A habitação de uma família de migrantes

Moro numa vila, em que tudo é muito pequeno, pois são várias habitações onde residem muitas famílias, cada uma com as suas histórias e modos de viver, mas que tentam manter o ambiente em harmonia e paz para uma boa convivência com todos os moradores. Uma realidade tão diferente da que vivíamos há alguns anos, antes da crise política e financeira na Venezuela.

Os cômodos da nossa habitação são pequenos e apertados, nesse espaço moram cinco pessoas, quando estamos todos juntos, no caso à noite e aos finais de semana, as vezes nos esbarramos uns nos outros. Muitas vezes já vi meus pais se consolando e se fazendo de fortes para não transparecer isso para nós, seus filhos, pois tínhamos conforto, uma vida diferente da que temos aqui, mas não reclamamos, porque quando olhamos para trás, de quando começou a crise migratória para o Brasil, estamos muito melhor aqui.

 Apesar de todas as dificuldades e apertos, há algo especial nesse pequeno lugar, a nossa convivência familiar, o amor e cuidado um com o outro que nunca mudou. O lugar pode até ter mudado, mas o sentimento não. É assim, a grande família venezuelana que vive numa vila, que por ter outros venezuelanos, é como se fosse um pedacinho da “nuestra Venezuela”.

Nós ajudamos um ao outro a suportar a saudade, uma palavra nova para nós, e até mesmo a suportar as dificuldades, sempre sorrindo na esperança de que tudo um dia vai melhorar, porque Boa Vista nos acolheu e tem nos deixado sonhar. E sobre a escola, aqui é um espaço gigante que eu tenho comparado ao lugar onde moro, é também onde aprendo o português com a professora que nos acolheu/acolhe sem fazer diferença entre brasileiros e migrantes.

E você, querido leitor, sabe apreciar as pequenas coisas que a vida te dá sem reclamar? Saberia medir o quanto não é fácil, para nós migrantes, deixarmos o nosso país, o conforto da nossa casa, e sair na incerteza, se dará certo ou não, para um outro país tão diferente? Parou para pensar quantos estudantes chegam às escolas e se sentem perdidos até encontrar outro que também está perdido, e juntos se acharem? Quero te dizer que, o apertadinho com amor e em família é melhor que o espaçoso sem família e sem amor, seja aqui em Boa Vista, o lugar onde vivo, ou na minha amada Venezuela.

Andrea Valentina M. Gonzalez, aluna da 3ª série do Ensino Médio do Colégio Militarizado Professor Camilo Dias.

(Educação Linguística guiada pela Sequência didática do Caderno do Docente “A ocasião faz o escritor”, do gênero crônica da OLP, com a temática “O lugar onde vivo”.)