Cotidiano

Indígenas denunciam que garimpo pode extinguir comunidades

Garimpeiros estariam aliciando indígenas, construindo pistas de pouso clandestinas, bares, pontos de Wi-Fi e cabarés

Representantes dos povos indígenas afirmam que as atividades de extração ilegal de minérios, principalmente a do ouro, em áreas homologadas como reservas pelo governo Federal, podem causar a extinção de comunidades que vivem em terras Yanomami, um dos maiores territórios indígenas do Brasil. 

Conforme o vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, Dario Kopenawa Yanomami, a atividade do garimpo em áreas em que vivem os índios é um problema antigo e existe muito antes de acontecerem as demarcações. 

“Nós estimamos que cerca de 40 mil garimpeiros invadiram a região do parque Yanomami na década dos anos 80 e 90, resultando em graves problemas como o massacre Haximu, onde parte do povo Yanomami foi assassinado pela mão de garimpeiros em situação ilegal”, disse.

Dario também denunciou que milhares de garimpeiros estariam atuando em diversas áreas do território Yanomami. Questionado sobre a quantidade, ele explicou que os cálculos são resultados da contagem de denúncias feitas por comunidades que acompanham barcos e balsas que chegam nas regiões do chamado ´tatuzão`, Rio Mucajaí, Região Maloca Papiu e Kayanau. “Todas as denúncias e reinvindicações são encaminhadas aos órgãos públicos como Funai, Exército e Polícia Federal, mas ninguém consegue números exatos. Estimamos 20 mil garimpeiros. Eles desmatam, abrem cavas na terra e contaminam o solo e a água com mercúrio. A maior parte deles monta acampamento a poucos minutos de caminhada das aldeias. Eles entram com drogas no nosso território. O aliciamento é muito grande. Dão comida, cachaça, arma de fogo e cartucho aos indígenas e depois dizem que são garimpeiros ‘bons’, que vão ajudar”, denuncia Dario.

Ele falou que no meio do território Yanomami, pistas de pouso clandestinas são construídas para trazer suprimentos e levar o ouro encontrado. Sobrevoos feitos recentemente identificaram, além de casas improvisadas, bares, pontos de Wi-Fi e cabarés nas áreas de garimpo.

“Esses garimpeiros não trabalham sozinhos. Eles têm muito apoio e financiamento de políticos importantes e empresários grandes”, acusa Dario, vice-presidente da Hutukara.

Júlio Yekuana, representante da comunidade Yekuana, também disse que os povos indígenas são contra qualquer atividade de garimpos em terras garantidas pela Constituição.

“Estamos localizados próximo ao Rio Uraricoera, que é onde são vistas algumas atividades do garimpo. Os danos aos indígenas vão desde a saúde até aliciamento dos mais jovens que são atraídos pelas promessas das atividades, além de problemas como a prostituição, que nos trazem doenças. Nosso alimento também está sendo contaminado pelo mercúrio. Antes que ocorra nossa extinção, pedimos que o governo Federal nos garanta direitos. O trabalho do Exército nos auxilia, mas ainda existem pessoas lá dentro trabalhando ilegalmente e esses invasores devem sair.”, concluiu.

Exército já apreendeu 70 embarcações 

O Tenente Coronel do Exército Brasileiro, Gimenez, disse que existem operações nos leitos dos rios na região de Mucajaí para combater atividades garimpeiras ilegais. 

“Esse ano, já foram apreendidas 70 embarcações com equipamentos usados no trabalho de extração de minérios, mas ainda não encontramos o ouro de fato, pois não existiu o flagrante no garimpo, então trabalhamos com ações preventivas e registramos quem se encontra em embarcações no rio. As operações são rotativas e se estendem por vários percursos, mas não podemos detalhar o número de militares por questões de segurança”.

Ouro vendido em Boa Vista é de origem legal, dizem comerciantes


A rua do ouro é conhecida por ser ponto de comercialização do minério (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)

Um dos representantes do Sindicato dos Joalheiros de Boa Vista, José Lelies, disse que o ouro comercializado em Boa Vista não tem origem em atividades ilegais do garimpo e que os comerciantes que trabalham na conhecida rua do ouro, na capital, movimentam o mercado com a compra de peças que são refeitas, popularmente conhecidas como ´sucatas`.

“A extração ilegal do ouro é mais complexa do que possamos imaginar e o comércio também. A Polícia Federal já visitou algumas lojas e constatou que só trabalhamos com pedaços de cordões, anéis e outras joias que somam pequenas quantidades se comparado aos dados levantados de exportações do ouro com origem declarada em Roraima. Não existe compra ilegal”, esclareceu.

Cooperativa busca permissão para extrair minério

O presidente da cooperativa Minerar, Lino Oliveira, está há oito anos na busca de permissão da extração de minérios em áreas não indígenas e somente agora conseguiu uma das diversas etapas da autorização de licença prévia para que seja liberada a atividade.

“Nós queremos trabalhar dentro das legalidades. Somos contra qualquer atividade que cause danos ao meio ambiente e aos povos indígenas. Não atuamos dentro de reservas e recorremos somente à justiça para que seja autorizada a extração e venda de minérios. Os trabalhos clandestinos só prejudicam quem quer atuar de forma correta”, concluiu.

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