Cotidiano

Término do ano letivo em Mucajaí é antecipado

Conforme prefeitura de Mucajaí, ano letivo da rede municipal tem previsão de retorno somente para fevereiro de 2019 devido a atraso salarial de servidores e falta de transporte escolar

O ano letivo da rede municipal de ensino em vilas e comunidades do município de Mucajaí foi suspenso na última quarta-feira, 31 de outubro, com previsão para retorno em fevereiro do próximo ano. O motivo é o atraso de salários de servidores municipais, que já estão há dois meses sem receber e a falta de transporte escolar, cuja frota municipal foi totalmente paralisada no dia 25 do mês passado.

A suspensão das aulas do calendário escolar de 2018 gerou revolta entre pais e servidores em comunidades, que irão realizar uma manifestação em frente à Prefeitura de Mucajaí, nesta quarta-feira, 7. Uma das coordenadoras do ato, a servidora estadual e mãe de aluno da Vila do Apiaú, Sueli Bezerra, contou que a suspensão das aulas é um desrespeito com alunos e servidores.

“A secretária municipal de Educação e membros da sua equipe, veio aqui na Vila para encerrar as aulas deste ano, com retorno previsto somente para fevereiro de 2019, quando será finalizado o ano letivo 2018. O mesmo foi feito em todas as comunidades do município. Infelizmente, nossa realidade é complicada. Isso é falta de compromisso com o aprendizado das crianças, com muitas que não sabem sequer ler. Além disso, sem salários, os professores ficam também desmotivados”, contou.

Quanto à rede estadual de ensino no município, a situação é igualmente dramática. Sueli explicou que alunos da Vila são os únicos que estão tendo aula normalmente, e que aqueles que dependem do transporte por morarem em vicinais, estão indo para a aula quando conseguem carona, de forma esporádica.

“Aqui na escola estadual da vila, está funcionando só para os alunos que moram aqui de Apiaú, pela parte da tarde. Os outros que têm transporte vem por conta. Está tudo quase parando de vez, porque muitos funcionários de lá não recebem há três meses. Só os professores efetivos recebem em dia”, afirmou.

A produtora rural e moradora da Vila Apiaú, Tatiane Corrêa, contou que seus sobrinhos estão afetados por essa situação, e que a mobilização desta quarta-feira, buscará encontrar um diálogo junto ao poder público municipal.

“Não houve uma mobilização, manifestação ou revolta que motivou esse encerramento. Tudo isso foi repentino para todos nós, e acreditamos que é um desrespeito ao próprio aluno, que não foi avisado, e teve o seu ensino interrompido. Convidamos toda a população do município a estar reunida em frente à Prefeitura na quarta, pois precisamos buscar esse diálogo”, afirmou.

Procuradoria diz que interrupção das aulas é necessária

O procurador-geral do município de Mucajaí, Francisco Feliciano, falou à Folha que as últimas parcelas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) vieram abaixo da dívida que o poder público possui junto aos servidores e terceirizados, que é de R$ 800 mil por mês.

“Ficamos chateados sim em ter que interromper o ano letivo. Mas na nossa análise, não há uma maneira melhor para podermos trabalhar com as dívidas que possuímos. Se mantermos as aulas, teremos mais dificuldades em pagar salários, o que pode afetar o ano letivo de 2019 também”, disse.

Ele explicou que a situação do interior do município é agravada ainda mais pelo fato de praticamente todos os servidores em comunidades serem seletivados, além de ter contratos de transportes escolares com atraso de pagamentos.

“Na sede do município, as aulas continuam. Isso se deve ao fato de que os servidores efetivos de Mucajaí estarem aqui, e, independente de qualquer coisa, continuam sendo funcionários do quadro geral. No interior, praticamente todos os servidores são seletivados, o que deixa a situação mais delicada. Eu acredito que a população tem todo o direito de se manifestar. Entretanto, esse quadro é irreversível, pois já comunicamos a interrupção em todas as vilas. Essa é uma dificuldade financeira que estamos sentindo desde abril, e precisaremos do recesso para estabilizá-la”, frisou o procurador-geral. (P.B.)