Política

Responsável pela Coopebras se nega a falar de salário de R$120 mil

Segundo depoimentos de outras pessoas, o vice-presidente recebia 12 vezes mais do que diretor-presidente

O vice-presidente da Coopebras (Cooperativa Brasileira e Múltiplos Serviços Médicos) Edivaldo Pereira se reservou a não responder o motivo pelo qual o salário pago a ele pela cooperativa, de R$ 120 mil por mês, é 12 vezes mais do que o vencimento do diretor-presidente. As informações foram indagadas pelos membros da CPI da Saúde (Comissão Parlamentar de Inquérito) em oitiva nesta terça-feira (4), no plenário Noêmia Bastos Amazonas.  

Foram convidados a depor o vice-presidente da cooperativa, Edvaldo Pereira Vieira, e o irmão e gerente operacional da Coopebras, Edilson Pereira Vieira, em mais de quatro horas de duração. A presença dos dois foi requerida pelo vice-presidente da CPI da Saúde, deputado Nilton Sindpol (Patri) após denúncias de que a cooperativa se beneficiaria há anos com recursos públicos destinados a pagamento de profissionais da saúde e, inclusive, a realização dos chamados “plantões fantasmas” pagos sem a devida execução dos serviços.  

O primeiro a ser ouvido pela comissão foi Edivaldo Pereira Vieira. Entre os questionamentos feitos pelo deputado Nilton Sindpol foi em relação à condução da cooperativa pelo vice-presidente e não pelo diretor-presidente, primeira figura na hierarquia da empresa. “Eu não tenho mais poder, simplesmente trabalhava mais do que os outros”, defendeu. 

Contudo, Edivaldo preferiu não responder o que justificaria o salário pago a ele ser de R$ 120 mil, enquanto do diretor-presidente estaria entre R$ 8 a R$ 10 mil. De acordo com o presidente da CPI, deputado Coronel Chagas (PRTB), após leitura do estatuto da Coopebras, a figura do diretor-presidente seria “meramente decorativa”.  

“Foi uma decisão do vice-presidente se autoremunerar?”, questionou Coronel Chagas. “Não vou responder porque é algo interno da Coopebras”, respondeu Edvaldo. Chagas insistiu. “Esse valor do seu salário de R$ 120 mil bruto, feito a partir do cálculo do número de cooperados, teve deliberação em alguma Assembleia?”. “Isso é uma coisa interna, a diretoria sabe, não vou responder sobre isso”, calou-se Edivaldo.  

Outro ponto que chamou a atenção da CPI da Saúde foi quanto a transferências vultosas das contas da Coopebras para contas de empresas e da Fazenda Esmeralda, de propriedade do próprio Edivaldo Pereira, que negou as informações e disse ainda que parte dessas transferências foram para evitar bloqueios e/ou são resultados de contratos diretos com a Sesau (Secretaria Estadual de Saúde).  

A elaboração das escalas médicas foi ponto de indagação dos parlamentares. A intenção era confrontar as informações obtidas nos processos. Conforme Edivaldo, a escala era elaborada pelas unidades hospitalares conforme demanda/necessidade da instituição.  

Na reunião da CPI ocorrida no dia 27 de abril, com a presença do ex-diretor-presidente Jorrimar Viana, falou-se sobre a “moeda” de pagamento aos profissionais médicos entre a secretaria e a cooperativa. Edivaldo explicou que todos os médicos receberam pelos plantões efetuados e não era visto como moeda de troca.  

Além disso, a deputada Lenir Rodrigues (Cidadania) perguntou como funcionava o pagamento feito por procedimentos em forma de plantão. “Esse procedimento começou com o doutor Kalil porque teve o mutirão de cirurgias”.  

Frequência era no caderno 

O controle da frequência feita nos plantões médicos nas unidades de saúde era feito em caderno, disse o gerente operacional da Coopebras, Edilson Vieira. O depoimento causou espanto e estranheza nos membros da CPI da Saúde. “Os cooperativados não podem bater ponto”, justificou o depoente.  

Coronel Chagas ressaltou que em diligência nas unidades de Saúde foram encontrados cadernos com a semana toda assinada. “Esse controle é um problema, é muito fácil um assinar para outro”, frisou o parlamentar. O atesto nas frequências, disse Edilson, partiam dos coordenadores juntamente com a cooperativa, sem citar nomes.  

Munidos de documentos, Edilson apresentou a CPI da Saúde relatórios de cirurgias feitas em 2015 no mutirão denominado Caravana do Povo o que justificaria o pagamento de médicos profissionais de várias especialidades.  

A reunião contou com a presença dos deputados Coronel Chagas – presidente; Nilton Sindpol – vice-presidente; Jorge Everton – relator; Lenir Rodrigues; Éder Lourinho (PTC) e Renato Silva (Republicanos); além de Evangelista Siqueira (PT) que participou de maneira virtual. O conteúdo da CPI da Saúde está disponível nas redes sociais da Assembleia Legislativa de Roraima (@assembleiarr).