Cotidiano

Indígenas fazem servidores reféns após morte de crianças

Yanomami fazem manifestação desde domingo cobrando a exoneração de coordenador do DSEI-Y por falta de atendimentos de saúde

Indígenas de 12 comunidades da região de Surucucu, no município de Alto Alegre, mantêm reféns 17 servidores e três aviões da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) em manifestação contra a permanência do atual coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y), Rousicler de Jesus Oliveira.

Os funcionários estão impedidos de deixar a região desde o domingo, 16, após mais uma criança morrer na comunidade. 

Uma equipe com representantes do DSEI-Y, da Sesai e de associações indígenas se deslocaram até a região na manhã de ontem, 17, e chegaram por volta de 12h30 para dialogarem com os manifestantes. Segundo informações preliminares, foram apreendidos dois aviões Cessana Caravan, de pequeno porte, e um monomotor. 

“Viemos aqui para ouvir as reivindicações deles. Primeiramente, os profissionais não estão reféns, não foram ameaçados fisicamente e psicologicamente”, esclareceu o presidente da Hwenama Associação dos Povos Yanomami de Roraima, Júnior Hakurari Yanomami, através de um áudio enviado pelo WhatsApp.

De acordo com o presidente, os índios garantiram que não há assistência de saúde nas comunidades, o que teria ocasionado a morte de duas crianças por desnutrição e pneumonia em menos de três semanas. As lideranças yanomami afirmaram que estão há quatro meses sem atendimento por falta de helicópteros e nenhuma equipe teria visitado as comunidades mais distantes.

Ainda não há previsão de liberação dos funcionários e dos aviões, já que as negociações devem continuar ainda amanhã, 19. Os indígenas estão montando um documento oficial com todas as necessidades e irão encaminhar para as autoridades de Brasília. 

MALÁRIA – Dentre os pontos que os índios também relataram está o aumento de casos de malária nas comunidades. Júnior Hakurari Yanomami destacou que o aumento seria de 80% de pessoas infectadas em Roraima e no Amazonas. “Eles reivindicam também a falta de profissionais nas áreas Yanomami, que são mais de 300 comunidades, que precisam do ponto de atendimento, são 26 mil yanomami nessa situação”, relatou.

Por parte dos índios, não há nenhuma intenção de querer colocar algum representante da comunidade no lugar do atual coordenador, por enquanto, apenas que seja exonerado. 

Coordenador nega que falte helicópteros

Em contato com a Folha, o coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y), Rousicler de Jesus Oliveira, justificou que a informação da falta de profissionais de saúde e que as comunidades estavam isoladas sem atendimento não procede. “Nunca aconteceu de 90 dias sem helicóptero”, disse.

Questionado sobre a morte das crianças, o coordenador garantiu que estão sendo investigadas, mas que havia equipe no polo de medicamento e material médico hospitalar suficiente para o desenvolvimento das ações de atenção básica de saúde, que é atribuição do DSEI-Y. Após o retorno da equipe enviada, Oliveira confirmou que serão feitas as conversas e negociações sobre a situação. 

SESAI – A equipe de reportagem tentou contato com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), mas não conseguiu nenhum retorno até o fechamento da matéria. (A.P.L)