Política

Sindicato diz que Governo deve mostrar resultados

Presidente do Sindpol, Leandro Almeida, afirma que falta o Poder Executivo conceder promoção à categoria

Uma das demandas da categoria de policiais civis do Estado, a promoção dos profissionais, estava prevista para acontecer em dezembro deste ano, porém o incentivo não deve ser concedido em 2019. A informação é do presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil do Estado de Roraima (Sindpol-RR), Leandro Almeida.

O presidente do Sindpol em entrevista à Rádio Folha 100.3 FM, no programa Agenda da Semana do domingo, 29, explicou que a promoção dos profissionais estava prevista para acontecer em maio deste ano, mas com a prorrogação do Decreto de Calamidade Financeira expedido pelo governador Antonio Denarium (PSL), todos os incentivos ficaram suspensos até o fim do decreto, em dezembro de 2019. 

“Tivemos notícias que as promoções de todas as corporações que estavam suspensas, serão reativadas em dezembro, menos a da Polícia Civil. A informação é que não vai acontecer a promoção em dezembro e não há definição de quando ela será feita”, informou Leandro.

O sindicalista explica ainda que muitos dos servidores da categoria que ficaram sem receber por três meses no ano passado, ainda na gestão da ex-governadora Suely Campos (PP), estavam contando com a promoção funcional para regularizar suas dívidas de cartão de crédito, parcelamentos, juros e empréstimos, oriundos do atraso do salário.

Almeida completa também que o Governo do Estado tem divulgado as ações da Polícia Civil nas redes sociais, dando destaque aos números de mandados de prisões cumpridos pela Polinter em Roraima e no aumento da elucidação de crimes violentos.

“Ou seja, dando visibilidade ao trabalho dos policiais civis, mas na hora de valorizá-los, infelizmente é isso que temos como resposta. Gostaríamos que o Governo do Estado continuasse a divulgar o trabalho que estamos fazendo, mesmo sem as condições adequadas, pois estamos cumprindo o nosso papel, mas que também nos valorizasse”, completou.

GESTÃO X SINDICATO – Apesar das críticas, Almeida ressaltou que a população não precisa temer uma suposta ‘guerra’ entre a gestão e o sindicato. O presidente explicou que após a entrevista do Delegado-Geral à Rádio Folha, houve a convocação de uma reunião com a categoria, onde foram ouvidas as demandas dos policiais civis.

“O Sindicato foi chamado para conversar, mesmo diante de críticas duras, foi chamado para sentar à mesa. Parabenizo o Delegado-Geral por essa atitude. Nós temos a responsabilidade de apontar as coisas que estão erradas e as possíveis soluções”, revelou.

O sindicalista afirma que o principal incômodo foi na declaração do Delegado-Geral relacionado a gastos de combustível na unidade e que atualmente há uma racionalidade dos materiais. Na época, Amorim teria dito que estava sendo feito um controle maior no gasto, para evitar possíveis irregularidades.

“Eu não acho que seja saudável o chefe da Polícia Civil lançar as críticas que ele fez, pois pode dar uma visão diferente para a sociedade. Internamente, ele poderia usar de mecanismos para coibir e penalizar esse uso indevido por policiais. Isso existe sim, em todos os setores do serviço público. Agora, como chefe de Polícia, nós entendemos que isso não soou bem. Mas isso já foi conversado com ele. Todos nós estamos passíveis de equívocos”, avaliou.

Com relação à falta de materiais, como papel e toner, o sindicalista afirma que realmente aconteceram e que a população percebeu o problema ao recorrer às delegacias, mas que atualmente a situação já está sob controle.

“Queremos tranquilizar o ouvinte sobre a informação de que a Polícia Civil está em guerra. O papel do sindicato é esse mesmo. Procuramos preservar o respeito e fortalecer a política de segurança pública em Roraima. Sabemos que isso não é culpa do atual governador, do atual delegado-geral. Mas eu tenho que cobrar é deles para que tomem as providências”, explicou.

OUTRO LADO – A Folha entrou em contato com o Governo do Estado para saber informações sobre a promoção dos policiais civis. Por meio de nota, o Governo de Roraima informou que reconhece a necessidade de valorização do servidor público, mas entende que promoções e, consequentemente, reajuste salarial, entre outros, dependem da capacidade da gestão em arcar com esses benefícios, mantendo em dia e, dentro do mês trabalhado, o pagamento de todos os servidores estaduais. “O Governo segue trabalhando para equilibrar as contas públicas, combatendo excessos e eliminando desperdícios, para, em momento oportuno, honrar os compromissos com os servidores.”

Modelo de investigação policial é ultrapassado, diz presidente do Sinpol

Outra situação levantada pelo presidente da Sindpol é quanto ao modelo atual utilizado pela segurança pública no Brasil. A avaliação de Almeida é que o modelo da polícia de investigação é totalmente ultrapassado e retrógrado, trazendo dificuldades no avanço da resolução dos casos.

No caso, o presidente cita a questão de que as principais decisões sobre uma investigação, como solicitar o depoimento de uma testemunha, tem que ser conduzida por um delegado de polícia, fazendo com que o agente atue mais como um levantador de informações.

“O nosso modelo de inquérito só existe no Brasil e em dois países da África. É muito ultrapassado. Tem algumas formalidades que são obsoletas e isso traz prejuízo para a investigação. O resultado é que as medidas não fluem na velocidade que a gente precisa e os casos se abarrotam. Pela falta de estrutura e recursos humanos fica mais difícil de coletar provas, ao longo do tempo, e o crime fica mais difícil de ser solucionado”, explica Almeida.

O sindicalista explica que as categorias de vários estados têm conversado para tentar dar mais capacidade de decisão aos agentes policiais civis ou até de unir forças com outras unidades de segurança pública, como a Polícia Militar e a Guarda Municipal.

Para Almeida, a situação atual da categoria tem inclusive influenciado no declínio da saúde mental dos trabalhadores da área. Segundo ele, existem policiais civis que se capacitam, falam mais de quatro idiomas, mas têm dificuldade para crescer na carreira.

“Quem tem policial amigo sabe que ele sofre de algum distúrbio, seja físico ou mental. É estressante. No ano de 2019, o número de policiais que cometeu suicídio ultrapassou o número de policiais mortos em combate no Brasil. E o estresse é oriundo inclusive do modelo policial”, alerta.

Uma das soluções defendidas pelo Sindicato é a possibilidade de criação de uma carreira, mediante concurso público, onde proporcione que os policiais civis consigam ter mais chance de decisão.

“Existe essa distinção entre agentes e delegados, quando na verdade são todos policiais civis. Todos deveriam compor uma única carreira até chegar a delegado. O policial precisa ter a chance de poder subir, mas se não fizer um trabalho bem feito, também pode ser excluído”, finalizou Almeida. (P.C.)