Cotidiano

Projeto ensina português a imigrantes

A iniciativa do professor José de Oliveira começou ano passado e hoje já conta com mais de 120 alunos

Para facilitar a adaptação de venezuelanos que imigraram para o Brasil, surgiu o projeto “Português para Todos”. As aulas acontecem todos os sábados no terminal do Caimbé, e atualmente tem mais de 120 alunos. A ideia foi do professor José de Oliveira, 65, formado em Letras e natural de Iguatú, no Ceará.

Há anos residindo em Roraima, o educador sempre tenta criar projetos de ensino para pessoas com dificuldade de acesso ao sistema de ensino. Para realizar o “Português para Todos”, o professor conta com a parceria da Pastoral Universitária da Diocese de Roraima. Voluntários o ajudam a ministrar as aulas em revezamento.

No sábado pela manhã são promovidas aulas para os jovens, e à tarde duas turmas intensivas com três horas diretas. As aulas iniciaram dia 04 de agosto do ano passado e a primeira turma se formou em dezembro, com 25 alunos. Destes, cinco foram para Minas Gerais em parceria com uma organização não governamental.

Recentemente, o projeto realizou a formatura de cinco turmas no sábado, 16, com uma festa para cerca de 120 alunos. As classes contavam com alunos venezuelanos, haitianos e cubanos. Mas também são atendidos brasileiros que queiram se atualizar nas regras gramaticais ou que nunca aprenderam a ler e escrever.

As inscrições para novas turmas já estão abertas e até o momento, 48 solicitações de matrícula já foram feitas, afirma Oliveira. Para se inscrever, o interessado deve ir ao terminal do Caimbé e preencher o formulário gratuitamente. Na ocasião, o estudante recebe um ‘kit-aula’ que contém caneta, lápis, borracha e apontadores.

Segundo o professor, a aula começa pelo abecedário. Em seguida, o aluno conhece as pronúncias e depois a introdução da formação de palavras e as classes gramaticais. Ao final, os alunos encerram as aulas elaborando textos em português.

ACOLHIMENTO – Para Oliveira, os brasileiros devem abraçar a causa e acolher os imigrantes em geral. Ele acredita que estas pessoas são desfavorecidas pelas políticas públicas e sócio-econômicas em seus países de origem.

O professor afirma que a xenofobia existe e é grave. Ele tem costume de ouvir relatos informando a situação. Segundo o educador, estudantes das turmas de jovens e adolescentes dizem ser alvos desses atos em escolas de Boa Vista.

“Eles vem tomar as aulas de reforço para enfrentar essa barreira. Hoje, estão sendo apontados como referência nas salas e isso nos deixa satisfeitos, afinal, a nossa missão está sendo cumprida”, informa.

Além disso, o professor também é militante da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, conduzindo um trabalho com pessoas envolvidas em prostituição no bairro Caimbé. Oliveira diz que muitas mulheres imigrantes não tem opção de trabalho e acabam recorrendo à prostituição para sobreviverem.

“Por causa disso são descriminadas. Quando mulheres venezuelanas vão aos postos de saúde, elas sofrem preconceito. São chamadas de ‘ochenta’ (80 em português, em alusão ao preço cobrado por programa). Isso magoa. Muitas delas vem aqui e se sentem abraçadas, apoiadas. Elas tem interesse em aprender o português”, informa.

O professor comentou que nas primeiras turmas do projeto havia alunas que eram profissionais do sexo. Depois abandonaram essa prática e voltaram a desenvolver suas atividades regulares. “Tivemos notícia que esses alunos estão trabalhando com carteira assinada em sua área profissional”, afirma o professor. “Não podemos negar esse abraço. Afinal, somos todos filhos de Deus”, declara.

Professores e alunos se dizemsatisfeitos em poder participarÂ

Na escala de benefícios ninguém leva vantagem e todos se sentem satisfeitos. Andreia Barbosa é acadêmica de Secretariado Executivo da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Voluntária nas aulas de português há quase um ano, diz que todos os projetos sociais que visam o acolhimento são importantes.

“É uma satisfação ajudá-los, mesmo que somente com a língua portuguesa. A comunicação é essencial para eles terem êxito profissional e pessoal e superar dificuldades, que não temos como medir. Temos que nos colocar no lugar do outro. Não dá para imaginar o que eles sofreram e continuam sofrendo”, avalia.

Gabriel Oropeza, 52, está em Boa Vista faz nove meses e nunca viera ao Brasil antes de sair de seu país. Ele saiu da Venezuela para tentar um rendimento financeiro. Fazendo o curso de português desde março, espera compreender a língua. “Acredito que eu já melhorei muito a minha forma de falar. Entendo melhor o que dizem os brasileiros e também a forma certa de falar. É muito importante conseguir essas aulas”, explica.

Para Leonardo Rodriguez, 37, há quatro meses em Boa Vista, aprender uma nova língua não é simples. Mas, com empenho e apoio de profissionais, espera ser bem sucedido. “As aulas são boas. O professor Oliveira é muito dedicado. Para tirar dúvidas, qualquer coisa, podemos falar com ele e ele tira as dúvidas. Acho que o português não é difícil, só é complicado. Agora, se colocarmos o coração vamos falar melhor em pouco tempo”, completa.