Política

Telmário Mota entrega a presidente do Senado carta de Maduro

Carta tem pedido para abrir a fronteira; Fechamento vigora desde 23 de fevereiro e tem causado prejuízos econômicos a Roraima

O senador Telmário Mota (Pros) entregou uma carta do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ao presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (DEM-AP), pedindo apoio para o restabelecimento das relações entre os dois países e a reabertura da fronteira venezuelana.

O roraimense é presidente da subcomissão temporária da Venezuela na Comissão de Relações Exteriores do Senado.

O fechamento da fronteira por Maduro vigora desde 23 de fevereiro e tem causado perdas diárias milionárias ao comércio na cidade fronteiriça de Pacaraima, aonde os venezuelanos iam para comprar alimentos e outros produtos.

Na carta a Davi Alcolumbre, com tradução juramentada, Nicolás Maduro inicia dizendo que a Venezuela é ameaçada “permanentemente pelo governo dos Estados Unidos com uma intervenção militar, ao mesmo tempo em que impõe à nossa economia um severo, arbitrário e injusto bloqueio, com o objetivo de forçar uma mudança de governo pela força”.

Maduro diz que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) “lamentavelmente” tem rompido com a tradição de relações de harmonia, fraternidade e respeito mútuo ao adotar “uma política inamistosa com a Venezuela e seu governo constitucional, violando sistematicamente o sagrado princípio de não interferência em assuntos internos dos Estados”.

O presidente da Venezuela pede que o Senado brasileiro seja porta-voz dos interesses de seu governo para “restabelecer uma relação bilateral amistosa e respeitosa entre nossas nações”.

Maduro considerou “muito positivo” o envio de uma subcomissão do Senado para acompanhar a situação da Venezuela e suas relações com o Brasil, citando o encontro de Telmário com ele e outros integrantes do governo.

Segundo o líder venezuelano, após a conversa com Telmário, ele decidiu atuar pela “reabertura dos postos fronteiriços, sob regras claras a serem acordadas entre ambas as partes, com um espírito construtivo, de cooperação, de boa vizinhança e de complementação econômica”.

“Por tal motivo, peço apoio de Vossa Excelência para estabelecer uma mesa de trabalho binacional, com participação do Senado do Brasil, para concretar as regras de convivência e respeito que nos permitam proceder a reabrir a fronteira, como gesto compartilhado de boa vontade”, diz.

Maduro lembra na carta as vantagens de uma normalização e procura mostrar boa vontade.

“Tem-me expressado o senador Temário Mota que é de especial interesse para o Estado de Roraima o saudável restabelecimento de nosso intercâmbio comercial, econômico, humano e cultural”, diz o presidente venezuelano.

“De igual maneira, ordenei fazer todos os esforços para superar as adversidades que ocasionaram o ataque criminal a nosso sistema elétrico nacional, para restituir, no menor prazo possível, nossa cooperação em matéria de energia elétrica com o Estado de Roraima, como sempre tem sido meu desejo. Conte o senhor e o Brasil todo com meu dedicado compromisso nestas decisões”, completa. Para ele, “nenhuma diferença ideológica ou política, pode colocar-se por cima da paz e a unidade dos povos de nossa América Latina e Caribenha”.

Portador da carta, Telmário Mota defende uma reaproximação entre os dois países. 

“Roraima está em colapso econômico e social”, diz o senador. Mais de 80% da energia elétrica consumida pelo Estado vêm da Venezuela, cujo sistema está em funcionamento precário desde 7 de março. De lá para cá, já foram três grandes apagões no território venezuelano com reflexos no Estado brasileiro. “Eles querem a pacificação e abrir o diálogo”, acredita o parlamentar.

Segundo ele, desde o fechamento da fronteira, Roraima tem um prejuízo diário de 1,5 tonelada em suas exportações. O Estado, ainda de acordo com o senador, fica completamente isolado à noite. Como não há acesso pelo lado venezuelano, a única saída possível seria pelo Amazonas, mas a rodovia que liga os dois Estados fica fechada à noite. Ele também defende uma solução para os imigrantes que chegaram da Venezuela.

“Em 12 meses, gastamos R$ 265,2 milhões com acolhida de venezuelanos em recursos federais. Isso é o dobro do que o Brasil gastou no Haiti de 2004 a 2007”, explica.

Telmário diz que uma possível saída emergencial será discutida, na próxima semana, entre os governadores de Roraima, Antonio Denarium (PSL), e de Bolívar, Justo Nogueira. Para ele, o presidente Bolsonaro precisa olhar com mais carinho para o Estado onde recebeu, proporcionalmente, a segunda maior votação em sua eleição. 

“Ele diz que o Brasil está acima de tudo. Está nada. Está abaixo do interesse de mercado dos norte-americanos”, critica (com informações da Reuters). 

*COM INFORMAÇÕES DA REUTERS