*Por Keyu Jin
A história econômica chinesa não é, em absoluto, uma narrativa de triunfos constantes, sem nenhum revés. Ela também serve de lição. Em 1978, o ano em que começaram a ser implementadas as grandes reformas, a economia chinesa estava em ruínas e o povo chinês atolado na pobreza. Nas décadas seguintes, centenas de milhões de pessoas saíram da miséria, e o país saiu do atraso econômico para se tornar o elemento mais central e mais conectado da economia global.
No entanto, as ambições econômicas da China custaram caro. Para impulsionar a rápida industrialização e subsidiar o investimento na produção, as famílias sofreram com salários abaixo do valor de mercado e baixas taxas de retorno em sua poupança. As regras e os regulamentos eram flexibilizados sempre que preciso para estimular o crescimento do PIB. A concorrência desleal aumentou a distância entre alguns poucos privilegiados com contatos no governo e um número imenso de pessoas sem o mesmo acesso.
Em sua pressa para se modernizar, a China aceitava produtos de qualidade abaixo do padrão, imitações, falsificações e investimentos feitos com pouca consideração pela eficiência e consequências. Eu me lembro de ter visto restaurantes novos que pareciam palácios, ricamente decorados com mármore, mogno e colunas gregas pintadas de dourado, cujos garçons, em trajes elegantes, aguardavam alinhados na entrada. Mas eu raramente via clientes lá dentro.
Será que o custo e os sacrifícios valeram a pena? Não há como avaliar alternativas contrafactuais; simplesmente não sabemos. Mas podemos procurar conhecer melhor as forças que possibilitaram esses resultados e continuam influenciando o povo chinês ainda hoje, para o bem e para o mal. O sacrifício pelo sucesso da família ou da comunidade é uma prática que atende às normas sociais. Não é bom nem ruim — é apenas algo aceito por todos.
Apesar dos seus consideráveis avanços, a economia da China atualmente enfrenta grandes desafios, alguns deles criados por ela mesma. O aparato que foi tão eficaz para colocá-la na liderança em novas áreas da tecnologia, como a de veículos elétricos e a de energia limpa, também gerou uma produção excessiva de aço e painéis solares que saturou tanto o mercado interno quanto o internacional. Um Estado sensato precisa saber quando permanecer nos bastidores e afrouxar o controle, deixando que a economia siga seus fluxos e refluxos naturais. Precisa segurar as rédeas com a mão mais leve e com mais habilidade, principalmente nesta nova era de conhecimento e informação.
*Keyu Jin é pós-graduada em Economia pela Harvard University e autora de A Nova China (Grupo Editorial Edipro).