusson em alusão às ruas de Paris, na França. As principais avenidas da cidade reúnem-se à Praça do Centro Cívico Joaquim Nabuco, onde se concentram as sedes dos três poderes judiciários, pontos turísticos, hotéis e bancos. (A.G.M)

História pioneira e comercial às margens do Rio Branco

 “Ao contrário das correntezas dos rios da Amazônia, os exploradores e colonizadores se estabelecem às margens dos rios para que a colonização se dê em prol de uma proposta de civilização. Essa proposta começa com exploradores, depois com militares, seguida da produção de gado e a cultura do gado no Vale do Rio Branco, na Freguesia e, por fim, na cidade de Boa Vista”, relatou o professor e pesquisador do Núcleo de Pesquisa e Semiótica da Amazônia da Universidade Federal de Roraima, Maurício Zouein.

A Fazenda Boa Vista, que também aderiu à proposta de se estabelecer uma comunidade, se desenvolveu a partir do Porto do Cimento, onde hoje é localizada a Orla Taumanan. No porto eram realizadas a carga e descarga de comida, material de consumo das fazendas e outras ações que foram feitas no decorrer da História de Roraima.

Fazendas e hospitais eram abastecidos pelo porto. Ferramentas de construção, cartas e tudo que se diz respeito a manter a comunidade chegavam pelo local que ficou conhecido como Porto do Cimento, porque ali eram descarregadas as sacas de cimento para fazerem as construções necessárias.

“A importância do porto, tanto para o município ou para Estado, não se dá apenas pelo sentido material. Os poderes apenas se estabeleceram por meio do porto, além das pessoas que chegavam, também vinha material de consumo. Tudo aquilo que você pensar para se manter uma comunidade vinha por parte dele. As pessoas têm o vício de pensar pelo lado material, mas havia os que chegavam e os que partiam. Era um lugar de sentimentos pelos encontros, despedidas, pela esperança de receber uma carta ou um medicamento”, disse Zouein.

Por ter sido porta única ao município durante anos, contribuiu para o surgimento e o desenvolvimento do setor comercial.

Sírio foi um dos pioneiros no desenvolvimento do comércio

Said Salomão foi o responsável pelo início e desenvolvimento comercial de Boa Vista. Patriarca de uma das mais tradicionais famílias da Capital, o empreendedor, com 12 anos na época, veio para o Brasil em um navio de bandeira portuguesa e chegou a Boa Vista acompanhando o tio Jorge Fraxe, quando a cidade ainda era município do Amazonas, em 1929. Quatro anos depois, aos 16 anos, abriu um comércio de interior onde vendia estivas, tecido, material escolar, medicamentos e veículos.

Nascido na Síria em 1915 e com vontade de se aventurar pelo mundo, pediu à mãe para acompanhar o tio e só voltou para visitá-la pela primeira vez cerca de 30 anos depois, fazendo de Boa Vista sua segunda casa. Aqui, casou-se com a amazonense Latife Salomão, filha de um casal libanês, com quem teve cinco filhos, todos nascidos em Roraima.

Said trabalhou com o tio durante os primeiros cinco anos e depois abriu o próprio comércio, o Said S Salomão LTDA. Na trajetória empresarial, fundou o comércio de ferragem Armarinho LTDA, a Salomão Veículos LTDA, Fasonorte, abriu o primeiro posto de combustível, montou uma das primeiras máquinas para o ramo de arroz e com produtos foi representante de inúmeras empresas nacionais.

De acordo com o filho dele, Sander Salomão, os comércios da família se resumem no setor veicular e na imobiliária. Os outros foram deixados para fortalecer o setor imobiliário que precisava de mais capital. “Ele estudou até o terceiro ano primário na Síria. Era autodidata, tinha uma cultura geral boa, falava árabe, português e arranhava no francês, mas tudo que soube aprendeu sozinho”, relatou.

Suas amizades, tanto com comerciantes locais, quanto com comerciantes do Amazonas, onde também fundou duas firmas comerciais junto a amigos que se tornaram sócios, representam o profissionalismo que sempre teve. Said Samu Salomão foi pioneiro do comércio da cidade de Boa Vista e até hoje, 87 anos após sua chegada, seu legado é uma contribuição para o desenvolvimento econômico de todo o Estado de Roraima. (A.G.M)