Política

Livro recém-lançado cita Jucá na radiografia da corrupção brasileira

Obra explica por que o sistema político do Brasil foi feito sob medida para aproximar empresários corruptos e políticos igualmente corruptos

Um levantamento do economista Bruno Carazza lança, pela primeira vez, uma luz meridiana sobre os porões políticos do país. Em 2012, o economista, funcionário do Ministério da Fazenda desde 2002, decidiu estudar as fundações do emaranhado de escândalos de corrupção registrados no Brasil nas últimas décadas. Para isso, mergulhou por seis anos num conjunto colossal de dados que, reunidos no livro “Dinheiro, Eleições e Poder” (Companhia das Letras, 2018), formam o mais completo inventário das causas e consequências da roubalheira generalizada que tomou conta do país.

Por meio do cruzamento de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com informações obtidas em milhares de tabelas fornecidas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, o pesquisador descobriu, por exemplo, que não mais do que 450 empresas e 33 indivíduos doaram um montante superior a 60% do total arrecadado por todos os candidatos e partidos na eleição de 2014. Uma vez que o universo de pessoas jurídicas registradas no país é da ordem de 5,4 milhões, conclui-se que a atual elite política brasileira foi alçada ao poder com a fundamental ajuda de um segmento da elite econômica nacional, formada por 0,008% dos empresários do país – que cobraram caro a contrapartida. 

O senador Romero Jucá, investigado na Operação Lava Jato em pelo menos cinco ações penais, foi o político que mais relatou medidas provisórias na história do país: 73. O segundo lugar é ocupado por Romeu Tuma. Morto em 2010, o ex-delegado relatou apenas quinze MPs.

Ao falar sobre o senador de Roraima, Carazza cita Cláudio Melo Filho, o lobista-chefe da empreiteira Odebrecht, a campeã de propinas no Congresso, que chamou Romero Jucá de “resolvedor-geral da República”.

Há uma ironia na frase do diretor da Odebrecht. É que Jucá, explica ele, “estava sempre disposto a atuar em favor do empresariado, mediante retribuição, razão pela qual seu gabinete no Senado é muito procurado por lobistas e executivos de grandes empresas”. 

No livro, Romero Jucá é citado como “o principal interlocutor de Cláudio Melo no Congresso Nacional”. “O relevo de sua figura pode ser medido por dois fatos objetivos: (i) a intensidade de sua devoção aos pleitos que eram de nosso interesse e (ii) o elevado valor dos pagamentos financeiros que foram feitos ao senador ao longo dos anos”, frisou Cláudio Melo em depoimento à Justiça. O mesmo depõe outro senador, Delcídio do Amaral, que qualifica Jucá como “uma espécie de porta-voz do sistema financeiro no Congresso Nacional”.

Não é só em depoimentos que se baseia o autor, ao dedicar todo um capítulo de seu livro ao senador por Roraima. Em um gráfico, ele mostra que Romero Jucá foi o parlamentar que mais recebeu doações indiretas, via partido.

“Salta aos olhos o papel preponderante desempenhado por Romero Jucá na relatoria de medidas provisórias no Congresso. Ele é, disparado, o parlamentar que deteve o maior número de relatorias sob sua responsabilidade – o que explica também porque é apontado em várias delações como um personagem central do suposto esquema de corrupção do MDB no Congresso”, diz o texto.

A partir daí, Carazza fez novo estudo. Constatou que, entre 2003 e 2014, anos da intensa atuação de Jucá como relator, os relatores de medidas provisórias de interesse de grupos econômicos receberam, desses mesmos grupos, 53,9% de doações dos setores que eram atendidos por essas medidas. Entre 2007 e 2010, essa proporção chegou a 66,7%, proporção que se manteve daí para frente.

OUTRO LADO – A Folha procurou o senador Romero Jucá para que comentasse a citação de seu nome no livro, porém não obteve retorno até o fechamento desta matéria.