Cotidiano

Número de jovens em Roraima que não estudam nem trabalham aumenta

Percentual cresceu 8,7% se comparados os dados de 2016 e 2017, o que corresponde a mais de 30 mil jovens

O número de jovens roraimenses que não estudam e nem trabalham aumentou, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-C) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2017, esse número aumentou 8,7% em comparação ao ano anterior, o que resulta em 30,1 mil jovens que se encontram nesse perfil. Os jovens da geração nem-nem têm entre 15 a 29 anos.

A pesquisa mostrou também que a maior parte da juventude roraimense, cerca de 34%, frequentava instituições de ensino, mas não trabalhava em 2017. Ao contrário do ano anterior, quando os jovens que deixaram de estudar e estavam inseridos no mercado de trabalho era maior e somavam 33,5%. O percentual de jovens que estudavam e trabalhavam ao mesmo tempo caiu de 14,5% para 13,6%.

A socióloga Carla Rodrigues defende que a educação é a base principal para a formação de jovens, seja positiva ou negativamente. Primeiro, a falta de adequações ou escassez de materiais interativos dentro das salas de aula acabam transformando o ambiente em um lugar desinteressante, que pode justificar a evasão escolar. Além disso, os professores precisam estar sensibilizados para auxiliarem alunos que possam estar passando por dificuldades, seja de aprendizado ou em âmbito pessoal.

Essa problemática é seguida das condições socioeconômicas que muitos deles se encontram, quando param de estudar para ajudar na renda familiar e assumem cargos em trabalhos informais. O desejo de consumo também é um ponto importante, pois sem a possibilidade de empregos oferecidos, o aliciamento de adolescentes para o crime organizado é frequente. “Não é possível afirmar, mas não podemos descartar a relação entre jovens deixando de estudar para se envolverem com facções criminosas. Muitos acabam indo pela remuneração que o crime oferece. Em Roraima já é possível constatar essa realidade. Quantos jovens não estão sendo encontrados mortos no Anel Viário?”, questionou.

Para a socióloga, a falta de políticas públicas que visam diretamente o jovem é preocupante. As que já são aplicadas em Roraima são interessantes, mas não o suficiente para desenvolverem a produtividade intelectual ou ações preparatórias para o mercado de trabalho, além da necessidade de atividades focadas durante os finais de semana para que eles não fiquem ociosos. Dentro desses projetos, é necessário envolver toda a família, o jovem e a escola.

“Não adianta nada criar um projeto social e não fiscalizar, saber se o jovem está frequentando regularmente. É preciso fazer o verdadeiro acompanhamento, saber como ele está sendo inserido na sociedade. Esse tipo de atitude é somente uma resposta para a sociedade, mas sem realmente ser um paliativo, vira uma política de governo”, comentou.

Carla também destacou que existe interesse dos jovens em atividades que possam ser produtivas para eles, mas que não há oportunidade para todos. É a partir dessa premissa que o crime organizado consegue recrutar os jovens, pois utiliza o discurso que o Estado não dá acolhimento e que ele pode conseguir recursos de outra forma. “Onde o Estado está ausente, cresce a organização criminosa. Não falo que é preciso dar bolsas, fazer qualquer projeto social, mas sim investir na educação e na profissionalização para o mercado de trabalho”, completou.

Ela finalizou dizendo que o problema está justamente em procurar outros aspectos que justifiquem a falta de planejamento e atenção para esse público. A socióloga defende que é necessário acabar com o pensamento de atividades que sejam feitas somente para o momento atual e descartar o futuro. “Não há qualquer desculpa para explicar essa falta de políticas públicas efetivas para jovens. Caso contrário, crescente onda de evasão será maior e provavelmente veremos muitos desses jovens envolvidos com a criminalidade”, concluiu. (A.P.L)