Política

Partidos brasileiros devem se tornar mais diversos, diz cientista

Para o professor Roberto Ramos, cenário atual demonstra que o Brasil não tem nenhum partido hegemônico

A população brasileira pode esperar algumas pequenas mudanças sociais já no pleito eleitoral deste ano, em consequência do atual cenário político no país. Uma das modificações pode ser o enfraquecimento de um partido predominante de liderança e um contexto menos polarizado em direita e esquerda nas prefeituras do Brasil.

Segundo a avaliação do cientista político e professor universitário, Roberto Ramos, em entrevista ao programa Agenda da Semana na Rádio Folha 100.3 FM neste domingo, 11, isso se dá em razão da necessidade de uma certa harmonia mesmo em representantes com pensamentos divergentes.

Um dos exemplos é o próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que atualmente não está filiado em nenhuma sigla desde que deixou o PSL para fundar o Aliança Pelo Brasil, ato que foi seguido por muitos dos seus apoiadores.

“Essa é a primeira vez pós-ditadura que temos um presidente sem partido, o que deixa a nossa democracia muito suscetível. Os governos são partidários. São os partidos que governam, que elegem os seus representantes. E o fato do presidente não ter chama a atenção. Isso mostra que ele não tem um padrão, ele joga com essa base do Congresso”, explica Ramos.

A falta de uma filiação partidária não corresponde, no entanto, em ausência de ideologias políticas. Para Ramos, Bolsonaro ainda exalta os princípios pelo qual foi eleito, mas o afastamento de uma ordenação partidária pode ser uma estratégia utilizada pelo presidente no alinhamento com o Congresso Nacional, viabilizando uma possível reeleição.

“Nós sabemos o comportamento político ideológico de Bolsonaro, mas do ponto de vista de base partidária o presidente não tem, o que permite ele fazer com mais facilidade esse caminho. Sobretudo com aqueles que têm um peso no processo eleitoral de 2022. Acho que a cabeça dele está voltado para isso, para a reeleição”, findou.

Assim como Bolsonaro, as demais lideranças também caminham com o intuito de formar um entendimento entre si, o que influencia já nas eleições municipais de 2020.

“Não tem nenhum partido hegemônico, que se lance de uma maneira mais determinante. Talvez no final a gente veja e perceba quem ocupou mais os lados da direita, esquerda e centro. Temos uma diversidade. O sistema público partidário brasileiro vai se tornar bem maior nesta decisão das cadeiras de prefeituras espalhadas pelo Brasil”, elencou.

Avaliação do cenário político brasileiro por líderes internacionais é muito ligado à preservação da Amazônia (Foto: Nilzete Franco)

AVALIAÇÃO INTERNACIONAL – O cientista também avaliou o cenário político brasileiro, desta vez, sob o olhar dos líderes internacionais frente à gestão de Bolsonaro. Com relação à percepção política do Brasil, o cientista afirma que muito da visão do país está ligada à Amazônia e a sua necessidade de preservação. Por conta disso, muitos representantes políticos têm o discurso de que o Brasil não cuida adequadamente da sua região, que serve aos interesses internacionais.

Para Ramos, o país colabora com essa ideia na medida que não realiza adequadamente o seu trabalho de fiscalização e preservação. A avaliação do cientista é que a falta de um combate mais efetivo aos crimes ambientais e enfraquecimento dos órgãos de controle resulta nas recentes ocorrências de incêndios no Pantanal e desmatamento na Amazônia.

“Imagine que, por questões burocráticas, muitos brigadistas deixaram de cumprir seu ofício de cuidar da região. Temos o desmonte do Ibama, ICMBIo e dos setores que fazem a diferença institucional. Ao mesmo tempo, um olhar favorecido das queimadas em razão da agroindústria que tem usado esse avanço em relação à Amazônia. E, por fim, o discurso do presidente atribuindo um pouco aos indígenas e ribeirinhos às queimadas. Se fosse assim, a Amazônia já teria acabado há muito tempo”, avaliou.