Cotidiano

Policiais civis ameaçam fechar 5º DP

Categoria afirma que não tem mais condições de trabalhar e esta é uma maneira de chamar a atenção do Governo do Estado

Em assembleia, que contou com a participação de mais de 300 pessoas, realizada pelo Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Roraima (Sindpol) na manhã de ontem, 3, foi decidido que o próximo passo da categoria para pressionar o Governo do Estado em relação à falta de salários será o fechamento da única delegacia que está funcionando em Boa Vista, o 5º Distrito Policial (DP), por 72 horas a partir de amanhã, 5, às 8h. A categoria já está há quase três meses sem receber salários.

O presidente do Sindpol, Leandro Almeida, explicou que a situação já está insustentável para a prática de atividades, uma vez que servidores já não dispõem mais de gasolina ou insumos mínimos para trabalhar. Ele também apontou que o próprio sindicato já está sem dinheiro, uma vez que o Governo do Estado não realiza repasses de contracheque há cinco meses.

“Chegamos ao limite e não há uma autoridade que pense nos servidores. Não é mais possível continuar atividades com mais de dois meses sem receber. Não há perspectiva para recebimento de salários até pelo menos o final de janeiro. Por isso, o próximo passo teria que mostrar para qual direção esse Estado está caminhando com policiais que já não conseguem trabalhar”, explicou.

Para presidente do Sinpol, categoria já ‘chegou ao limite’ (Foto: Wenderson Cabral/Folha BV)

Com o fechamento da Central de Flagrantes do 5º DP, quaisquer atividades que estão ligadas à Polícia Civil, como registro de Boletins de Ocorrência (B.Os), investigações em andamento e análises do Instituto Médico Legal (IML) serão interrompidas até sábado, 8.

“Na prática, estamos ainda articulando como funcionará a nossa logística no 5º DP, uma vez que teremos que evitar que alguém tente entrar por 72 horas. Como consequência, não haverá viaturas da Polícia Civil disponíveis, não será possível registrar B.Os e até mesmo os corpos que forem encontrados não serão removidos pelo órgão. A ideia é que nada funcione”, complementou Leandro.

O presidente do sindicato também comentou que outro problema, já comum entre os policiais civis e reportado pela Folha, é o de gastos que saem do bolso dos próprios servidores para que haja condições de trabalho em delegacias, que se deparam com falta de insumos como produtos de limpeza e papel.

“Também precisamos parar de dar o jeitinho brasileiro para quebrar galho de problemas do estado. Já estamos acostumados a comprar produtos como combustível, papel, tinta de impressora, entre outros, quando esses materiais ficam em falta. Isso é responsabilidade do estado, não nossa, então faremos exatamente o que determina a lei daqui para frente”, frisou.

Uma servidora da Polícia Civil, que optou por não ser identificada, afirmou que em 15 anos de carreira, nunca houve uma situação tão crítica quanto esta. Ela disse também que a paralisação da Central de Flagrantes não é desejo da categoria, mas é a única forma de conscientizar a população quanto à dimensão do problema da falta de salários.

“Dá para imaginar o quanto essa falta de salários vem impactando todos de casa, uma vez que as contas não param de chegar. Estamos vivendo a base de empréstimos e contando com as doações de cestas básicas para comer. É algo humilhante. Nós não queremos que o 5º DP deixe de funcionar, mas não vemos alternativa. Está ficando cada vez mais difícil manter os serviços de qualquer forma”, contou.

GOVERNO – A Folha encaminhou demanda ao Governo do Estado, mas não obteve retorno. (P.B)

Mulheres bloqueiam saída de viaturas em quartel da PM em Rorainópolis

Enquanto policiais civis articulam o fechamento do 5º Distrito Policial, mulheres de policiais militares se mobilizaram para impedir a saída de viaturas do quartel da Polícia Militar situado no bairro Suelândia, na sede do município de Rorainópolis.

“Começamos às 5 horas da manhã e ficaremos aqui até que a governadora nos dê alguma satisfação quanto à atual situação do estado. Faltam menos de 30 dias para o mandato dela acabar e sabemos que o mais provável é que o governo não conseguirá fazer esses pagamentos”, relatou Maria do Socorro, uma das manifestantes.

Maria do Socorro acrescentou que está atuando em conjunto com as esposas de militares em Boa Vista. “Quem faz a escolta dela? Os policiais militares! E para quê? Para haver essa falta de respeito justo no término de seu mandato. Acreditamos que a governadora precisa nos dar alguma satisfação quanto ao o que está acontecendo”, frisou.

Manifestantes pedem doações

A cada dia que passa, fica mais complicado os servidores estaduais comprarem alimentos e até fraldas para os filhos. Por isso, as frentes de duas categorias que não podem parar de prestar serviço pedem para que a população ajude a garantir a alimentação de famílias de policiais militares e agentes penitenciários.

Para doar alimentos e insumos básicos, como água, para os policiais militares, bastar levar contribuições para o Centro Cívico, onde as mulheres estão acampadas debaixo de tendas, próximo à entrada do Palácio Senador Hélio Campos há mais de um mês.

“Os policiais estão passando aqui para se alimentar. Eu nunca achei que fosse ver uma cena assim antes. A população em geral vem mostrando ser solidária a nossa causa, mas ainda estamos com recursos escassos. Além disso, estamos mandando alimentos que recebemos aqui para a 2ª Brigada, para elas prepararem os alimentos e depois darem aos policiais”, afirmou Flávia Aguiar, uma das esposas acampadas no local.

Já no caso dos agentes, a presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado de Roraima (Sindape), Joana Darc, afirmou que as doações estão sendo recebidas na entrada lateral da Cadeia Pública Masculina, no bairro São Vicente.

“Estamos com atividades paralisadas, mas não podemos deixar de fazer atividades essenciais. Mas nós quase não estamos conseguindo trabalhar sem sustento, ainda mais porque não possuímos outra fonte de renda. O posto para arrecadação começou a funcionar nesta segunda e estaremos com pessoas para receber doações dia e noite”, afirmou.

Sindicatos se retiram de reunião sobre recursos do Iper

Poderá ser votado hoje, 4, em sessão da Assembleia Legislativa de Roraima, Projeto de Lei sobre a utilização de recursos do Instituto de Previdência do Estado de Roraima (Iper) para pagamento de salários dos servidores efetivos. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Civis Efetivos do Poder Executivo de Roraima (Sintraima), Francisco Figueira, esteve reunido junto com representantes da Assembleia para tratar de soluções para a falta de pagamentos e se retirou após o uso do recurso virar principal pauta de discussão.

Para o presidente do Sintraima, Francisco Figueira, poderes precisam se sensibilizar quanto situação de servidores estaduais (Foto: Wenderson Cabral/Folha BV)

“Nos retiramos da reunião, junto com outros sindicatos, por sabermos que o uso de recurso do Iper é uma forma de contornar a responsabilização dos poderes Legislativo e Judiciário pela atual situação do estado”, criticou.

Para o sindicalista, os poderes precisam se sensibilizar quanto à situação dos servidores estaduais. “Nós estamos passando por uma crise, então, os poderes deveriam abrir mão da totalidade da sua parcela de duodécimo, pagar os seus servidores e deixar que o Executivo pague os seus trabalhadores”, sugeriu. (P.B)

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