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Polícia dispersa protestos na fronteira com bombas e balas de borracha


Uma manifestação contra a violência terminou em confronto no município de Pacaraima na fronteira do Brasil com a Venezuela. A Força Nacional e a Polícia Rodoviária Federal dispersaram com bombas de gás lacrimogêneo e tiros de balas de borracha os manifestantes que tinham fechado a rodovia BR 174, em protesto contra o estupro de uma estudante indígena de 15 anos, por parte de um imigrante venezuelano. Os moradores reagiram jogando pedras contra os policiais.

“A manifestação estava tranquila quando fomos atacados com balas e bombas pela polícia. Não teve muito diálogo antes de eles começarem a atirar. A questão é que não aguentamos mais a criminalidade e sem diálogo com o governo Federal, estamos abandonados na fronteira. Não somos contra os venezuelanos que vivem aqui, mas contra os que passam pela fronteira sem fiscalização nenhuma, apenas para praticar crimes”, explicou o prefeito do município Juliano Torquato (Republicanos) que também participava da manifestação juntamente com os moradores.

O protesto contou com a presença de cerca de 150 pessoas e já durava três dias. Na sexta-feira e no sábado, os moradores fizeram passeata pelas ruas da cidade. No domingo montaram acampamento na entrada da cidade e fecharam o trânsito pela rodovia BR 174. Um grupo de manifestantes também teria impedido a entrada de imigrantes pela fronteira.

Vários vídeos e imagens do momento do confronto foram compartilhados pelos moradores e mostram a violência do ataque. Em um deles, várias mulheres e crianças correm e os policiais continuam atirando e jogando bombas na população que já havia saído da rodovia e corria pelas ruas da cidade.

Após a dispersão da manifestação a fronteira voltou a ser aberta e os imigrantes voltaram a entrar no país. 

Durante a noite, após o fim do confronto, os moradores fecharam as entradas da cidade que dão acesso às ruas centrais com caminhões e pneus incendiados. O protesto deve durar até a realização de uma audiência pública com as autoridades federais.

Segundo números oficiais da Operação Acolhida comandada pelo Exército, entram em média, no Brasil, pela fronteira de Pacaraima, cerca de 600 imigrantes por dia. Conforme dados da Acnur, a Agência da ONU para refugiados, nos últimos três anos, mais de 200 mil imigrantes entraram no país.

Oito pessoas, entre elas o prefeito, são baleadas durante confronto

Prefeito Juliano Torquato levou dois tiros nas pernas

Pelo menos oito pessoas foram feridas durante o confronto na fronteira, entre elas um professor e o prefeito de Pacaraima, Juliano Torquato, que registraram boletim de ocorrência.

O professor Vitor Bruno Garrido contou para a Folha sobre o momento em que foi atingido na coxa por uma bala de borracha disparada pelos policiais rodoviários federais durante o confronto que ocorria na cidade.

“A população está cansada da insegurança. Estávamos fazendo uma caminhada com crianças e idosos, e não tínhamos nenhum intuito de guerra ou confusão, porque o que a gente quer é viver numa cidade com segurança. Mas infelizmente nós viramos alvo da PRF. Nós estávamos desarmados e eles simplesmente acertaram várias pessoas com bombas e balas, inclusive eu que não estava na BR na hora do conflito. Já o prefeito Juliano Torquato foi atingido pelas balas nas duas pernas e está em casa, em repouso, após também registrar o caso na polícia.” 

OUTRO LADO – A reportagem tentou contato com a Assessoria de Comunicação da Polícia Rodoviária Federal, mas até o fechamento da matéria não obteve retorno. 

Moradores falam do aumento da criminalidade e da manifestação 

Mais de 150 moradores de Pacaraima participaram da manifestação pelas ruas da cidade pedindo mais segurança em Pacaraima. 

A agente de saúde Marta Marques contou que o protesto tinha crianças, jovens e mulheres, e que a polícia chegou a atirar contra o prefeito do município, Juliano Torquato

“Queremos apenas um controle da entrada de venezuelanos, pois a situação na cidade está insustentável. Eles têm que pedir antecedentes criminais de quem entra no Brasil. Não pode ser a casa da mãe Joana. Nós estamos desde ontem manifestando pacificamente e não respeitaram nada antes de jogar bomba e atirar com bala de borracha contra a gente. Até o prefeito levou bala nas costas. Tem vários feridos no hospital. Isso são valores invertidos, pois deviam amparar a nós, brasileiros. Nós que estamos sofrendo, nossos filhos são estuprados e nossas casas sendo roubadas e os imigrantes tocando terror no município”.

O estupro da estudante da escola militarizada chocou a população e os moradores relataram o pavor de seus filhos serem atacados. 

Uma mãe de aluno, que pediu para não ser identificada, relatou que Pacaraima está um caos generalizado e contou que ficou horrorizada com o que aconteceu com a garota que foi atacada por um imigrante venezuelano. “Graças a Deus a Polícia Militar agiu rápido e prendeu ele, mas acredito que logo estará solto. Eu, assim como outras mães que têm filhos e filhas que precisam ir pra escola, estamos bastante preocupadas. Nossos filhos estão com medo de ir pro colégio, e com razão. O que ocorreu hoje só mostra o quanto essa cidade está sem segurança. Outros alunos já tiveram relógios, celulares roubados. Não aguentamos mais”, desabafou.