Saúde e Bem-estar

Oncologista dá dicas de prevenção e esclarece dúvidas

Ainda há muitas dúvidas sobre o tratamento e os métodos de prevenção; Estado ainda precisa avançar nessa área

Hoje, 4, é o Dia Mundial do Câncer. Em Roraima, a incidência da doença é alta comparada à densidade populacional. Entre os principais tipos registrados no Estado estão o de pele, chamado não melanoma, com maior número de pacientes acometidos, tanto homens quanto mulheres. Os demais são cânceres de pulmão, mama, próstata, intestino e colo do útero.

Ainda há muitas dúvidas sobre o tratamento e os métodos de prevenção. O oncologista e coordenador da Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), Anderson Benetta, informou que cada câncer tem os principais causadores. No caso do de pele não melanoma, é a exposição solar, enquanto o de pulmão a causa é o tabagismo. O de intestino é causado pelos maus hábitos alimentares. Quanto ao de próstata, o médico revelou que não se têm estabelecidos causadores, podendo ser uma questão genética. O de colo do útero é causado pelo vírus HPV (Papiloma vírus humano) e ao longo do tempo acaba culminando na doença. Para o de mama, as principais causas têm relação com os hormônios, tabagismo e fatores genéticos.

Benetta destacou que o câncer tem basicamente três formas de tratamento, sendo cirurgia, quimioterapia e radioterapia.

“O Estado oferece cirurgia e quimioterapia. A radioterapia não é oferecida e os pacientes vão para TFD [Tratamento Fora de Domicílio]. Já está em construção a unidade de radioterapia por trás do HGR [Hospital Geral de Roraima] que deve ficar pronta entre agosto e setembro deste ano. A partir daí, o Estado será autossuficiente no tratamento”, acrescentou.

Em relação ao TFD, Benetta explicou que existe uma Central Nacional que recebe o cadastro do paciente e depois de um levantamento das unidades os envia para onde surge a vaga em hospitais de referência, aptos para fazer o atendimento, não necessariamente o Hospital de Barretos, em São Paulo.

Anderson Benetta ressaltou que o tratamento do câncer é complexo, com cada caso sendo tratado de forma diferente. “Não dá para generalizar porque cada paciente tem que ser tratado de um jeito. Varia de câncer para câncer, de como a doença se manifesta. Um paciente pode fazer quimioterapia todos os dias, outro pode fazer a cada duas ou três semanas, o outro faz uma sessão de radioterapia e acabou aí o tratamento. A Unacon oferece atendimento todos os dias. Hoje, são 27 serviços ofertados, entre eles, ambulatório, cirurgia e quimioterapia”, complementou.

Por outro lado, há quem um dia precisou do serviço de quimioterapia e precisou voltar para casa porque não tinha medicação. “Meu pai morava comigo no interior, descobrimos o câncer, ele começou o tratamento, mas sempre tinha interrupção porque falta o medicamento para a quimioterapia. Depois de muita luta, a gente conseguiu o TFD, mas enquanto isso, ele ficou internado no HGR, apenas tomando morfina, não tinha um tratamento eficaz. Quase fiquei louca. Meu pai morreu em junho do ano passado em outro Estado e o sofrimento dele acabou. Depender do serviço público é a pior coisa do mundo”, denunciou uma comerciante que preferimos não identificar.

Um médico oncologista também fez críticas ao serviço ofertado para quem faz tratamento de câncer. “Aqui em Roraima, isso é muito difícil, porque não existe uma política de fortalecimento desse serviço. Falta medicamento sim, falta clareza, falta compromisso do Estado e tudo isso reflete nos números de morte. Há casos em que ainda é possível reverter o quadro do paciente, mas a espera por atendimento, pela quimioterapia, pela radioterapia que acontece em outros Estados e o TDF não sai para aquele paciente, agrava a doença e o paciente vai a óbito. Espero que as coisas melhorem daqui para frente, mas não vislumbro nada promissor”, atacou o médico.

Sobre os medicamentos usados na quimioterapia, Benetta afirmou que não estão faltando na Unacon e, quando há necessidade, os pacientes são encaminhados para uma clínica especializada com a qual o governo mantém um convênio. “No caso da oncologia, é um dos serviços mais eficientes de toda a rede de saúde. O índice de reclamações é praticamente nulo. Se for analisar na ouvidoria do HGR, não existem reclamações porque a oncologia é um serviço diferenciado. A gente se empenha para muito”, garantiu o coordenador.

Diagnóstico e tratamento precoces são as melhores formas de ter êxito na cura do câncer. “O grande problema do câncer é que as pessoas acabam sendo relapsas com a própria saúde, não fazem os exames ou medidas de rastreamento, tem vida desregrada e vai procurar assistência quando começa a sentir os sintomas, quando a situação está séria ou às vezes quando já não vai ser possível curar aquele paciente. Se ela suspeita de câncer, tem que procurar o hospital imediatamente”, alertou Benetta.

PREVENÇÃO – Segundo os médicos, há medidas que se forem adotadas podem prevenir o câncer.

“Para o câncer de pele, evitar se expor ao sol entre as 10h e 16h. Quem tiver que ‘pegar’ o sol de Roraima, tem que usar protetor solar fator no mínimo 30. Para o câncer de mama é necessário fazer a mamografia anual todos os anos após os 40 anos. Para o de colo do útero, as mulheres precisam fazer o preventivo, que é o famoso exame de Papa Nicolau, todos os anos assim que iniciam a atividade sexual. Para o de pulmão, recomenda-se abolir o tabagismo. Para evitar o de reto, uma das opções é evitar o consumo de gordura, excessos de carne e comer mais frutas, legumes e verduras. Para o de próstata, existem medidas de rastreamento, que os homens fazem exame de toque retal ou PSA [Antígeno Prostático Específico] a partir dos 50 anos de idade e 45 para quem tem histórico familiar de câncer de próstata”, instruiu Anderson Benetta. (J.B).