Política

Pressões internacionais não mudam política ambiental para a Amazônia

O programa Agenda da Semana, apresentado pelo Economista Getúlio Cruz, recebeu como um dos entrevistados o cientista político e professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima, Leonardo Evedove. Ele falou sobre a relação diplomática do Brasil com países europeus como a França, Alemanha e Noruega após os últimos acontecimentos envolvendo as queimadas em áreas da floresta amazônica e de como o governo federal tem lidado com as questões ambientais.

Para Evedove, só as atuais pressões internacionais não mudarão a política ambiental para a Amazônia, embora o governo apresente sinais que esteja repensando algumas ideias. O professor ainda falou sobre o Fundo Amazônia, no qual são disponibilizados recursos financeiros de governos e empresas nacionais ou estrangeiros, com objetivo de financiar ações de prevenção, monitoramento e conservação da floresta. Recentemente o Fundo foi alvo de comentários do Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que declarou a necessidade de reavaliação dos critérios de aplicação dos recursos e reclamou da pouca participação do Brasil. 

O resultado foi a suspensão da Noruega de aplicações no fundo, deixando de repassar cerca de R$ 133 milhões ao tomar conhecimento de que o governo extinguiu o comitê orientador.

Evedove disse que para compreender o cenário atual e de como os acontecimentos podem comprometer as relações dos outros países com o Brasil, é importante que ocorra a separação de política externa e interna. 

“A política interna envolve meio ambiente, políticas públicas, desmatamentos e queimadas que geram reflexos no ambiente da política externa. As queimadas massivas e pressões internacionais não são fatos inéditos na história do Brasil. Inclusive ocorreu uma no Brasil em 1987, o que na época também gerou um quadro de pressões que redundaram em repercussões para a Rio-92”, disse.

Para o professor, a comunidade internacional já estava atenta à postura do atual presidente muito antes da posse.

“Desde a campanha eleitoral é observado o discurso do Bolsonaro. A retórica sobre perspectivas ambientais e Ongs foi anunciada desde a campanha eleitoral. O discurso do ministro do meio Ambiente também deixa claro que o foco não era nas florestas, mas sim no bem-estar nas cidades e controle de emissão de gases”, disse.

Leonardo Evedove também explicou que o Brasil não é uma estrutura autônoma, e que o representante é apenas uma figura que cumprirá tempo determinado com obrigações a responder a demandas feitas pelas sociedades e que isso não influencia nas relações de consumo. 

“O governo vai respondendo às pressões internas e externas. Não creio que pedidos dos governos internacionais alterem a preferência dos consumidores privados locais de produtos oriundos do Brasil. O valor da Amazônia não foi construído hoje, e preservação do meio ambiente é um apelo que em questão de opinião pública funciona, mas ninguém deixará de comprar barato o que tenha mais qualidade por causa disso.”