Saúde e Bem-estar

Inclusão social do idoso é o principal desafio da geriatria

Para a especialista, ser idoso não significa necessariamente ser limitado, muitos idosos estão cada dia mais ativos

Por Leo Daubermann

O principal desafio da geriatria em Roraima e no Brasil é a inclusão social dos idosos, diz a médica geriatra Lilian Moraga, credenciada pela Sociedade Brasileira de Geriatria. “Necessitamos de maior interação da sociedade com a terceira idade. É preciso entender que ser idoso não significa necessariamente ser limitado. Muitos idosos estão cada dia mais ativos, carregando um potencial de conhecimento e vivência enormes”, contou.

Mas, para a especialista, ainda há uma limitação social muito grande no Estado, com poucas atividades voltadas para essa faixa etária. A maioria dos lugares, de acordo com a geriatra, é voltada apenas para o público jovem, o que acaba limitando o dia a dia da pessoa com mais idade. “A visão de idoso sentado numa cadeira de balanço fazendo crochê mudou muito. Hoje temos muitos idosos fazendo musculação, trabalhando e até querendo paquerar, mas sem dispor de locais em que possam interagir”, avaliou.

De acordo com a geriatra, não existe uma fórmula mágica para envelhecer bem. “A qualidade de vida na terceira idade, geralmente vai depender de tudo aquilo que você fez ao longo da sua vida. Então o ideal para se ter uma boa velhice é viver desde sempre bem, mantendo bons hábitos alimentares, atividades físicas, uma boa espiritualidade e uma vida social ativa, com encontro com amigos, por exemplo”, destacou.

Segundo a médica, um profissional capacitado na área pode fazer muita diferença na vida do idoso. “Apesar do número limitado de profissionais especializados, vemos que os demais profissionais estão cada vez mais se atualizando sobre o assunto, entretanto, uma formação baseada em conhecimento especializado sempre faz uma diferença no olhar a estes pacientes”, destaca.

Para a especialista, é preciso saber ouvir. “A relação com idoso é uma relação de muita cumplicidade, muita conversa, muita troca de experiência e nem sempre essas experiências partem do profissional. É preciso também saber acolher, muito das demandas em geriatria parte de um conjunto de problemas que normalmente envolvem toda família do idoso”, explicou.

A especialista conta que, antes mesmo de escolher a Medicina, já havia decidido ser geriatra. “Gostava de estar perto de pessoas que precisassem da minha atenção e que gostassem de compartilhar histórias. A comunicação sempre fez e fará parte do tratamento, nada melhor do que o olhar de uma pessoa que sabe o que é a vida, de quem a vivenciou, é uma troca”, ressaltou.

Trabalhar nessa área, de acordo com Lilian Moraga, é um aprendizado diário. A troca de experiências acaba motivando a médica a pensar no próprio futuro. “Gosto muito do que faço, e gosto de poder ajudar sempre que posso, prescrevendo muito mais que medicamentos, mas passando palavras que ajudem a lidar com as dificuldades do dia a dia”, completou.

GERIATRIA – É a especialidade médica que se integra na área da Gerontologia com o instrumental específico para atender aos objetivos da promoção da saúde, da prevenção e do tratamento das doenças, da reabilitação funcional e dos cuidados paliativos aos idosos.

Abrange desde a promoção de um envelhecer saudável até o tratamento e a reabilitação do idoso. O processo de envelhecimento impacta no comportamento orgânico, demandando abordagens diferenciadas, assim como crianças e jovens apresentam especificidades que são tratadas pelo pediatra.

Quando procurar um geriatra

Apesar de a geriatria ser uma especialidade médica que atende pessoas acima de 60 anos, o ideal é começar a frequentar esse especialista ao redor dos 35 anos. “Muitas doenças podem ser evitadas e prevenidas precocemente. O geriatra se preocupa com as particularidades da saúde do idoso. Enquanto a grande maioria das especialidades médicas se dedica a um órgão ou sistema. A geriatria é uma das poucas especialidades que se dedica ao indivíduo como um todo e a única que estuda o processo de envelhecimento”, explicou Lilian.

“Se você já tem 35 anos e busca qualidade de vida e uma longevidade saudável, o geriatra pode te ajudar, afinal de contas, envelhece bem quem se cuida, de forma ativa e preventiva. E para isto nunca se é novo demais”, acrescentou.

Roraima tem 37 mil idosos

O último levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, mostra que a população de idosos no país, com 60 anos ou mais é de 30 milhões. Na Região Norte são quase dois milhões de idosos e, em Roraima, 37 mil, para uma população de 580 mil habitantes. O Estado, no entanto, possui apenas dois especialistas na área de geriatria.

Quando se fala em prevenção o ideal seria, de acordo com a geriatra Lilian Moraga, que o atendimento de idosos acontecesse, primeiramente na atenção básica, com médicos especializados no assunto. “Hoje o município (de Boa Vista) não dispõe de nenhum geriatra na sua cadeia de serviço. Quem realiza atendimentos de geriatria é somente o Estado. Somos apenas dois geriatras, no serviço de atenção especializada do Hospital Coronel Mota, para realizar atendimento para esse público, em geral, acima de 60 anos, numa média de 70 atendimentos por semana”, contou. (L.D)