Cotidiano

Ruas do Senador Hélio Campos viram rio durante a chuva

Situação causou prejuízos aos moradores da Capital

Bastaram 40 minutos de chuva intensa para o cenário das ruas Alice Maria de Jesus e HC-13, no bairro Senador Hélio Campos, virar um verdadeiro lago. Foi exatamente o que aconteceu após a chuva da tarde de segunda-feira, 27. A reportagem da Folha foi às duas ruas ontem e ainda foi possível encontrar água parada cobrindo enormes buracos nas vias sem asfalto.

Para os moradores, no entanto, a situação não é novidade e se repete anualmente sem qualquer resposta do poder público para providenciar melhorias no local. Em meio aos buracos, uma vala a céu aberto coberta de lixo se estende pela Rua HC-13, que não tem nenhum tipo de escoamento e exala um odor forte.

Quando as ruas ficam alagadas, alguns moradores não conseguem deixar suas casas para levarem as crianças às escolas, porém, para evitar que tenham muitas faltas, os pais tentam encontrar meios entre as águas enlameadas. Eles seguem o percurso descalços e com roupas curtas, até conseguirem chegar em um ponto que não tenha água e trocam de roupa e colocam os uniformes escolares.

A moradora Célia Aparecida da Silva é mãe de dois filhos autistas, que se assustam quando precisam entrar na água para chegar à escola. Ela ainda tem um filho deficiente físico que fica impedido de utilizar a cadeira de rodas porque a água invade as casas.

“Todo ano, mandam tratores para cá e raspam a terra, mas não colocam asfalto. No verão, a gente até acha bom porque fica trafegável, mas os buracos continuam. Nunca veio aqui alguém dizer o que vai fazer definitivamente para arrumar”, disse.

Outro morador, o autônomo Valdones Gomes, afirmou que ao procurar a prefeitura recebe a resposta que não possui recursos suficientes para fazer a recuperação nas ruas do bairro, já que o problema não se concentra em um único ponto. Já a estudante Josina Damasceno, moradora da rua há seis anos, contou que os filhos já deixaram de frequentar a escola por não conseguirem sair de casa e que muitos carros atolam ao tentar passar pela via inundada. 

A filha da vendedora Ivanete Barbosa estuda em uma escola militarizada.

“Eles usam meia branca, então imagina como é passar no meio disso tudo”, contou. Ainda sobre a escola, ela apontou que a direção não permitiu que a aluna entrasse na unidade sem que estivesse devidamente fardada, mesmo que se vestisse dentro do vestiário.

“Nosso sentimento é de revolta. Minha filha não foi para a escola porque a água chegou no meu portão, não tinha como eu andar com ela dentro dessa água nojenta. Aqui [na vala] jogam cachorro morto, lixo, então é uma nojeira completa isso”, enfatizou a moradora Leidiane Andrade. (A.P.L)


Casas são invadidas pela água

Os danos causados pela tempestade de segunda-feira, 27, não se limitaram ao bairro Senador Hélio Campos e se estenderam até o bairro Pintolândia, onde moradores tiveram as casas invadidas pela água da chuva. A moradora Miriam Faustino contou que nos minutos em que saiu e voltou de casa, percebeu que perdeu materiais como a cama, sofá e que os guarda-roupas estão a ponto de desabar.

“Moro na antiga S-12 há quatro anos e nunca vi asfaltamento aqui. Os moradores mais antigos dizem que isso sempre acontece. Mas quando vi a água entrando em casa, foi desesperador. Tenho idosa em casa e a gente teve que colocar ela em cima da cama. Nem no banheiro podíamos ir porque aqui é mais baixo”, lamentou.

Miriam comentou ainda que só existe um bueiro em toda a rua, que não comporta a demanda de chuva na região, principalmente após a limpeza que a prefeitura fez com a retirada de galhadas, o que resultou em um entupimento devido ao barro levado pelas máquinas utilizadas.

A jornalista completou dizendo que a situação é constrangedora, principalmente porque causa o sentimento de revolta por levar em consideração que a Companhia de Águas e Esgoto de Roraima (Caerr) esteve no local para fazer a instalação da rede de esgoto, mas que até o momento não foi feita nenhuma ligação nas casas, e que os moradores teriam procurado respostas, mas não conseguiram nada.

“Minha casa alagou menos que as outras porque a água bateu nas nossas canelas, então conseguimos recuperar algumas coisas. Tive que deixar meu carro longe e andei até em casa para ver o que conseguíamos fazer”, relatou. 


Prefeitura ignora questionamentos sobre ruas

A reportagem da Folha entrou em contato, por meio de e-mail, com a Secretaria Municipal de Comunicação para solicitar informações a respeito da situação das ruas Alice Maria de Jesus e HC-13, no bairro Senador Hélio Campos, e da antiga S-12, no Pintolândia, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem.


Governo pede compreensão da população

Em relação à rua S-12, a Secretaria de Infraestrutura (Seinf) informou que a conclusão dos serviços de implantação do sistema de esgoto está programada para julho de 2019. A Seinf salientou que os moradores devem esperar o comunicado oficial da Companhia de Águas e Esgoto de Roraima, para fazer a ligação do esgoto da residência para a rede coletora, sob pena de estar cometendo crime ambiental. 

O Governo do Estado pede a compreensão da população, destacando a importância da implantação da rede de esgoto em toda a cidade, que terá grandes reflexos na saúde e qualidade de vida da população.

A Secretaria de Educação (Seed) informou que não procede a informação de que os alunos estão sendo impedidos de entrar na escola por conta de fardamento sujo em dias chuvosos. Esclareceu também que as unidades de ensino orientam os alunos a estarem sempre com o uniforme completo e limpo, mas entende a situação dos bairros da cidade e abrem exceção para troca de roupa nos dias de período chuvoso. Os pais que estiverem com dúvidas quanto à entrada dos alunos podem ir à escola para verificar junto à direção o que está ocorrendo. (A.P.L)