Saúde e Bem-estar

Risco de morte por febre amarela pode ser identificado mais cedo

Pesquisa desenvolvida pela Universidade de São Paulo (USP) e Instituto Emílio Ribas identificou quatro fatores que indicam risco de morte em pacientes com febre amarela.

Idade avançada, contagem de neutrófilos elevados (células sanguíneas que fazem parte do sistema imune inato), aumento da enzima hepática AST e maior carga viral são os marcadores que apontam o risco de uma evolução grave da doença. O estudo destaca que, de cada 100 pessoas que são picadas por mosquitos infectados com o vírus da febre amarela, 10% desenvolverão sintomas da doença, e 30% podem morrer.

“O que mais nos deixava perplexos é que a maioria dos pacientes chegava bem, apenas se queixando de mal-estar, dor pelo corpo e febre, e, dias depois, alguns deles morriam. É uma doença de evolução muito rápida. Era um desafio determinar, na entrada do paciente, qual seria aquele que evoluiria muito mal da doença e qual seria aquele que teria uma evolução mais favorável. Foi isso que a gente abordou nesse trabalho”, explicou Esper Georges Kallás, professor do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP.

Outros 19 pesquisadores, apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), assinam o estudo, publicado na revista científica Lancet.

Kallás aponta que amostras para análises foram coletadas em pacientes durante o surto de febre amarela em São Paulo.

Diagnóstico

Após a confirmação do diagnóstico, o estudo se concentrou em 76 pacientes (68 homens e 8 mulheres). Dos 76 pacientes, 27 (36%) morreram durante o período de 60 dias após a internação hospitalar.

Os pesquisadores puderam constatar também que a coloração amarelada na pele dos doentes, característica conhecida da doença, não é um marcador de severidade no momento da entrada do paciente no hospital.

“A coloração amarelada, consequência da destruição das células do fígado pelo vírus, só aparece em casos em piora avançada. Em nosso estudo, nenhum dos pacientes que veio a óbito chegou no hospital ostentando coloração amarelada”, disse Kallás.

Para identificar três dos marcadores, excluindo a idade, são necessários exames em laboratório. 

“O mais difícil é a carga viral do vírus da febre amarela que é um ensaio experimental. Ele foi desenvolvido para esse estudo, e não é popularizado. Não está disponível em laboratórios de análise clínicas habitualmente”, explicou. Ele avalia que a disponibilidade do exame auxiliaria não só na identificação do marcador, mas no próprio diagnóstico.

Em casos de novos surtos de febre amarela, os resultados encontrados no estudo permitem agora que os médicos façam uma triagem de pacientes nos momentos de entrada nos serviços de saúde, identificando aqueles que potencialmente podem evoluir para casos mais severos. Assim, é possível antecipar internações nas unidades de terapia intensiva, aumentando as chances de sobrevivência.

Outra consequência da descoberta é a hipótese de que remédios antivirais podem auxiliar no tratamento da febre amarela. Segundo o pesquisador, outros projetos já avaliam medicações que poderiam ser usadas neste caso.

“Pela primeira vez é descrita a associação da quantidade de vírus [carga viral] com doença pior”, disse Kallás.

Fonte: Agência Brasil