Política

Federação publica nota de repúdio e cobra resposta do caso Ivo Seixas

A FenaPRF quer que o Governo do Estado de Roraima exonere o Diretor do Departamento de Operações Especiais da Polícia Civil de Roraima 

A Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF), publicou, no domingo, dia 8, uma nota intitulada “Nota de repúdio ao descaso do Poder Público de Roraima no caso Ivo Seixas”. A entidade de classe que congrega os 26 sindicatos estaduais, representando cerca 15 mil Policiais Rodoviários Federais em todo o país, apontou que faltam ações do governo, reforçadas pelas omissões em relação ao “assassinato” do policial rodoviário federal, Ivo Seixas, que aconteceu no dia 7 de abril de 2018.

No texto, a Federação classifica como moroso o andamento do caso no Poder Judiciário do Estado. “Neste caso, beira a inércia, e se reflete no fato de que todos os envolvidos no crime permanecem em liberdade. Ademais, o processo corre em segredo de justiça sem motivação e justificativa, dificultando o acompanhamento do caso pela família e colegas de trabalho que clamam por justiça”, destacou a nota. 

A FenaPRF disse que o fato de o Governo do Estado de Roraima manter na função de Diretor do Departamento de Operações Especiais da Polícia Civil de Roraima, um dos envolvidos diretamente no crime, aumenta a sensação de impunidade e absoluto descaso com o homicídio de um policial, cometido por outros policiais.

“O delegado que chefiava a ação criminosa que culminou na morte do PRF Ivo Seixas responde atualmente por outros crimes, além de ser um dos envolvidos na tentativa de forjar a cena do crime para incriminar o PRF, conforme apurado na Operação “Farsa”, da Polícia Federal. Ao manter um dos agentes públicos envolvido em um assassinato e outros crimes, ocupando cargo de relevância e importância nas atividades de Combate ao Crime Organizado, Tráfico de Drogas e Operações Especializadas no âmbito do estado de Roraima, o Governo do Estado zomba dos familiares, colegas policiais e de toda a sociedade”, frisou a nota.

Para finalizar a nota, a FenaPRF manifestou solidariedade aos familiares, amigos e todos os Policiais Rodoviários Federais de Roraima e do Brasil, “pelo sentimento de impunidade que se funda na morosidade da justiça e na revolta com os benefícios injustificados mantidos a um delegado que virou às costas à sua missão enquanto policial, e se tornou parte daquilo que ele deveria combater”, concluiu.

Deputado Nicoletti disse que governador tem conhecimento do caso


Nicoletti cobrou ação efetiva do governo do Estado e da Justiça (Foto: Arquivo Folha)

Quem se manifestou sobre o caso na tarde dessa segunda-feira, 9, foi o deputado Federal Antônio Carlos Nicoletti (PSL), que também é policial rodoviário federal, ocasião em que expressou a insatisfação da categoria diante da cobrança de ações mais efetivas tanto da justiça quanto à nomeação ao cargo de chefe do GRT (Grupo de Resposta Tática), da Polícia Civil, para o delegado envolvido na ocorrência que resultou na morte do policial rodoviário federal Ivo Seixas.

“Então, num primeiro momento, foi constatado que o prf seria inocente e o Judiciário deu liminar para afastar o delegado do cargo e prender esse delegado e mais alguns envolvidos. Agora, recentemente, assumiu o cargo dessa chefia. A corporação não está contente com essa indicação do governo do Estado e não apenas a PRF do Estado de Roraima, mas a nível nacional. Todos estão pressionando. A Federação fez a nota para cobrar do governo do Estado que exonerasse esse delegado do cargo que está ocupando atualmente”, destacou o deputado.

Nicoletti classificou a nomeação do delegado para um cargo de chefia como uma “afronta a uma instituição que prima pelo combate à corrupção e a todo tipo de ilegalidade”. 

