A imperfeição da pressa e a serenidade da calma

Sebastião Pereira do Nascimento*

A pressa é inimiga da perfeição. Ela é o principal impulso das tragédias humanas. Ela expressa a ausência da calmaria e o mais absoluto sentimento de impaciência. A pressa é intolerante com o estado da alma, ela não admite nenhuma sobriedade, e muitas vezes sacrifica os humanos diante das atitudes expressas.

A pressa transmite a ideia de que somente a rapidez é capaz de alcançar resultados satisfatórios. Ela carrega o sentido de que o mundo em que vivemos é demasiadamente pequeno. Ela não leva em conta nada que não seja realizada com celeridade, ainda que não seja marcada pela eficiência. De modo que a pressa em diversos momentos é uma atitude irracional.

Como uma prisão abstrata, a pressa é o cárcere da alma, a qual é capaz de destruir os valores mais significativos do ser humano e obriga ele a negar sua natureza. A pressa tende a quebrar regra, inibir o conforto, desprezar a elegância, discordar da perfeição, descartar a certeza e desistir das boas intenções.

A pressa só é salutar quando realizada com acautelamento. Ela só é fecunda quando é isenta da efemeridade; situações que promovem a satisfação humana de forma rematada. Do contrário, a pressa é uma precipitação que repousa sobre a vida, que nos leva à decadência do espírito, degrada os alicerces da felicidade, nega a vida natural e inibe a afirmação pessoal.

Muitas vezes o ser humano apressado, com seus desejos sôfregos e sua vontade voraz, acredita que está ditando coisas satisfatórias para a humanidade ou pensando ser alguém diferente. Mas, na verdade, ele está praticando insatisfações e se fazendo igual a todos que cultuam as mesmas fugacidades. Ele não pensa que, ao agir aceleradamente, está dividindo a existência humana em dois mundos: o mundo calmo, advertido e circunspecto e o mundo que caminha pelo domínio da insensatez, onde o apressado se aprofunda nas tarefas imperfeitas, fantasiosas e incompletas.

Obviamente, quando construímos uma coisa com calma, colocamo-nos mais atenção ao momento presente, daí tendemos errar menos. Enquanto numa coisa realizada com pressa, há inclinação para que erramos substancialmente. Diante disso, podemos reafirmar que a pressa é realmente inimiga da perfeição. Sendo a coisa imperfeita permitida apenas num mundo imperfeito e improvisado, onde tudo é programado e executado sem as devidas reparações.

Sobre a imperfeição orientada pela pressa, ela é puramente estérea; enquanto a perfeição praticada com anuência da serenidade, torna-se um estado de transformação em constante processo de modificação, alteração, mudança, renovação, ressignificação, transição, metamorfose ou transmutação. Assim é a perfeição, um processo desacelerado de transformação, também chamado de evolução. Por isso, convém seguir a vontade sossegada e refutar a vontade expressa.

O apressado vive sempre privado da sua vontade e submetido à vontade de outrem. Além disso, a pressa leva o atribulado cair nas falhas e nas incorreções, visto que ao agir precipitado o sujeito se inclina a fazer as coisas sem as minúcias necessárias. Também, quando alguém diz que o sujeito precisa fazer algo com rapidez, não é algo que precisa ser feito subitamente, mas algo que deve ser feito com agilidade e eficiência.

Quando alguém pronuncia que anda devagar porque já teve muita pressa, essa pronúncia celebra as lições de maturidade, representada pela calma de agir devagar. Obviamente, sem o afã da pressa, que leva o ser humano a preferir as coisas efêmeras, na maioria das vezes, coisas que promovem a vida de maneira fugaz e dolorosamente findável.

O apressado está sempre vivendo na impontualidade. Está sempre desperdiçando o tempo com coisas infrutíferas e perdas irreparáveis, isto é, está sempre vivendo intensamente uma vida desgastante e atribulada. Algo que nos leva a uma vida sem sentido, à procura do vazio e à espera do nada. Isso revela que perdemos muito tempo ajustando algo abstrato realizado sob o domínio da impaciência.

O apressado está sempre vivendo na impontualidade. Está sempre desperdiçando o tempo com coisas infrutíferas e perdas irreparáveis, isto é, está sempre vivendo intensamente uma vida desgastante e atribulada. Algo que nos leva a uma vida sem sentido, à procura do vazio e à espera do nada. Isso revela também que perdemos muito tempo ajustando algo abstrato realizado sob o domínio da impaciência.

Por outro lado, devemos nos conscientizar que o ato de esperar é próprio da natureza humana, a qual é incorporada em nós desde a nossa concepção. Já a pressa é um impulso adquirido potencialmente lesivo àqueles que negam a sua condição natural. Pois, na medida que nos ocuparmos de acelerar as coisas indevidas, na mesma proporção diminui a nossa capacidade natural de ouvir, de ver, de refletir, de falar, de aprender, etc.

Portanto, a pressa passa ser uma idiossincrasia de algumas pessoas, como aquelas que agem sem moderação, sem equilíbrio, sem parcimônia e sem a sobriedade que a natureza humana requisita. Em tais casos, essas pessoas, com ímpeto de celeridade, estão sempre expondo suas fraquezas nas formas de imprecisão, imperfeição, irregularidade, etc., donde gastam muito tempo com coisas frívolas e acabam ficando sem tempo para viver as coisas que podem trazer bons significados humanos.

E dentro desse desassossego, é claro que a pressa excessiva que tanto nos escraviza, condena-nos às pessoas desregradas, sem a paciência necessária para reflexão. Consequentemente, vivemos numa assembleia contra aqueles que passam apressados por nós, sempre em busca do nada, frente a uma vida. E não importa o destino e a razão: chegar primeiro nalgum lugar é o que interessa. Todavia, diante dessas práticas aceleradas é que muitas vezes o indivíduo se revela um ser humano incompleto ou até mesmo sofre uma fatalidade.

De outra maneira, sem a obediência da pressa, podemos manifestar uma condição de vida mais promissora e agradável, de modo que nada adianta querer apressar as coisas, pois tudo tem o seu tempo. Saibamos que aquele que age guiado pela paciência e perambula pelo caminho da calma, torna-se um sábio e feliz: ele é sábio porque age com desvelo, e é feliz porque é digno da felicidade. E tanto a sabedoria como a felicidade tornam-se reais para ele, porque ele pratica suas ações sem a interveniência da pressa. Rousseau reforça essa premissa quando diz que: “de todas as minhas maneiras de viver, caminhar com bom tempo, num lugar bonito, sem pressa, e ter por fim da caminhada um objetivo agradável, isso é o que mais me agrada.”

*Filósofo, escritor e consultor ambiental.