É tempo de caju, minha terra tem riqueza no solo e na narrativa do meu povo. O lavrado está todo penteado, e os cajueiros decoram as fotografias do meu Estado. O rio Branco, que vai ficando seco, revela sua nudez exposta. O vento sopra os corpos e faz “fiu-fiu”. Passarinhos cantam, e borboletas amarelas voam. Boa Vista gargalha alto, com aquele toque de calor típico, pois o verão já colore a pele dos roraimenses. As férias estão chegando, e o ano, em breve, terminará. Juntos, sepultaremos mais uma trajetória, riscando o último mês do calendário. Será um velório rápido, sem tempo para missa de 7º dia, pois um ano novo nascerá, trazendo consigo uma nova fase ou uma nova oportunidade. Entretanto, antes disso, precisamos pensar na maratona que vivemos de janeiro a dezembro.
Chegou o momento, senhoras e senhores, de fechar a conta! É hora de fazer o balanço geral desse percurso que chamamos de vida — essa coisa imensa e imprevisível, sem forma tangível, mas de uma importância que todos reconhecem. Tem dias em que nos sentimos xexelentos, capengas, desprovidos de talentos. E há outros em que enfrentamos o sol de peito aberto, porque é nossa beleza que brilha. Somos todos únicos, uma potência diante do vasto mar da existência. A vida segue como uma sequência de mortes e ressurreições diárias: comédia, tragédia, romance, estresse, fofocas, cretinices e, acima de tudo, R-E-S-I-L-I-Ê-N-C-I-A, acompanhada de respirações profundas.
Vamos aproveitar esse gostinho de aquecimento global misturado à ansiedade virtual e social para pensar. Preparemos um bom café e reflitamos sobre as metas traçadas em janeiro, no começo do ano, e o que aconteceu até aqui. Na minha particularidade, eu pulei as ondinhas do rio Branco, comi doze acerolas e um punhado de paçoca. Quando a fada indígena anunciou o ano- novo, prometi a mim mesmo cuidar mais de mim, porque havia deixado que outros me ferissem. Minha maratona do ano foi correr atrás do amor-próprio, cuidar do meu estado físico, mental, financeiro, intelectual e espiritual. Planejei com disciplina, criei metas, fiz contratos pessoais, pedi ajuda ao Homem do Céu e fui à luta. Embriaguei-me de sonhos e propósitos.
Houve quedas, choros noturnos, vontade de desistir e desligar a luz da vida. Mas sempre me alimentei de literatura; meu espinafre foi a poesia. Enterrei cada mês, mas não fui enterrado. Fiz de tudo para não ser vítima da maldade alheia e nem perder meu réu primário. Eu escrevi meu próprio destino. Escolhi quais sementes plantaria, a música que dançaria e as coisas que mastigaria. Fiz de mim o meu próprio tesouro. Cuidei de mim como dizem que devemos cuidar do amor. Criei limites pessoais e aceitei minha impotência diante de algumas coisas.
Hoje, ao pisar em dezembro, com 90% das metas cumpridas, sinto orgulho. Estou em paz mental e espiritual, com um sorriso bobo de felicidade, terapia em dia, conta bancária gordinha, coração saudável e sem dor. Vivi a vida à minha maneira, pintando os pequenos momentos com as cores que amo, mastigando minhas próprias vontades. Esqueci as receitas alheias e criei a minha, com sabores da infância e novos gostos que me agradam. Assim, aprendi a receber tanto a felicidade quanto a tristeza com a mesma leveza.
Não foi fácil a maratona do ano, mas posso dizer, com sinceridade, que viver para si é algo mágico e transformador. E você? O que fez do ano, ou o que o ano fez de você? A felicidade cantou na sua janela, ou preenchemos apenas o formulário do adoecimento mental? Vamos encarar o próximo ciclo com coragem, autenticidade e a disposição de sermos a melhor versão de nós mesmos ou nos colocaremos no papel de vítimas? Senhoras e senhores! Como anda o seu amor-próprio? Você está cuidando do seu bem mais precioso? Lembre-se de que esse bem precioso é VOCÊ! Não se apague… brilhe e seja VOCÊ!
Ass.: Histayllon Santos ( Aspirante a escritor)