Cotidiano

Roraima teve maior gasto per capita em saúde, aponta CFM

O gasto médio per capita com saúde do Estado foi calculado em R$ 1.771,13, acima da média nacional, de R$ 1.271,65

Um levantamento inédito realizado pela assessoria técnica do Conselho Federal de Medicina (CFM) aponta Roraima como primeiro colocado no ranking de Despesas com Ações e Serviços Públicos de Saúde. O gasto médio per capita com saúde do Estado foi calculado em R$ 1.771,13, acima da média nacional, de R$ 1.271,65. O número é resultado de uma análise detalhada das informações mais recentes disponíveis, relativas às contas públicas em 2017.

Além de Roraima, tiveram valores per capita acima da média nacional apenas três outros estados: Mato Grosso do Sul (R$ 1.496,13), Tocantins (R$ 1.489,18) e Acre (R$ 1.306,91). Estados com alta densidade populacional e índices elevados de desenvolvimento econômico apresentaram índices menores. São os casos de Mato Grosso (R$ 1.243,84), São Paulo (R$ 1.235,15) e Rio Grande do Sul (R$ 1.207,13).

Frente ao índice de gasto, é de se esperar uma saúde de qualidade. Contudo, considerando as condições de trabalho dos profissionais de saúde e, principalmente, a falta de material nas unidades, Roraima parece estar longe dessa expectativa. A suspensão de cirurgias eletivas no Hospital Geral de Roraima (HGR) e no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN) é o mais recente exemplo da atual conjuntura da saúde estadual.

Na avaliação do 1º secretário do Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRM/RR), Anderson Benetta, é preciso analisar, além do recurso, a forma com que ele vem sendo administrado e implantado. “Não é só questão de dizer que não tem recurso. Ele está sendo aplicado de forma eficiente? Está chegando à população ou está ficando no meio do caminho para outras coisas?”, justificou.

Para Benetta, a crise na saúde tem sido fruto de uma ineficiência das duas últimas gestões, o que inclui contratos que venceram, não foram renovados e, sequer, foram levados adiante. Ele pontuou que o número apresentado pelo CFM é oficial, mas que não tem como dizer se o recurso está chegando onde deve. “Pelo que observamos, até o momento, parece que o principal motivo da crise foi a ineficiência da gestão”, reforçou.

Independente do recurso, o secretário lembrou que a imigração trouxe um impacto na saúde pelos atendidos realizados e que, por não fazerem parte da população, os imigrantes não estão incluídos no censo realizado para o levantamento. Dessa forma, os gastos não condizem com o número de habitantes. Além disso, a conta considerou a população de 2017, que certamente já não é a mesma desse ano.

Benetta relatou ainda que vários pontos positivos na saúde de Roraima devem ser destacados, apesar da crise. “Quando você compara Roraima a grandes estados, como São Paulo e Rio de Janeiro, temos pontos positivos”, disse. Por coordenar a área de oncologia estadual, ele citou a vinda de pacientes que vêm de outras cidades para fazer cirurgias que, em sua terra natal, demoram até meses para acontecer.

A presidente do CRM, Rosa Leal, declarou que por Roraima ser, proporcionalmente, um dos estados com maior número de acidentes de trânsito, os investimentos são altos, uma vez que os pacientes desse tipo de trauma são considerados caros. “Embora a gente intensifique, faça ações e destaque a importância de se prevenir, nossos números ainda são muito altos”, lamentou.

LEVANTAMENTO – As informações levantadas pelo CFM consideraram as despesas em Ações e Serviços Públicos de Saúde (ASPS) declaradas no Sistema de Informações sobre os Orçamentos Públicos em Saúde (Siops), do Ministério da Saúde. Pela lei, cada ente federativo deve investir percentuais mínimos dos recursos arrecadados com impostos e transferências constitucionais e legais. Segundo o apurado pelo CFM, em 2017, as despesas nos três níveis de gestão do país atingiram a cifra de R$ 262,8 bilhões. O montante agrega a cobertura das ações e serviços de aperfeiçoamento do Sistema Único de Saúde (SUS), como o custeio da rede de atendimento e pagamento de funcionários, dentre outras.