Política

Sindicatos estão divididos com proposta da ALE

Uma parte aceita mesmo sem acreditar que é a melhor saída e outra se opõe totalmente

FABRÍCIO ARAÚJO

Colaborador da Folha

Servidores públicos se concentraram no plenário da Assembleia Legislativa, nessa quinta-feira, 8, a fim de participar da discussão em torno de um projeto de lei que seria apresentado para que o dinheiro do Instituto de Previdência de Roraima (IPER) fosse depositado diretamente na conta dos servidores e com este dinheiro fossem pagos os salários atrasados.

A proposta foi apresentada no final da tarde de terça-feira, 7, pelo presidente da Casa, deputado Jalser Renier (SD), em uma reunião com os sindicatos dos servidores (Sintraima, Sindpol, Sintag, Sindape Agepen, APBM e Sinter). Na ocasião, o parlamentar prometeu que o projeto seria apresentado no dia seguinte, em sessão ordinária.

A proposta dividiu os servidores e as mulheres de militares, que estão acampadas há 10 dias, na frente do Palácio Senador Hélio Campos. Uma parte acredita que não é a melhor saída, mas não há outra opção diante da situação que os servidores se encontram.

“Eu não trabalho, dependo da renda do meu esposo e hoje estou a favor, mas não por aceitar, é pelo simples fato de nossa necessidade”, disse Joyce Ingrid, esposa de um militar que está há quase noventa dias sem receber salário. Ela relatou ainda à reportagem da Folha que enquanto estava acampada e seu marido trabalhando na segurança do Estado, sua casa foi assaltada.

“O que estamos passando é uma humilhação, ir para uma tenda e sair da nossa cama; estamos deixando nossa casa, nossos filhos, deixando tudo, sendo humilhadas, tendo que pedir esmolas para sobreviver. Não queremos essa proposta de bom coração, mas é a única opção que estão nos oferecendo”, disse Amanda Teixeira, aos prantos.

Outra parte dos servidores e esposas de militares se opôs totalmente à proposta por não terem uma garantia de que o dinheiro será reposto, como é o caso de Jeane Lopes, casada com um policial militar que está prestes a se aposentar. “Fomos encurraladas. O dinheiro do IPERR é a aposentadoria de nossos maridos e qual a garantia que temos? Falta muito pouco para meu marido se aposentar”.

Já o agente penitenciário, Andrei Finn, afirmou que não consegue acreditar nas promessas sem ter nenhuma garantia. “A categoria decidiu que não aceitava porque não temos garantia jurídica, político não cumpre com o que promete, se cumprissem nós não estaríamos aqui atrás dos nossos salários”.

Sessão é encerrada e enfurece servidores

As sessões na Assembleia Legislativa iniciam normalmente às 9h, segundo horário regimental, mas há semanas a Casa enfrenta dificuldade para conseguir quórum e as sessões nem chegam a iniciar.

Como foi prometido pelo presidente, deputado Jalser Renier, era esperado que o projeto de lei, que seria a solução para os servidores com salários atrasados, fosse apresentado na última sessão, ou seja, ontem, mas a falta de quórum continua prejudicando os trabalhos do legislativo. Somente 12 deputados, dos 24, marcaram presença no painel, e mais uma vez não houve sessão.

O presidente Jalser se quer chegou a marcar presença no painel durante os 32 minutos que os servidores esperaram no plenário, sem que outros representantes, que estavam marcados como presentes na casa aparecessem para a sessão.

Às 10h32 a sessão foi suspensa por falta de quórum e os servidores levantaram das cadeiras e começaram a gritar, pedindo por compromisso e reclamando da situação. Eles gritavam: “Não temos o que comer em casa e eles no bem bom”. Além de palavras de ordem que diziam: “Iperr não”.

“Já vemos que algumas coisas já mudaram em relação ao que foi acertado. Era para ter quórum e deveria ter sido conversado hoje e ter colocado a proposta em pauta. Nós precisamos acatar o posicionamento dos servidores que disseram não”, disse o presidente do Sintraima, Francisco Figueira.

Já a representante do movimento de mulheres de militares, Jeane Lopez, classificou o recuo dos deputados como uma atitude ‘covarde’. “Um bando de covarde. Nossos maridos continuarão trabalhando na rua, prestando serviço à sociedade, sem receber, e eles empurrando com a barriga. É revoltante! Eu saio daqui hoje totalmente revoltada com os representantes que nós temos”.

OUTRO LADO – A reportagem entrou em contato com a assessoria da Assembleia Legislativa para saber o posicionamento do presidente da Casa, em relação às manifestações ocorridas ontem e o motivo do deputado não ter comparecido à sessão após ter anunciado que haveria apresentação e votação de um PL para definir o pagamento dos servidores, mas até o fechamento desta matéria não obtivemos resposta.