Política

Testemunhas denunciam supostas irregularidades em cirurgias

Profissionais de saúde relataram suposto esquema aos deputados membros da CPI da Saúde nesta quarta-feira, 29

Duas cirurgiãs-dentistas denunciaram suposta conduta irregular de profissionais nas cirurgias buco-maxilo-oficiais realizadas pelo Hospital Geral de Roraima (HGR). As profissionais de saúde relataram a situação aos deputados membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) nesta quarta-feira, 29.

De acordo com uma das testemunhas, que foi coordenadora do serviço por 40 dias em 2018, um grupo de cirurgiões dentistas estaria sendo favorecido na realização de procedimentos. Ela explicou que pela suposta falta de materiais, muitas cirurgias não são realizadas no SUS e os pacientes acionam a Justiça.

Segundo a CPI, o Ministério Público costuma então indicar a realização dos procedimentos na rede privada. Para isso, o paciente precisa entregar três orçamentos, porém todos os documentos que chegam ao órgão seriam ofertados sempre pelas mesmas clínicas particulares.

Conforme a profissional, os preços cobrados chegam a ser três vezes maiores que os valores praticados em outras clínicas. A testemunha frisou que há mais clínicas especializadas em Boa Vista, e por isso não entende por que apenas três delas são escolhidas.

“Às vezes tinha material, e aí diziam que não tinha material pra operar, mandavam o paciente procurar a Justiça e aí eles faziam orçamento. Por que na Justiça você tem que dar três orçamentos. Tem uma paciente que falaram que não tinha o material, mas nós operamos com o material do HGR”, explicou.

A segunda testemunha, atual coordenadora do setor de buco maxilo, também mencionou a situação. Ela entregou aos deputados um relatório de 125 páginas com informações apuradas por ela desde que assumiu o cargo em setembro de 2019.  Ela frisou que assim que começou a trabalhar, se sentiu ameaçada e perseguida pelo coordenador anterior e que chegou a ser avisada que havia corrupção no setor. 

Relator da CPI vai solicitar apuração de valores pagos por cirurgias privadas

O relator da CPI, deputado Jorge Everton (MDB), informou que vai solicitar uma perícia aos órgãos competentes para apurar os valores pagos pelas cirurgias e se elas foram realmente realizadas.

“Vamos ouvir os que foram denunciados e também os pacientes, que de certa forma foram atendidos, operados ou passaram por uma fila de espera. Também estamos solicitando cópia da relação de procedimentos pagos judicialmente para que possamos ouvir esses pacientes e assim solicitar perícia, com base em tudo isso iremos solicitar ao Conselho Federal de Odontologia que enviem representantes para fazer perícias para chegarmos às nossas conclusões”, finalizou.

Para o vice-presidente da CPI, deputado Nilton Sindpol (Patri), se estes fatos forem comprovados, a CPI vai tomar as medidas necessárias para punir os responsáveis. “Se realmente comprovar, as pessoas têm que responder um processo e serem presas além de devolver o dinheiro dos materiais utilizados nessas cirurgias estéticas”, afirmou o deputado.

OUTRO LADO – Em nota, a Secretaria de Saúde (Sesau) informou que a gestão ao iniciar o trabalho, nesse momento do Governo do Roraima, tomou a medida de priorizar o processo de aquisição de materiais para a realização de cirurgias buco-maxilo-facial.

“O processo já foi concluído e realizada a solicitação de parte dos materiais que serão direcionados para as cirurgias de emergência. A gestão esclarece que nos próximos dias será feita a reorganização dos serviços, a partir a distribuição dos pacientes que aguardam cirurgia, dividindo os profissionais buco-maxilo-faciais em comissões, para que seja realizada a reavaliação de cada um dos pacientes. O objetivo é referendar a lista de materiais e solicitar que a empresa faça a entrega o mais rápido possível, e assim sejam retomadas as cirurgias eletivas o quanto antes”, afirmou. 

A Sesau ressalta ainda que em relação às denúncias sobre a conduta de profissionais a gestão tem adotado a postura de colaborar com os órgãos de controle, entre eles, Assembleia Legislativa, Ministério Público e Tribunal de Contas, para que os fatos levantados sejam apurados e adotadas as medidas cabíveis após apuração dos casos.

“A Sesau reitera que se houver qualquer comunicação oficial sobre a conduta de algum profissional da área de buco-maxilo-facial, por parte dos órgãos de controle, serão tomadas todas as medidas necessárias, bem como a Sesau está à disposição da justiça para esclarecer a ajudar a elucidar qualquer fato levantado seja na CPI, denúncia de servidor ou paciente. A gestão reafirma o compromisso de reorganizar o serviço de saúde, por meio do reforço dos trabalho que está sendo feito, para que o mais breve possível seja retomada a normalidade, pautada sempre no objetivo de oferecer o atendimento digno à população”, finalizou a nota.