Cotidiano

Professor da UERR comprova que dormir em rede traz benefícios

Tese que demorou quase três anos para ser concluída aponta que professor constatou maior sensação de frescor ao corpo do que em um colchão

Que a rede é considerada uma das paixões do roraimense, disso ninguém tem dúvida. No entanto, uma tese de doutorado feita por um professor da Universidade Estadual de Roraima (UERR) comprovou que esse item possui qualidades que vão além da transmissão de sensação de conforto.

Natural da cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o enfermeiro e doutor em Ciências, Ricardo Ramos, 49 anos, disse que a ideia surgiu por meio de uma observação empírica, já nos primeiros dias em que chegou ao Estado, há nove anos.

“Quando cheguei aqui, em Roraima, comecei a dormir em rede. Aí descobri que esse tipo de leito transmitia uma maior sensação de frescor ao corpo do que um colchão. Fora isso, o tipo de material que reveste a rede consegue se moldar com mais facilidade ao corpo. Foi o que despertou o interesse de me aprofundar mais sobre essa questão”, afirmou.

Com o assunto em mente, o especialista decidiu utilizar a experiência pessoal em sua tese de doutorado. O estudo também rendeu a publicação de dois artigos em revistas internacionais, além de uma matéria reconhecida durante um congresso realizado em Cuba.

“A pesquisa foi feita pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro [Unirio], por meio do programa de doutorado de Enfermagem e Biociências, do qual eu fazia parte como aluno. Os testes foram todos feitos dentro do laboratório do curso de enfermagem da Universidade Estadual de Roraima [UERR], onde ministro a disciplina de enfermagem fundamental”, afirmou.

Segundo ele, foram realizados aproximadamente 100 testes no laboratório de enfermagem da UERR. Durante os testes, o especialista notou diferenças perceptíveis na temperatura corporal das cobaias. “40 pessoas foram utilizadas no estudo e elas realizaram teste tanto em redes quanto nos colchões, com tempo cronometrado em 30 minutos. Nisso, nós percebemos variações de temperatura corporal em ambas as situações, sendo que na rede, essa variação foi de 1° grau acima da temperatura normal do corpo, enquanto no colchão o aumento ficou acima dos 3° graus. Ou seja, se a temperatura for de 30° graus, na rede a temperatura após esses 30 minutos subirá para 31° graus, enquanto para o colchão, a temperatura ficará em 33° graus ou até mais”, relatou.

Outro item verificado durante a pesquisa foi em relação à pressão exercida pelo corpo sobre a superfície usada como leito. Com um equipamento chamado “dinamômetro”, o professor verificou que quanto mais dura for à superfície, maior será a pressão exercida pelo corpo, sendo o oposto quando o material de revestimento do leito é mais adaptável.

“É uma variação que gira em torno de 40 milímetros de abertura, ou seja, nesse sentido, a rede leva maior vantagem sobre o colchão. Nesse sentido, é importante mencionar que dentro da área de enfermagem, nós lidamos sempre com todos os tipos de casos, e nos pacientes que ficam muito tempo deitados em leitos, eles geralmente apresentam feridas no corpo, que a gente chama de ‘lesões por pressão’. Essas feridas podem decorrer de vários fatores, sendo o calor e a pressão que o corpo exerce sobre a superfície onde se encontra as mais comuns”, complementou.

Para Ramos, o estudo vai auxiliar principalmente as pessoas que estão acamadas dentro de seus próprios domicílios, uma vez que faz com que os custos com internações fiquem otimizados, já que o material que compõe as redes é bem mais barato que os utilizados nos colchões.

“Nas unidades hospitalares, nós já temos a adoção das redes para os pacientes indígenas. Porque também não oferecer o mesmo para os não indígenas? Isso ajudaria de alguma forma a desafogar leitos, que é um dos principais problemas da atualidade. Temos também a questão dos pacientes acamados em casa, que também passam a contar com essa vantagem, já que o custo de uma cama está em torno de R$ 1.500, e um colchão hospitalar na faixa de R$ 600. Aí a pessoa usa tudo, mas surgem as feridas, abrindo a necessidade de internação em unidade hospitalar. Diferente de quando você coloca uma pessoa em uma rede, que faz com que esse paciente leve um tempo maior para o surgimento de uma ferida, faz que há uma menor pressão do corpo sobre a superfície no leito. Fora a economia, já que a rede mais acessível está custando algo em torno de R$ 100”, salientou.

VENDAS – Seja pela necessidade imediata ou para apenas dar um toque mais refinado ao ambiente de casa, a rede é praticamente um item obrigatório nos lares roraimenses, tendo procura maior durante os períodos de férias e também no carnaval.

“A venda se dá mais por sazonalidade, ou seja, em épocas mais propícias, como no carnaval. Há também muita procura na temporada de férias escolares, principalmente em junho e dezembro”, disse a gerente de uma loja especializada em redes do Centro da capital, Socorro Costa, 53 anos.

De acordo com a gerente, os preços são diversificados, variando conforme o tamanho e o tipo de material utilizado. “Aqui há redes de todos os tamanhos e tipos, desde a pequena ao tamanho maior. A faixa de preço varia entre R$ 30 até no máximo R$ 240”, informou. (M.L)