Cotidiano

Moradores cortam árvores para impedir avanço da prostituição

Plantas foram cortadas, segundo informações de moradores, desde quinta-feira; caso aconteceu no cruzamento das ruas Ivone Pinheiro e João Padilha

Sete árvores localizadas em um terreno baldio na Rua Ivone Pinheiro, no bairro Caimbé, zona oeste da Capital, foram cortadas por moradores para supostamente impedir o avanço da prostituição. A área era utilizada para agendamento de programas, por conta da baixa luminosidade.

Das oito árvores, apenas uma permanece intocada. Das demais, algumas ainda mantêm parcialmente suas folhas e outras foram cortadas na altura dos troncos. O restante das galhadas permanece no local, junto a montes de lixo e garrafas plásticas.

A informação dos moradores é que um grupo de homens vestido de amarelo iniciou o corte das árvores por volta das 6h30 da manhã de quinta-feira passada, 19, mesmo debaixo de chuva. “Primeiro derrubaram as duas do canto. Depois, quando foi ontem [no domingo, 22], amanheceu o restante cortado”, informou um residente. “Quem quer que esteja fazendo isso, está fazendo à noite para não ser pego”, acrescentou.

Um vizinho, que preferiu não ser identificado, disse não saber quem foi o mandante da poda das árvores, mas afirma que concordou com a atitude. “Eu sei que alguns vizinhos ligaram reclamando do corte, mas não fui um deles. Agora, acho errado que na hora de reclamar das pessoas nas esquinas, todo mundo fica quieto, com as árvores foi isso”, relatou. “Eu mesmo tinha vontade de fazer isso, mas não fui eu não. Não vou mentir. Não mandei fazer, mas gostei muito. Se fosse eu, tinha cortado no toco mesmo”, completou.

PONTO DE ENCONTRO – O terreno baldio, segundo moradores, era bastante usado para agendamento de programas, já que as copas das árvores davam sombra e deixavam o lugar mais escuro. No entanto, a situação continuou a mesma já que a maioria das garotas de programa simplesmente seguiu para outros pontos do bairro.

A equipe de reportagem da Folha esteve no local na manhã de ontem, 23, e presenciou várias mulheres em esquinas de residências do Caimbé, à espera de clientes.

Terreno pertence ao Governo do Estado

À Folha, o Instituto de Terras e Colonização de Roraima (Iteraima) confirmou que o terreno pertence ao Governo do Estado. “Para que seja feita poda das árvores no local, deve haver parecer ambiental e se houver risco iminente ou ameaça ao patrimônio de terceiros, o Corpo de Bombeiros Militar deve ser acionado para adotar providências”, informou.

A Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh) vai enviar equipe ao terreno para averiguar a legalidade da retirada das árvores.

Já a Secretaria Municipal de Serviços Públicos e Meio Ambiente informou que vai enviar uma equipe até o local para verificar e tomar as medidas cabíveis. “A poda ou retirada de árvores em áreas públicas sem autorização é considerada crime ambiental”, alertou.

Cerca de 400 mulheres atuam como garotas de programa no Caimbé

A Polícia Militar de Roraima (PMRR) esclareceu que, de acordo com os últimos levantamentos estatísticos realizados pela corporação, há aproximadamente 400 mulheres de origem venezuelana envolvidas com a prostituição no bairro Caimbé e adjacências.

A PM reforçou que a prostituição não é considerada crime pela Justiça Brasileira e, portanto, o Estado não tem previsão legal para realizar o controle ou mesmo impedir quem queira praticar tais atos, “que constitui-se como a troca consciente de favores sexuais por dinheiro e não prevê penalidade para quem a pratica”.

Ressaltou que o Código Penal Brasileiro considera crime quem tira proveito da prostituição, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça, previsto no artigo 230 do CPB, prática denominada “rufianismo”. (P.C.)