Nicoletti informou que semana passada entrou em contato com o governador Antonio Denarium (PSL), a fim de que a nomeação do delegado fosse reavaliada. “Falei toda a situação para ele [governador] que disse que iria analisar a situação do delegado, se iria exonerar ou não, mas ele já sabe de todos os detalhes, sabe do processo que está rolando na Justiça e a Federação está aguardando um ato do Poder Executivo pela exoneração e também pelo ato do Poder Judiciário, para que demonstre que o processo está dando seguimento normal, não está sendo deixado de lado”, complementou.

O deputado reforçou que a cobrança é de toda a categoria e que, na condição de parlamentar e policial rodoviário federal, precisa solicitar do governo que aceite o pedido de exoneração, enquanto também articula com a Justiça uma resolução para o caso.

Com relação à situação do Judiciário, o parlamentar concorda que o processo está moroso. “Está em segredo de Justiça, a família não tem acesso, não houve nenhum andamento, está cozinhado, parado há um bom tempo e a sugestão que eu dei para a Federação, ao me procurar, é que eu vou conversar diretamente com o desembargador, presidente do TJRR [Tribunal de Justiça de Roraima], Mozarildo Cavalcante, para a gente verificar o que pode ser feito para dar celeridade a esse processo. Que a gente verifique o que está travando, porque não foi colocado em pauta ainda para ser dado seguimento. Devo estar marcando a conversa com o desembargador para a próxima semana”, enfatizou.

TJRR – O Tribunal de Justiça de Roraima informou, em nota, que o referido processo, que tramita na Vara de Entorpecentes e Organização Criminosa, está em segredo de justiça, impedindo o repasse de qualquer informação a respeito.

GOVERNO – Até o fechamento da edição, o Governo do Estado não havia retornado sobre o tema para a reportagem da Folha

Entenda o caso sobre a morte do PRF

Na noite do dia 7 de abril do ano passado, uma operação da Polícia Civil de Roraima, em combate ao tráfico de drogas, resultou na morte do PRF Ivo Seixas, lotado na Superintendência da Polícia Rodoviária Federal do Amazonas. As investigações a respeito do caso foram coordenadas pela Polícia Federal, que concluiu que o agente federal não tinha envolvimento com o tráfico de drogas e estaria em Boa Vista por motivos particulares, na intenção de pedir a namorada em casamento, o que chegou a fazer, de fato. 

A PF também informou que durante a investigação não foi encontrado qualquer indício da participação criminosa do servidor federal. “Ele estava no local errado e na hora errada, e não reagiu a abordagem, e isso está bem esclarecido pela investigação”, afirmou a Superintendente Regional da PF, Rosilene Santiago.

Seixas foi baleado em um hotel localizado no Centro de Boa Vista. A Polícia Civil, na época, declarou em nota que o agente reagiu à abordagem que investigava o tráfico interestadual de drogas.

Na ocasião, um jovem de 23 anos foi preso com 19 Kg de drogas na região da Praça do Mirandinha, no bairro Caçari. Segundo a Polícia Civil, o suspeito informou aos agentes que a droga seria levada para Manaus (AM) e o comparsa estava hospedado em um hotel no Centro de Boa Vista, o mesmo onde estava o policial rodoviário federal. Esse comparsa [que estaria hospedado no mesmo hotel do PRF] foi preso em Armação dos Búzios, no Rio de Janeiro (RJ).

As investigações foram iniciadas após a Polícia Civil de Roraima divulgar Nota Oficial informando o envolvimento do PRF no crime de tráfico interestadual de drogas. “O crime teria indícios de flagrante forjado, com simulação e manipulação de provas, lavrado no 3º Distrito Policial em Boa Vista entre os dias 7 e 8 de abril, além do envolvimento de nove investigados, entre eles, cinco policiais civis”, detalhou a PF.

Passadas duas semanas do crime, policiais federais cumpriram oito mandados de busca e apreensão e seis de prisão temporária. Os suspeitos presos pela Operação Farsa são investigados pelos crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico, organização criminosa, obstrução de justiça, tortura, fraude processual e homicídio. (J.B)