Cotidiano

Na contramão de outros estados, Roraima não vive crise no setor

Entre os fatores que impedem o setor imobiliário de sofrer com a crise, está o grande fluxo de pessoas vindas de outros estados

Leo Daubermann

Editoria de Cidades


A instabilidade econômica brasileira se tornou um dos assuntos mais debatidos do momento, são vários os setores afetados diretamente com a crise financeira no Brasil, especialmente o imobiliário. Mas Roraima tem suas particularidades e corretores de imóveis afirmam que o setor segue estável.

Entre os fatores que impedem o setor imobiliário de sofrer com a crise, está o grande fluxo de pessoas vindas de outros estados, ou por terem passado em concurso público ou por serem militares e terem sido transferidos, é o que afirma Alex Elias Strickelerr Fraxe, 28, dono de imobiliária. “Roraima tem essa peculiaridade, então o setor de locação de imóveis residenciais segue sempre aquecido”, avalia Fraxe.

E neste ano, de acordo com Fraxe, Roraima teve ainda outro fator determinante que acabou impedindo que o setor de locação residencial sofresse o baque da crise. “A grande imigração de venezuelanos tem sido outro fator determinante. Assim como vêm pessoas de baixa renda, que precisam da assistência do governo, vêm pessoas com poder aquisitivo médio e alto, alugam casas e fixam residência”, explica.

Conforme Fraxe existe também uma procura muito grande por áreas rurais, no estado. “As famílias dessas pessoas que adquirem áreas rurais, moram na cidade, alugam ou compram casas”, diz. 

Por outro lado, de acordo com o corretor, a parte de locação de imóveis comerciais não teve a mesma sorte.

“Desde o meio do ano passado, percebemos uma queda, alguns pontos comerciais que estavam alugados foram devolvidos, porque os locatários não conseguiram manter-se, devido à crise, e estamos encontrando dificuldade de fechar novos contratos comerciais”, destaca.

Mas o setor de construção e venda de imóveis segue aquecido, é o que afirma Reginaldo Lima, 45, há dezenove anos no ramo da construção civil, seis deles aqui em Roraima. O principal motivo foi a diminuição dos juros bancários. “De um ano para cá a Taxa Selic começou a baixar, consequentemente viabilizou a compra dos imóveis, porque os bancos começaram a facilitar os créditos”, avalia.

De acordo com o construtor, já no ano passado a procura havia sido grande, no entanto o crédito bancário estava mais restrito.

“No meio do ano passado as vendas praticamente pararam, quem tinha concessão de crédito não conseguia ter o ajuste necessário, e no início de 2018 as vendas voltaram a crescer, devido à facilidade do crédito. Não era falta de dinheiro, era falta de ajuste mesmo. Eu vejo da seguinte forma, a crise financeira não é tão grande quanto à crise política, falta vontade política”, destaca.

A “economia do contracheque” é fator determinante para o mercado manter-se aquecido, reforça Reginaldo. “A renda fixa dos servidores públicos ajuda a manter o setor imobiliário sempre em alta. Se na crise eu ganho R$ 10 mil, R$ 15 mil, antes da crise eu ganhava os mesmos R$ 10 mil, R$ 15 mil, não altera. Temos uma grande demanda de pessoas que passam em concurso público, vendem seus imóveis na cidade de origem e compram outro aqui, seja à vista ou financiado”, acrescenta.

“Aqui em Boa Vista existe uma grande demanda e pouca oferta, seja para vendas e para locação, porém a grande demanda é para locação. Até porque a pessoa que vem de fora quer primeiro conhecer a cidade, aluga um imóvel e só depois de algum tempo decide por construir ou comprar uma casa já pronta. Então nosso mercado segue aquecido, diferente de outros estados que têm sofrido com a crise financeira”, completa.

TAXA SELIC – A Taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia), chamada de taxa básica de juros, é um dos indicadores econômicos mais importantes do mercado financeiro, pois é a taxa que serve de referência para toda a economia. A Taxa Selic é obtida pelo cálculo da taxa média ponderada dos juros praticados pelas instituições financeiras. A Selic, hoje, está em 6,50% ao ano, mas está sempre sujeita a sofrer variações.