Cotidiano

Servidores da Eletrobras e  da Cerr cruzam os braços

Motivos são diferentes, mas a quinta-feira foi de paralisações por parte dos funcionários do setor energético em Roraima 

A manhã de quinta-feira, 30, foi marcada por duas mobilizações coordenadas pelo Sindicato dos Trabalhadores em Indústrias Urbanas de Roraima (Stiurr). A primeira deflagrou a greve por tempo indeterminado de servidores da Companhia Energética de Roraima (Cerr), devido ao atraso de quase dois meses de salários, e ocorreu no Centro Cívico, em frente à Assembleia Legislativa de Roraima. 

A segunda ocorreu na avenida Ene Garcez, de frente a Eletrobras Distribuição Roraima, começando pela manhã e perdurando ao longo da tarde. Ela consistiu em mais uma paralisação contrária ao leilão da Boa Vista Energia, que foi arrematada pela Oliveira Energia, empresa com sede em Manaus que opera geradores de usinas termelétricas.

Além disso, ambas as mobilizações são contrárias à Medida Provisória 884/2018, conhecida como ‘MP do saneamento’, assinada pelo presidente Michel Temer no dia 6 de julho. A medida incentiva a concorrência igualitária entre empresas do setor público e privado no tratamento de esgotos e abastecimento de água 

Funcionários da Cerr estão sem salário desde julho

A deflagração de greve de servidores da Companhia Energética de Roraima (Cerr) contou com a adesão de cerca de 50 dos quase 500 funcionários da empresa. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Indústrias Urbanas de Roraima (Stiurr), Gissélio Cunha, ainda não é possível apontar o número exato de servidores que estão em greve, pois muitos não puderam comparecer à mobilização em frente à Assembleia. Entretanto, ele mencionou que haverá uma concentração dos servidores no mesmo local na manhã de hoje, 31.

“Nesta quinta, nós demos uma atenção dividida entre Cerr e Eletrobras por serem duas questões muito importantes e que merecem atenção urgente. Entretanto, sexta é o dia que estaremos em peso em frente à Assembleia. Funcionários da Companhia estão sofrendo, com alguns que sequer possuem dinheiro para abastecerem seus carros, e já estão há dias impossibilitados de trabalhar por não terem condições de arcar com o transporte. Um verdadeiro caos”, relatou.

Nuria Mota trabalha na Cerr há sete anos e contou que os servidores já estão acostumados com os salários atrasados. Ela falou que os pagamentos de todos os meses do ano passado foram feitos com atrasos e que, neste ano, só três meses foram pagos dentro do prazo.

“Estamos acostumados com esses atrasos, e isso prejudica todo mundo. Muitas pessoas estão endividadas, com aluguel atrasado, juros bancários e com necessidades básicas sendo feitas em trocados. Eu mesma não sei como explicar para minhas filhas sobre o porquê de nossa qualidade de vida ter caído tanto. Essa greve é um último suspiro, para que a governadora olhe para nós. A Cerr virou um cabide de emprego, e isso prejudica todo mundo”, afirmou.

OUTRO LADO – A Folha entrou em contato com o Governo do Estado, mas não recebeu resposta até o fechamento desta matéria. (P.B)

 

Cerca de 200 funcionários da Eletrobras paralisaram atividades 

A paralisação de atividades também abrangeu os funcionários da Eletrobras Distribuição Roraima, que contou com adesão de mais de 200 funcionários. Sobre isso, o presidente do STIU, Gissélio Cunha, explicou que o termo ‘privatização’ sequer pode ser aplicado ao que está acontecendo com a Eletrobras, uma vez que o leilão não dá brecha para o incentivo à concorrência.

“Quando se privatiza algo, é preciso incentivar a concorrência para ver quem oferece o melhor serviço. Neste caso, é uma empresa que oferecerá todo o serviço, e que vai querer obter lucro. Para isso, ela vai aumentar o valor das contas de energia e com certeza irá retirar os serviços de localizações remotas, por darem mais prejuízo do que ganho para uma empresa privada”, explicou.

Para o funcionário há 38 anos da Eletrobras, Raimundo Nonato, o risco de demissão em massa é evidente e as comunidades indígenas e ribeirinhas poderão ter o fornecimento de energia cortado. “A empresa ganhadora poderá demitir 20% dos funcionários já no seu primeiro ano ao assumir a Eletrobras. Mas a venda do serviço de distribuição é um desastre para toda a sociedade. O capital privado é perverso e trabalho em cima do ‘verde’. A empresa não trabalhará mais para ter prejuízo, como oferecendo seus serviços em comunidades ribeirinhas e indígenas, que poderão ficar no escuro”, afirmou.

OUTRO LADO – Em nota, a Eletrobras Distribuição Roraima informou que a paralisação foi pacífica, ocorrendo dentro dos termos acertados junto ao Sindicato dos Trabalhadores em Indústrias Urbanas de Roraima (Stiurr). Também frisou que os funcionários estão trabalhando normalmente nesta sexta-feira, 31. (P.B)

Sindicalistas avaliam ‘MP do saneamento’ como inconstitucional

Aproveitando os temas relacionados à Cerr e Eletrobras, as mobilizações colocaram em discussão a Medida Provisória 844/2018, conhecida como ‘MP do saneamento’, que visa incentivar a competitividade entre a esfera pública e privada, através da obrigação de ambas a passar por processos licitatórios para início de quaisquer obras referentes a esgotos e água potável. Até então, um contrato do tipo só é necessário na esfera pública no caso da contratação de empresa terceirizada.

Segundo a diretora jurídica do Sindicato dos Trabalhadores em Indústrias Urbanas de Roraima (Stiurr), Patrícia Oliveira, essa medida seria um primeiro passo para a privatização da distribuição de água em todo o Brasil.

“Todo cidadão tem direito de ter acesso à água. Nesse momento, queremos conscientizar a Caerr [Companhia de Águas e Esgotos de Roraima] e principalmente a população para os riscos de privatização da distribuição da água. A MP vai facilitar empresas privadas a competirem com a distribuição pública, que não visa lucro. Esse é o primeiro passo para empresas estrangeiras passarem a visar nossa rede hidrográfica e secá-la. Estaremos em todo o Brasil discutindo o tema, e queremos levar essa discussão para o Congresso Nacional”, contou. (P.B)