Eita! Nem acabou o mês de julho e já estamos por fazer as (con)vivências do A-Gosto das Culturas Populares e Tradicionais. Este ano, será realizado a sua 8ª edição, cuja centralidade é “Brincar em Rede”. A cada ano, o A-Gosto mostra-se um evento capaz de agregar novas perspectivas socioculturais, as quais sobressaem o afeto e a circularidade dos saberes e fazeres, além dos compartilhamentos das experiências (as dores e as alegrias) culturais que cada um vive no seu segmento cultural.
Para isso acontecer se faz necessário a articulação de pessoas que tecem e costuram uma vasta programação cuja abrangência se espraiam por outros municípios, como é o caso de Cantá, Caracaraí e Mucajaí, por exemplo. É importante destacar que a programação contempla atividades culturais, como: o café com os mestres e as mestras, rodas de conversas, Festas de Rua, Tambor dos Cravos, Cultura Alimentar Tradicional, Samba do Mestre Zé Pilintra, entre outras.
Caro leitor ou leitora, se você chegou até aqui, eu creio que deva ter surgido alguns questionamentos, entre eles: Culturas Populares e Tradicionais? Como e quando iniciou o A-Gosto? Quem organiza? Quem faz parte desse movimento sociocultural?
Primeiro, se faz necessário sublinhar que não somos um grupo fechado ou homogêneo. Ao contrário! Uma das características das e nas culturas populares é a sua pluralidade e diversidade. Elas, em certa medida, as culturas populares e tradicionais são um reflexo da identidade e da história de uma sociedade, pois englobam práticas, crenças, costumes, expressões artísticas e conhecimentos que são transmitidos de geração em geração. Essas culturas desempenham um papel vital na preservação da identidade cultural e na promoção da diversidade sociocultural.
Grosso modo, podemos inferir que as culturas populares e tradicionais têm suas raízes na história e na vivência de um povo. Por conseguinte, são manifestações vivas de experiências, lutas e conquistas das gerações passadas. Dessa forma, em um mundo cada vez mais globalizado que busca homogeneizar a cultura, as culturas de base populares e tradicionais atuam como formas de resistência, singularmente ao destacar as particularidades e as singularidades de cada grupo, em muitos casos, tendo por referência a figura dos mestres e das mestras, os quais contribuem significativamente como guardiões e transmissores dos conhecimentos, das práticas e tradições. De certa forma, a figura dos mestres e das mestras, não só ensinam habilidades e técnicas específicas, mas também inculcam valores e fomentam a coesão sociocultural.
Como é possível perceber, a figura dos mestres e das mestras é ponto central das e nas vivências do A-Gosto das Culturas Populares e Tradicionais. Por conta disso, ouso a dizer que a gênese do A-Gosto tem duas datas simbólicas, as quais constituem como embrionário para o que viria ser nomeado por A-Gosto das Culturas Populares e Tradicionais. A primeira foi a realização em 2015 do 1º Encontro de Mestre e Mestras da Cultura Popular do Estado de Roraima. Este encontro aconteceu no pátio da Igreja Católica São Raimundo Nonato, no bairro Santa Luzia. Já o segundo aconteceu em 2016, por ocasião da realização do Seminário das Culturas Populares, ocorrido no Espaço Cultural União Operária, da Universidade Federal de Roraima (UFRR).
Foi a partir do Seminário das Culturas Populares que sentimos a necessidade, primeiro de nos organizarmos coletivamente, e depois em criar um espaço de interação, afetos e trocas de experiências. Daí, em 2017, um grupo de fazedores, gestores, mestres e brincantes das Culturas Populares e Tradicionais, inspirados no desejo e ideário de brincar em rede, definiu realizar um evento cultural. Para isso, escolheu-se, como data simbólica, o dia 22 de agosto, Dia do Folclore Brasileiro. Assim, nasceu o primeiro A-Gosto das Culturas Populares e Tradicionais. Ele aconteceu na Praça Velia Coutinho e contou com brincadeiras de roda, capoeira, exposição e outras atividades.
Mister destacar que, a partir dessa atividade do A-Gosto das Culturas Populares e Tradicionais, o grupo entendeu que ele servia de estratégia para fortalecer o próprio segmento, além de exigir uma articulação permanente dos grupos. Para isso, uma forma a articulação encontrada foi a constituição da Confluência Roda de Prosa em Roraima. A sua configuração evidencia um rosto multicultural mediante a presença de diferentes segmentos, comunidades, grupos e movimentos culturais. Atualmente a Confluência Roda de Prosa, atualmente, é composta por 21 grupos, comunidades, coletivos, dentre eles: artesãos (costura e artesanato), povos de terreiros (Umbanda e Candomblé), quadrilheiros juninos, capoeira, Comunicação Popular, Grupo de Tradições Culturais Venezuelanas, Gestores culturais e pesquisadores.
Ao longo desses anos, o A-Gosto tem servido como elo e, ao mesmo tempo, instrumento de ressignificação identitária e fortalecimento dos movimentos culturais de Roraima. Até mesmo, no período da Pandemia da Convid-19, o grupo não deixou de realizar atividades, porém, elas aconteceram de forma remota. Já para 2024, ao celebrar a 8ª edição do “Brincando em Rede”, a programação promete refletir um mosaico vibrante por meio das tradições, crenças, ritmos e expressões que se entrelaçam, formando, dessa forma, uma identidade plural e multifacetada, como é a própria característica do estado de Roraima.
Oxalá! Possamos ter mais incentivos e valorização das culturas de base comunitária e tradicional.
* Francisco Marcos Mendes Nogueira.
Historiador. Pesquisador e Brincante das Culturas Populares e Tradicionais. Membro da Confluência Roda de Prosa em Roraima e do Coletivo Encruzilhada: Gestão Cultural & Projetos. E-mail: [email protected]