Cultura

Meninas rappers falam sobre racismo, preconceito e ativismo

Batalhas Delas: Jovens contam como é ser mulher fazendo rap na periferia de Boa Vista

Agatha Kristian, Aline Dias ( Mc lyyh), Ana Gomes e Rafaela Souza (Raffah Black) se conheceram em um encontro ou outro na praça, pelas redes sociais, nas pistas de skate.Foram vários encontros até uma amizade surgir em meio a mesma paixão: o rap.

Foi tentando ganhar espaço em um ambiente mais frequentado por homens que elas descobriram que tinham algo em comum. A vontade de contar a história da periferia de Boa Vista em rimas, uma história que se divide com as próprias. Estudar, trabalhar, ajudar a família em casa, guardar a grana ‘do busão’ para poder ter dinheiro e se inscrever numa batalha, ir pra praça apenas para encontrar os amigos nas horas e lazer e ver uma apresentação de break dance. 

Tudo isso faz parte da vida das jovens que encontraram no rap uma forma de expressão. Porém, dentro da cultura da periferia também há preconceito. “Já me disseram que eu não precisava me firmar como negra nas minhas rimas. Mas eu sou negra, não consigo fugir disso para escrever. É a minha inspiração” contou Raffah Black.


Elas contam que já ouviram artistas disseram que elas só conseguiam se destacar por que eram mulheres, e não por que eram boas. “Isso desestimula, há toda uma preparação para uma batalha de rap, vencer a timidez e o nervosismo e o nosso gênero não nos faz capaz de participar de uma batalha”

disse Lyyh.

Agatha conta que as mulheres estão presentes na cultura Hip Hop desde seu início, fazendo música, dançando break, grafitando ou apenas a produção cultural dos “manos” indo a festas e eventos, porém, essas artistas não ganharam tanto espaço.

“Esse espaço nunca nos foi dado, é preciso ser conquistado e essa é agora a nossa batalha. Criamos a ‘batalha delas’, por que tem rapper que não se sente a vontade de fazer suas rimas num ambiente só de meninos, principalmente para quem está começando e não tem

segurança” disse.


A amizade vem servindo na hora da composição, as artistas escrevem juntas, dão palpites na letra uma da outra, o apoio vem não apenas no lado musical, mas no pessoal, no ombro de uma amiga. “Há também aqueles que nos querem ver crescer, criando uma cena forte e recrutando mais meninas para o lado da cultura e não do crime, onde muitos jovens vão parar” reforçou Agatha.