Cotidiano

Servidores da Eletrobras paralisam novamente contra a privatização

Mobilização foi um protesto contra o leilão das empresas de energia do Norte e Nordeste

Na manhã dessa quarta-feira, 25, os servidores da Eletrobras Distribuição Roraima deram início a mais uma paralisação nos serviços para protestarem contra o processo de privatização de seis concessionárias de energia no Norte e Nordeste do país. Os funcionários se reuniram na frente da sede da empresa, localizada na Avenida Ene Garcez. Os serviços essenciais foram mantidos, mas a adesão foi completa. A previsão é que a paralisação dure 48 horas.

A mobilização já estava prevista como uma medida para tentar impedir a venda das distribuidoras de Roraima, Amazonas, Rondônia, Acre, Piauí e Alagoas que serão leiloadas pelo valor de R$ 50 mil cada uma. O Projeto de Lei nº 77/18, de autoria do Governo Federal, que determina a venda das empresas, está aguardando votação no Senado Federal, o que deve ocorrer em agosto após o recesso legislativo.

Nas últimas semanas houve uma movimentação no Judiciário em relação ao leilão das distribuidoras, que em um primeiro momento deveria ocorrer no dia 26 de julho, mas foi suspenso por uma liminar concedida pela juíza Maria do Carmo Freitas Ribeiro, da 19ª Vara Federal do Rio de Janeiro, em resposta à ação da Associação dos Empregados da Eletrobras (AEEL), que apontou falta de conclusão do processo licitatório, uma vez que ainda não há autorização legislativa para a venda das distribuidoras.

Depois o presidente do TRF2, desembargador federal André Fontes, suspendeu a liminar. A AEEL recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) e, no começo desta semana, a presidente Cármen Lúcia negou o pedido e decidiu manter o leilão.

Nesta quinta-feira, 26, a Companhia Energética do Piauí (Cepisa) será a primeira das seis distribuidoras a ser leiloada. O leilão das outras cinco deve ocorrer no dia 30 de agosto. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Urbanitários de Roraima (STIU-RR), Gisélio Cunha, a paralisação de 48 horas foi mobilização dos funcionários contra a venda da distribuidora do Piauí, portanto, a previsão é que ocorram novos protestos de acordo com o cronograma de vendas.

“Aqui em Roraima nós temos uma situação diferenciada porque a privatização aqui começou já em janeiro do ano passado, quando o Governo Federal tirou a concessão da CERR [Companhia Energética de Roraima] e passou essa responsabilidade para a Boa Vista Energia. A CERR atendia os 14 municípios do interior. Hoje a Boa Vista Energia atende os 15 municípios, são 165 mil clientes, 116 mil clientes na capital, 48 mil clientes no interior”, disse o presidente do STIU.

Gissélio Cunha informou também que a preocupação dos funcionários da Eletrobras e da Eletronorte não se resume a demissão em massa que pode ocorrer, mas também com o aumento na tarifa de energia, fornecimento de comunidades indígenas e ribeirinhas do interior de Roraima e a ligação do Linhão de Guri. 

“Nós sabemos que Roraima é o único sistema isolado do país. O Governo vai tentar privatizar as seis distribuidoras. A gente sabe que nosso sistema é isolado, a energia importada que vem da Venezuela. Atualmente a Venezuela atende 80% da demanda os outros 20% é gerado por termelétrica, o custo é três vezes mais do que a hidrelétrica”, completou.

Para o sindicalista, a privatização da empresa não faz sentido justamente por não ter ligação com o Sistema Interligado Nacional (SIN), o que caracteriza ainda mais os possíveis impactos com a venda da distribuidora. “A solução para Roraima é interligar ao Sistema Nacional, a gente sabe que não há vontade política porque se arrasta há mais de duas décadas. Se privatizar a energia vai aumentar. Mas por que vai aumentar? Hoje existe um acordo entre os dois países, Brasil e Venezuela, onde a Venezuela atende o mercado. Se privatizar, a iniciativa privada não tem como fazer esse acordo com o país, ela vai fazer o quê? Expandir o serviço com termelétrica. Hoje, em média, a energia da Venezuela custa R$ 238 o megawatts, o da termelétrica custam em média R$ 700”, ressaltou.

O presidente do STIU-RR pediu o apoio da população para aderir às manifestações que estão sendo feitas para barrar todo o processo de venda. Além das paralisações, lideranças sindicais estão sendo enviadas até Brasília para conversarem com políticos e tentar reverter a situação.

Por fim, Gissélio disse que o embate para ligar o sistema de energia com o Linhão de Tucuruí é puramente questão política. “Lembrando que somos sistema isolado, para concluir essa obra de ligar o sistema demora pelo menos 18 meses, logo, levando em consideração o período eleitoral, deve se estender nos próximos três ou quatro anos, se tiver boa vontade política dos governantes que forem eleitos”, finalizou. (A.P.L)