Jucá atribui corte de energia à manobra de  Maduro com adversários para prejudicá-lo

Senador usou uma sala da Eletrobras para fazer entrevista e afirmar que adversários ligados ao PT e a Venezuela estão cortando a energia de propósito 

FABRÍCIO ARAÚJO E CYNEIDA CORREIA

Colaboradores da Folha

O candidato ao Senado Romero Jucá (MDB) concedeu uma entrevista coletiva na manhã de ontem, 18, juntamente com os diretores da Eletronorte e Eletrobras para afirmar que está sendo vítima de uma manobra de seus adversários em conjunto com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que apagam a energia de Guri para prejudicar sua campanha em Roraima.

Mesmo o art. 73 da Lei de Eleições vedando aos agentes públicos, ceder ou usar, em benefício de candidato, bens imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União, o senador concedeu entrevista nas dependências do órgão para declarar que fez um levantamento sobre as constantes quedas de energia e que iria apresentar um ofício aos órgãos responsáveis questionando os apagões no período eleitoral.

“Existem horários marcados para a falta de energia em Roraima e sei que aliados do Governo venezuelano estão se aproveitando da situação para confundir a opinião pública jogando todos contra a Eletrobras e o governo brasileiro. Eu sou adversário da Venezuela, eu pedi o fechamento da fronteira, eu não concordei com o governo do Maduro. Meus adversários aqui são ligados ao Maduro, a Venezuela e ao PT e estão todos juntos nisso”, disse.

O parlamentar disse que a Eletrobras e a Eletronorte devem assumir a geração de energia para evitar problemas técnicos que afetem o cotidiano da população.

“Vou cobrar essas providências porque entendo que há um plano sujo de manipulação da questão da energia na tentativa de interferir na minha eleição”, afirmou negando que esteja politizando os blecautes que ocorrem em Roraima.

Os dados apresentados pelo parlamentar apontam que as quedas de energia estão ocorrendo sempre entre 7h e 14h, horários em que não haveria sobrecarga de consumo e que ocorreram 12 desligamentos de janeiro a julho deste ano e 35 desligamentos durante o período de campanha eleitoral.

“Essa situação é muito grave. Não sei quem pediu isto a Venezuela, mas eu acho que as investigações têm que responder”, disparou.

Questionado pela Folha em que condição estava apresentando o ofício, se como candidato ao senado ou líder do governo Temer, Jucá não afirmou ou negou as alternativas apenas disse que era uma agenda parlamentar e criticou os outros dez parlamentares federais.

“Eu estou fazendo este questionamento como Senador. Roraima tem três senadores e oito parlamentares federais, 11 parlamentares ao todo, qual deles está buscando solução para esta questão?”, questionou.

Ângela diz que adversário cometeu crime eleitoral

Em nota à imprensa sobre o caso, a candidata à reeleição ao Senado Ângela Portela (PDT) disse que seu adversário deu uma demonstração de desespero e disse que a Eletrobras Distribuição Roraima não é, ainda, propriedade da família Jucá.

“Mesmo assim o senador usou as dependências de um órgão público, a sala e a imagem dos diretores de uma empresa estatal, para fazer campanha. Gravou vídeo para as redes sociais e deu uma entrevista coletiva para os veículos de comunicação sob seu controle”.

Para ela, o senador tentou criar um factoide político na eleição e terminou por praticar uma conduta vedada a agente público.

“O candidato de Temer entra como bem quer, grava um vídeo usando diretores da estatal como figurantes, e usa a empresa como cenário para criar um factoide e aumentar sua exposição nas TVs, rádios e jornais que controla. O processo de privatização ainda está sujeito a recurso, e temos esperança de revertê-lo, pelo bem da população de Roraima. A lei eleitoral, como sabemos, veda esse tipo de conduta, punindo-o até com cassação do mandato. Mas o eleitor de Roraima tem a chance de antecipar-se à Justiça Eleitoral e livrar Roraima de quem há décadas usa nosso Estado para seus interesses particulares”, afirmou.

Para Ângela Portela, o candidato tentou desviar o foco da própria culpa na crise energética.

“Nada fez pelo Linhão de Tucuruí e agora, na véspera da eleição, posa de defensor da autonomia energética de Roraima. Seria risível se não fosse trágico, pois os roraimenses não aguentam mais eletrodomésticos queimados, apagões diários e conta de luz cara, que põe dinheiro no bolso da Oliveira Energia. Há uma investigação em curso para apurar a relação entre um depósito inexplicado numa conta ligada ao clã e a aquisição da Boa Vista Energia pela famigerada Oliveira Energia”, lembrou.

Rudson Leite diz que não adianta senador ficar chorando pitangas

O candidato ao Senado Rudson Leite (PV) explicou que os políticos de Roraima já sabiam, quando Guri foi contratada, que a energia ofertada era para atendimento apenas residencial e por um período de tempo limitado a 20 anos.

“Temos 310 megawatts de energia para um consumo de 175 e se tirarmos a Venezuela ainda deveríamos ter energia sobrando das termoelétricas. Romero Jucá mesmo disse em entrevista que podia desligar a energia na Venezuela que as termo atenderiam a demanda. Mas isso era uma mentira, pois quando desligam a gente fica no escuro e o que vemos é que fica tudo parado e o que significa que não há energia nas termoelétrica sobrando como foi anunciado por ele”, disse.

Para Rudson, Jucá dizer que ‘fulano ou beltrano é culpado pelos constantes apagões é apenas conversa furada.

“Não adianta o senador ficar chorando pitangas e reunindo com presidente da Eletrobras. Isso é só pra inglês ver, pelo fato dele sim ter sido responsável pelo sistema de energia. Esse choro não encontra ressonância social nenhuma. A energia de Roraima não chegou por Tucuruí, pois tinham interesses ocultos e forças ocultas trabalhando contra”, concluiu.

Presidente da Eletrobras diz que pode desligar ligação com Guri

O presidente da Eletrobras Distribuição Roraima, Anselmo Brasil, disse que já havia identificado anormalidade nas quedas de energia, mas que ainda não havia identificado a causa. Também declarou que o ofício entregue por Romero Jucá será enviado para a presidência da empresa, no Rio de Janeiro.

“Não temos autonomia para decidir sobre o assunto, mas devemos interromper a ligação com Guri assim como fizemos com Jatapu. Estamos analisando os dados que o senador colocou e podemos tomar a mesma atitude contra a Venezuela. Identificado este problema, esta instabilidade frequente, nós vamos tomar uma providência semelhante com a que tomamos contra Jatapu”, afirmou.

O presidente da Eletronorte, Luiz Henrique Hamann, disse que as empresas estão à disposição do governo da Venezuela para fazer a manutenção, mas que depende da autorização por se tratar da relação entre dois países.

“A outra providência, a Eletronorte está intimando junto ao ministério as providências para a linha Boa Vista-Manaus para que a gente possa ganhar celeridade, como explicado pelo senador, isto também já está sendo providenciado, só que nós temos um trâmite burocrático considerável. Nós estamos vencendo passo a passo cada uma dessas dificuldades e acredito que brevemente nós teremos notícias melhores”, disse. (F.A)