Inovação e Tech

Metodologia Jamaicana de desenvolvimento parental serviu de modelo

Estudos mostraram que crianças que participaram do programa, quando adultas, tiveram melhor desempenho escolar

As visitas de casa em casa do Programa de Visitação Domiciliar, da Prefeitura de Boa Vista, agora são feitas de bicicleta. A mudança começou a valer em janeiro, quando a prefeita Teresa Surita fez a entrega de 100 bicicletas às servidoras do município que atendem as crianças na primeirissima infância – fase que vai da gestação aos 3 anos de idade.

Antes, as profissionais contavam com as vans dos Centros de Referência e Assistência Social (CRAS), para se deslocarem até o primeiro endereço a ser visitado. O difícil era seguir para as próximas casas. Ou iam a pé ou esperavam o transporte retornar. Com as bicicletas elas têm mais autonomia, o que tornou os atendimentos bem mais ágeis. E ainda tem o quesito saúde.

“Essas bicicletas facilitaram muito, porque hoje conseguimos fazer as visitas com mais agilidade. Sem contar com os hábitos saudáveis. Eu era muito sedentária. Hoje me sinto muito bem, faço caminhadas na praça, coisa que eu não fazia e a bicicleta só me fortaleceu”, disse a visitadora do Cras Centenário,  Adrielli Alencar. 

A cada 15 dias, ela e as colegas têm a missão de acompanhar mulheres grávidas e crianças de até 3 anos de idade para incentivar um maior vínculo entre pai, mãe e filhos. Além de conversas e muito apoio, as visitadoras levam brinquedos desenvolvidos especialmente para ocasião. Em Boa Vista, mais de 1.600 famílias são atendidas pelo programa, realizado por meio dos Centros de Referência e Assistência Social.

Para a visitadora Paloma Oliveira, fazer parte deste trabalho de desenvolvimento infantil em Boa Vista é um privilégio. “Estamos fazendo com que as famílias interajam mais com a criança. As atividades que levamos vai se refletir no futuro, porque são atividades que têm um objetivo, que é desenvolver habilidades da criança e fazer com que a família tenha um vínculo afetivo maior com os filhos”, declarou.

É Paloma que acompanha a pequena Yasmin Rodrigues, de 1 ano, filha da dona de casa Laís da Costa, de 23 anos. A mãe é só elogio ao programa: “É uma menina muito esperta para a idade dela. É uma ótima experiência para cada criança. Ela [a visitadora] deixa a atividade e eu pratico quase todos os dias com ela [filha]”, disse.

Metodologia Jamaicana de desenvolvimento parental serviu de modelo para programa

 A metodologia Reach Up and Learn, aplicada na Jamaica há 24 anos, chegou a Boa Vista em 2017. Os visitadores aplicam com as famílias técnicas de fortalecimento parental e desenvolvimento infantil, por meio de brinquedos recicláveis. As crianças são estimuladas a desenvolver habilidades cognitivas e motoras e os pais a fortalecer o vínculo com os filhos. É uma brincadeira com intencionalidade.

 Boa Vista foi a primeira cidade brasileira a desenvolver a metodologia, hoje aplicada com 1.600 famílias em suas casas e, ainda, com 665 famílias nos próprios Centros de Referência. Todo esse trabalho é acompanhado de perto pela USP, que fez de Boa Vista um campo de pesquisa. O resultado futuramente dirá quais os impactos positivos na vida das crianças assistidas. 

 Na Jamaica, após 20 anos da implantação da metodologia, estudos mostraram que crianças que participaram do programa, quando adultas, tiveram melhor desempenho escolar, mostraram-se mais felizes, revelaram ter QI mais alto, melhor saúde mental e comportamento menos violento. Também alcançaram uma renda melhor do que aqueles que não se beneficiaram do programa na infância.