OPINIÃO

A Crônica da crônica

Escrever uma crônica parece, à primeira vista, coisa simples. Afinal, trata-se de olhar e capturar cenas do cotidiano e transformá-las em um texto. No entanto, como se sentar diante da página em branco e escrever narrando coisas da vida, isso dá trabalho, porque é um desafio, é necessário ter sensibilidade e acima de tudo paciência e um olhar atento.

Você tem que ter pensamentos de cronista para não relatar sem provocar emoção ou reflexão ou humor, mas interpretar com os olhos apurados as coisas da vida, pequenas alegrias, tristezas, o sentimento escondido, o fim de semana com a família reunida em volta da mesa, ou a escassez do pão. A crônica é muitas vezes, uma confissão, um ato de desabafo, disfarçado de narrativa, um lugar onde o cronista podem ser eles mesmos com todas as suas dúvidas e certezas, onde ele se joga sem medo e deixar fluir e extravasar o que vem na mente e no coração.

Assim, o cronista continua escrevendo, refletindo e criando sua própria identidade de escritor estabelecendo um elo com os seus leitores e de tudo que ele vê em sua volta pode se transformar em uma crônica, ou seja, ele falará do lugar onde ele vive, ou como personagem ou como mero observador.

E este aprendiz de cronista só desejava falar do lugar onde vivia, da sua pátria, mas distante dela estou eu, sou migrante em terra alheia, sou estrangeiro em solo brasileiro, sou um jovem que cruzou a fronteira de Santa Helena de Uairen, passou por Pacaraima e chegou em Boa Vista, o lugar onde vivo, sou um estudante que também sou aprendiz do idioma que se mistura ao meu para preencher a folha do caderno, que por tantas vezes o que estava escrito nela eu apaguei, da forma que se eu pudesse, apagaria a história que levou tantos dos meus compatriotas a deixarem tudo para trás em busca de sobrevivência. Venezuela, o lugar onde vivi. Boa Vista, o lugar onde vivo. Dois extremos, duas histórias, e quem sabe duas outras crônicas.

Aluno: Sebastian David P. Agrega, da 3ª série do Ensino Médio do Colégio Militarizado Professor Camilo Dias.

(Educação Linguística guiada pela Sequência didática do Caderno do Docente “A ocasião faz o escritor”, do gênero crônica da OLP, com a temática “O lugar onde vivo”.)