Cotidiano

Remédios e atendimento psiquiátricos estão em falta

Situação tem colocado pacientes e familiares em risco, já que alguns estão entrando em crise pela falta de remédios e assistência básica

Há mais de seis meses, pacientes com problemas psíquicos estão sem receber medicamentos e atendimento adequado na rede estadual de saúde. Com a falta de remédios essenciais para o tratamento, muitos entram em crise e colocam em risco a própria vida ou a de terceiros.

A recepcionista Sarha Santana tem enfrentado dificuldades com o tio que tem problemas psicológicos e passa a agir com a mentalidade de uma criança quando se sente ameaçado, se tornando agressivo, podendo atacar pessoas ou quebrar objetos que entenda que possam lhe fazer mal. Mesmo tentando manter o parente em casa, ele conseguiu fugir e está nas ruas há uma semana.

“Sem o medicamento, ele começou a apresentar esse tipo de surto e a sair e voltar só no outro dia. Percebemos que não estava como antes e foi se agravando a situação. Procuramos ajuda do Estado e vimos que não haveria de nenhum tipo pela falta de psiquiatras e remédios”, relatou.

Sarha contou que o tio, Richard Silva, de 44 anos, fica nas redondezas da Praça das Águas e Aeroporto, mesmo que more no bairro Centenário, o que dificulta para que a família o encontre com mais facilidade. Em um dos momentos de crise, o paciente conseguiu ser levado até o Hospital Geral de Roraima (HGR) e tomou um sedativo.

“Infelizmente, eles não poderiam fazer mais nada porque não tinha o remédio dele, que é o haldol decanoato, e também não poderiam ficar no hospital, porque se continuasse tomando sedativo, iria morrer”, lamentou. A sobrinha assegurou que Richard faz tratamento no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS III), mas que não há estrutura suficiente para o atendimento por se tratar de um homem de grande porte e não ter o remédio para que seja contido.

O medicamento também serve para a mãe da jovem, que tem esquizofrenia e está sendo controlada em casa, mas também teve crises violentas. Ela destacou que quando estão medicados, ambos são pessoas tranquilas e mantêm a convivência com a família e amigos. 

“Ele precisa de uma internação porque, se continuar nas ruas, vai continuar quebrando as coisas e, se ficar em casa, é capaz de ferir um de nós ou fazer algo pior. Todo mundo ama ele, é uma pessoa carinhosa. As pessoas até ficaram surpresas quando souberam que ele estava assim porque é muito amigo de todos”, afirmou.

Sesau garante que medicamento está em processo de compra

Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que, de acordo com a Coordenadoria Geral de Assistência Farmacêutica (CGAF), o haldol decanoato foi incluído no processo emergencial de aquisição de medicamentos, e aguarda a proposta de empresas que atendam aos requisitos, como valor de mercado compatível.

“Vale ressaltar que ao assumir a atual gestão, o desabastecimento de medicamentos era praticamente total, e não havia nenhum contrato de aquisição de medicamentos aberto, nem atas de registro de preços vigente. Desde então, além do processo anual de compras de medicamentos e materiais médico-hospitalares, foram abertos quatro processos emergenciais para aquisição desses itens”, prosseguiu a nota.

Quanto ao atendimento, a Sesau esclareceu que a unidade dispõe de duas médicas psiquiatras. Uma delas está de férias e os pacientes atendidos por ela estão com agendamento de consultas garantido após o seu retorno. A outra psiquiatra, no entanto, precisou tirar licença médica, o que gerou a falta de atendimento. Porém, a Sesau disse estar trabalhando para solucionar a situação e garantir o atendimento dos pacientes que procuram a unidade.

MINISTÉRIO PÚBLICO – Também por nota, o Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) informou que, por intermédio da Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde, notificará a Secretaria de Estado de Saúde para prestar esclarecimentos a respeito das providências que serão adotadas quanto à falta de medicamentos e de profissionais na unidade de saúde mental.